O cineasta Frederick Wiseman será distinguido na 25.ª edição do Festival de Arte Cinematográfica Camerimage com um prémio honorário, pelo trabalho desenvolvido ao longo da sua carreira, anunciou, hoje, a organização do evento em Bydgoszcz, na Polónia.
Segundo o comunicado no 'site' do festival de cinema, os documentários dirigidos por Wiseman, que conta com mais de 40 créditos a nível profissional, "não são fáceis de digerir" e "exigem toda a atenção dos seus espectadores, algo que se torna cada vez mais difícil de alcançar num mundo em constante aceleração".
O galardão será atribuído ao norte-americano numa altura em que o seu primeiro filme, "Titcut Follies" (1967), completa 50 anos e continua a "provocar emoções fortes, provando que a linha entre o primitivo e a civilizado era, é e será sempre muito ténue".
No seu projeto inicial, Wiseman acompanhou o dia-a-dia dos reclusos e pacientes do Hospital Estatal de Bridgewater, um instituto de correção em Massachusetts, nos Estados Unidos, tendo conquistado múltiplos prémios no seu país, bem como a nível europeu.
O festival polaco, a decorrer entre os dias 11 e 18 de novembro, aproveitará também a ocasião para fazer uma retrospetiva da carreira do cineasta, de 87 anos, exibindo uma seleção do seu trabalho, com o próprio Wiseman a subir ao palco para aceitar o prémio de homenagem e a dirigir-se ao participantes no evento, em sessões pós-exibição dos documentários escolhidos.
Estas sessões serão organizadas com o intuito de debater as "abordagens pouco ortodoxas" do realizador - de acordo com o 'site' de notícias da indústria Variety - que promoveu o seu trabalho mais recente, "Ex Libris: New York Public Library", no circuito de festivais, tendo passado por Veneza, Itália, e San Sebastián, em Espanha.
O filme sobre os bastidores da biblioteca pública de Nova Iorque será mostrado este mês em Lisboa, no âmbito do festival DocLisboa, que dedicou uma retrospetiva ao cineasta em 2008.
Durante cerca de 50 anos, Wiseman encabeçou documentários como "Basic Training" (1971), no qual testemunhou como jovens soldados se preparavam para a Guerra do Vietname, "Deaf" (1986), em que examinou como estudantes surdos aprendiam a comunicar com o mundo exterior, "Near Death" (1989), focado na relação entre os funcionários e os doentes terminais de um hospital em Boston, e "In Jackson Heights"(2015), onde retratou a vida dentro do bairro multiétnico de Queens, em Nova Iorque, e que também foi exibido no festival DocLisboa, fora de competição.
Nesse mesmo ano, o seu documentário "National Gallery" (2014) teve estreia nas salas portuguesas de cinema.
Depois de capturar algumas das imagens que irão integrar os seus filmes, Wiseman "entra num processo laborioso de edição e corte, utilizando imagens e sons selecionados cuidadosamente, para moldar o material numa narrativa auto-explicativa, que apresenta a sua experiência pessoal do mundo" sob o qual se decidiu debruçar.
"Frederick Wiseman não acredita numa verdade objetiva [e, para ele], o realizador de documentários pode apenas investigar e descobrir", salienta e concluiu o comunicado que traça o perfil do cineasta, dono de um Óscar honorário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, desde 2016.
O realizador Phillip Noyce ("Salt", 2010, "Jogos de Poder - O Atentado", 1992) e o diretor de fotografia John Toll ("Lendas de Paixão", 1994, "Braveheart: O Desafio do Guerreiro", 1995) irão também receber galardões honorários, na categoria de Lifetime Achievement, do festival de cinema Camerimage.
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