QuandoFederico Álvarez escolheu Claire Foy para protagonizar o seu mais recente filme na saga "Millenium", não teve dúvidas de que a atriz de 34 anos lidaria facilmente com a sua transição para o papel de uma intrépida pirata informática.

No fim das contas, a atriz britânica já tinha experiência com um papel de mulher aguerrida, com sangue frio nas veias quando é necessário: a rainha Isabel II da Inglaterra.

"Um dia, vi 'The Crown' e disse a mim mesmo: 'aí está, esta é Lisbeth', porque, embora possa soar muito louco, os desafios de interpretar alguém como Lisbeth ou Isabel são muito parecidos", disse Álvarez à agência AFP numa entrevista telefónica.

O realizador referia-se ao papel da Isabel II na aclamada série da Netflix e à mais recente interpretação da "hacker" sueca Lisbeth Salander em "A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha".

"São personagens muito similares", diz o realizador uruguaio. "Ambas não se permitiram ser elas mesmas, sempre reprimiram as suas emoções".

"A rainha nunca se permitiu mostrar que estava irritada ou triste, sempre manteve uma cara neutra diante de diferentes situações... e Lisbeth tãopouco se permite mostrar as suas próprias emoções, esconde-as nas profundezas do seu ser", acrescentou.

"A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha" segue Salander - a rapariga com o dragão tatuado, previamente interpretada por Rooney Mara em "Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres" (2011) e ainda por Noomi Rapace na trilogia de filmes suecos -, que é contratada para entrar num programa de defesa que pode controlar os códigos de todas as armas nucleares do mundo.

O filme é baseado no romance de David Lagercrantz, que assumiu e deu continuidade à série "Millenium" após a morte do autor de Stieg Larsson.

Estreou esta quinta-feira em Portugal e na sexta-feira nos EUA.

Ficção e realidade de mãos dadas

O filme não recebeu as melhores críticas.

A revista Variety advertiu que os seguidores da história ficariam dececionados com a forma como Salander foi retratada.

"A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha" (...) aposta mais em impressionantes explosões externas do que na dor interna, reduzindo Salander a uma figura peculiar como a de uma Batgirl, suavizando o seu feminismo, praticamente eliminando a sua estranheza e lançando um americano para que os EUA possam salvar o mundo", afirma a publicação.

Já o site que agrega críticas de cinema Rotten Tomatoes deu 64% ao filme, indicando que o consenso dos críticos era que o filme "destila os elementos de ação (...) para um relançamento [da saga] menos complexo, embora razoavelmente eficaz".

Álvarez, que dirigiu em 2016 o thriller "Nem Respires", explicou que, como acontece com qualquer romance, era difícil adaptar para o cinema a obra de Lagercrantz.

"Você tem de sacrificar muitas coisas ou vai ficar com um filme de oito horas", recordou.

O realizador acrescentou que usou o argumento de Steven Knight (da série "Peaky Blinders") e adaptou-o para torná-lo mais pessoal.

"Basicamente, foi torná-lo sobre segredos e vergonha, sempre sobre a família, qualquer que seja a história, o tamanho que ela tenha, mesmo que as apostas sejam altas - sempre tem que ser sobre você, algo muito próximo da principal personagem", disse.

No caso de Lisbeth, a história de fundo refere-se à irmã de Lisbeth, de quem está separada, interpretada por Sylvia Hoeks, que não via desde que fugiu do seu abusador pai, um criminoso russo.

Hoeks esclareceu que "A Rapariga Apanhada na Teia de Aranha" foi filmado justamente quando o movimento #MeToo surgiu e foi atingido por todas as acusações de abuso sexual que surgiram naquele momento.

"Era um tema muito quente", lembrou. "Na verdade não mudámos o argumento, mas para mim foi como se a história e a realidade de repente andassem de mãos dadas".

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