Woody Allen nunca mais irá conseguir fazer ou distribuir filmes com o apoio dos grandes estúdios de Hollywood ou mesmo com plataformas de streaming como a Netflix ou Amazon.

Apesar de sempre ter desmentido e não ter sido acusado após duas investigações médicas e judiciais, a imagem de Allen voltou a ser afetada com o documentário da HBO "Allen v. Farrow", à volta do escândalo sexual que o persegue desde 1992: o alegado abuso da sua filha Dylan quando tinha sete anos.

Woody Allen e Soon-Yi Previn reagem ao controverso documentário "Allen V. Farrow"
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O consenso entre as pessoas ouvidas pela publicação "The Wrap" [artigo de acesso pago] é que o realizador de 85 anos se tornou demasiado radioativo para a indústria.

Um produtor diz que nenhum estúdio legítimo vai querer aproximar-se e terá de encontrar financiamento para os seus filmes junto de investidores europeus "para o resto da sua vida".

Allen também poderá ter problemas em convencer atores de renome no mercado americano a trabalhar consigo.

O seu filme mais recente, "Rifkin’s Festival" (a aguardar data de estreia em Portugal), junta principalmente atores europeus como Elena Anaya, Louis Garrel, Sergi Lopez e Christoph Waltz, com Gina Gershon, Richard Kind e o colaborador habitual Wallace Shawn entre os poucos americanos no elenco.

"É impossível que algum grande estúdio se vá relacionar com ele porque não vão conseguir atrizes para trabalhar com ele. A reputação do estúdio seria arrasada pelo #MeToo. Não vale a pena. Neste momento, com a 'cultura do cancelamento', ninguém vai arriscar", resume o mesmo produtor.

O responsável de uma distribuidora que já lançou um filme do realizador nos EUA reforça esse ponto de vista: "Estamos na cultura do cancelamento e ninguém se quer arriscar. Acho que ninguém vai querer. Woody Allen é tecnicamente inocente, não fez nada de errado, mas agora estamos num mundo onde se é culpado até que se prove a sua inocência”.

"Para quê trabalhar com pessoas que são assim tão radioativas?", pergunta o reitor da Dodge College of Film and Media Arts, da Universidade de Chapman (Califórnia), o único que não comentou o caso sob anonimato.

Qualquer pessoa que tenha sido acusada de transgressão na era do #MeToo a partir de 2017 vai encontrar o mesmo problema: "Vai ser muito difícil para o Woody, [o realizador] Brett Ratner e [o ator] James Franco - pessoas assim, seja certo ou errado, inocente ou culpado - conseguirem o apoio de um grande estúdio".

Galloway recorda que Allen não foi acusado mesmo depois das duas investigações, mas isso não é relevante no contexto do #MeToo, em que as pessoas não estão a ser responsabilizadas apenas por comportamentos criminosos: "Esse já não é o padrão. Agora é: 'a pessoa é culpada de explorar mulheres, quer seja criminoso ou não? Nesse caso, não queremos fazer negócios com ele'".

Mesmo antes da pandemia ou do documentário da HBO, nenhum grande distribuidor ou plataforma de streaming estava a lançar os filmes que o realizador consegue fazer na Europa.

Para lá de Allen, Galloway explica que estas empresas fazem parte de grandes conglomerados económicos em que não há margem de manobra para erros deste género e têm acionistas avessos à potencial má publicidade: a estratégia passa sempre por "evitar o escândalo antes que chegue a si".

O reitor nota ainda que, no caso específico do realizador, embora os filmes sejam relativamente baratos (menos de 25 milhões de dólares), também não são propriamente grandes sucessos de bilheteira, o que menos justifica um estúdio arriscar a reputação em troca de um lucro pequeno ou mesmo um grande prejuízo.

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