"O coronavírus está a afetar muito a indústria do entretenimento e acredito que vai continuar a ficar pior durante o próximo mês", disse à Lusa o gestor Ben Rovner, CEO dos estúdios Space Station Casting Studios, em Hollywood. "Estamos a receber cancelamentos a torto e a direito. Vamos ver como isto evolui, mas estamos em território desconhecido e o sentimento público está por todo o lado".

Poucos dias antes da declaração do estado de emergência nos Estados Unidos, que ocorreu na passada sexta-feira, as atividades da indústria já estavam a ser severamente afetadas. Vários estúdios suspenderam filmagens, programas de televisão passaram a ser gravados sem público e as cadeias de televisão cancelaram as apresentações das séries a estrear depois do verão.

A atriz portuguesa Marta Gil, que estava com um volume de trabalho elevado em Los Angeles, explicou à agência Lusa que a situação mudou de forma drástica. "Sinto o fluxo de trabalho a diminuir", afirmou, "com muito menos audições" e a perda de um trabalho que foi cancelado por causa da pandemia.

Mesmo quando as filmagens continuam, "a vida no próprio 'set' também mudou", disse a atriz, contando que há agora um foco importante na lavagem das mãos e comportamentos preventivos. "É uma nova realidade".

O 'mayor' de Los Angeles, Eric Garcetti, emitiu uma diretiva com medidas para mitigar a propagação do vírus na cidade, onde as bibliotecas foram encerradas e os eventos em instalações públicas, com mais de 50 pessoas, estão banidos.

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, já tinha pedido o cancelamento de ajuntamentos com mais de 250 pessoas.

Estas diretrizes levaram ao cancelamento de eventos importantes para o setor, como o Paley Fest, e a Live Nation anulou todo o calendário de concertos.

As grandes agências de talentos fecharam as portas por precaução e adiaram os trabalhos previstos, algo que está a afetar a atriz portuguesa Kika Magalhães, também baseada em Los Angeles.

Além dos vários cancelamentos, Magalhães viu adiada a estreia do seu novo filme, "Castle Freak", para data indeterminada. A produção deveria estrear a 16 de abril no festival de cinema de Chattanooga, Tennessee, que já não vai acontecer, por causa da pandemia da COVID-19.

O ilusionista português Helder Guimarães estava em pré-produção de novos projetos e ficou com tudo suspenso, "sem datas previstas para retomar", confirmou à Lusa.

Embora considerando que a maioria dos projetos da indústria estão a ser apenas adiados e irão retomar quando a situação for controlada, Guimarães sublinhou que pequenas empresas e pequenos produtores serão os mais afetados.

"Muitos profissionais do teatro vivem de salário em salário", o que significa que não têm margem de manobra, e "vão ter de aguentar sem rendimentos nos próximos meses".

O mágico referiu que estes "terão de encontrar outras formas de aguentar e tentar recuperar as produções", sendo as alternativas obter empréstimos e ajuda financeira ou vender os projetos antes de serem executados.

Guimarães disse acreditar que a situação ainda "vai escalar" e lembrou que os Estados Unidos não têm sistema de saúde pública, o que poderá dificultar a resposta à pandemia. Ele próprio, seguindo as recomendações vigentes, está em regime de "distanciamento social" há vários dias.

No meio da incerteza sobre a evolução da pandemia, o realizador independente Gene Blalock, fundador dos estúdios Seraph Films, disse que o plano é "tentarmos ser 'super cautelosos' e trabalhar com equipas pequenas".

"Penso que no mundo indie temos de continuar a trabalhar para sobreviver, apenas tentamos ser o mais cuidadosos possível", disse, "evitar contacto o mais possível, tentar respeitar os espaços dos outros".

Blalock explicou que vai focar-se em trabalho que possa fazer de forma remota, como projetos de pós-produção para outros realizadores.

Na Califórnia, que tem quase 40 milhões de pessoas, há 319 casos de infeção confirmados e cinco mortes por causa da COVID-19, num universo de 2.174 doentes e 51 mortes nos Estados Unidos.

No entanto, um estudo do centro médico Cedars-Sinai estima que o número de pessoas infetadas seja exponencialmente maior, algo que não foi até agora determinado por causa da escassez de testes e restrições no seu acesso, incluindo custos para os doentes.

O novo coronavírus matou pelo menos 5.796 pessoas em todo o mundo desde o seu surgimento em dezembro, de acordo com uma avaliação da AFP às 9:00 de hoje, a partir de fontes oficiais.

Mais de 154.620 casos de infeção foram registados em 139 países e territórios desde o início da epidemia, que se tornou, entretanto, numa pandemia.

Este número de casos diagnosticados, no entanto, reflete a realidade apenas de maneira imperfeita, pois os países têm políticas e critérios de contabilidade mais ou menos restritivos, alerta a AFP.

Desde a contagem de sábado às 17:00, ocorreram 32 novas mortes e 2839 novos casos em todo o mundo.

Esta avaliação foi realizada usando dados coletados pelos escritórios da AFP das autoridades nacionais competentes e informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou no sábado o número de infetados e registou o maior aumento num dia (57), ao passar de 112 para 169 casos, dos quais 114 estão internados.

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