Apesar da ameaça do coronavírus, o diretor do Festival de Cinema de Veneza Alberto Barbera confessou que "não teria concordado em realizar um festival de cinema virtual" e acredita que é chegado o momento de voltar a ver o cinema nas salas.
Em entrevista à AFP, Barbera, que esta quarta-feira (2) inaugura a 77ª edição do festival mais antigo do mundo com menos estrelas e sem público na passadeira vermelha, aceitou o desafio de aproximar o mundo do cinema de Veneza apesar da ameaça do vírus.
P: Por que é que decidiram organizar um festival apesar da pandemia?
R: Não podíamos deixar de comemorar o festival, tínhamos que voltar a um festival físico, cara a cara. Nunca teríamos aceitado realizar um festival virtual, o que já parece uma contradição. Um festival é partilhar no mesmo lugar, entre pessoas que se reúnem para viver a experiência de ver o mesmo filme numa sala de cinema. E tudo o que envolve a participação física num festival.
P: Deseja enviar uma mensagem positiva ao mundo do cinema com este festival? Não é arriscado?
R: Depois de tantos meses de confinamento, é preciso ter coragem de reabrir as salas de cinema, voltar a produzir filmes, fazer bons produtos para convencer o público de que chegou a hora de sair do seu apartamento para voltar aos cinemas. Isso deve ser feito com total segurança, respeitando todas as medidas de segurança, como faremos aqui em Veneza nos próximos dias. Chega de streaming de filmes, perdemos a experiência de ir ao cinema e é altura de voltar.
P: O que houve com os Estados Unidos, país tão pouco representado este ano em Veneza?
R: Três quartos dos realizadores e atores convidados estarão fisicamente presentes em Veneza. Eles vêm de todo o mundo: da China, dos Estados Unidos, da Índia, até de países que ainda estão confinados. Isso é também uma demonstração de que há muita vontade de recomeçar, de mandar uma mensagem de otimismo: chega de isolamento, temos de recomeçar. Hollywood ainda está confinada. Os protocolos de segurança são muito rígidos, nenhum realizador ou ator pode viajar e promover filmes. Além disso, a maioria dos filmes americanos adiou a sua data de lançamento. Estou a falar de filmes feitos pelos grandes estúdios, filmes da Netflix e também da Amazon e da Apple.
P: E o cinema da América Latina?
R: Este ano vamos focar mais numa nova geração de cineastas de todo o mundo. O cinema latino-americano continua presente em Veneza. Há um filme mexicano [em competição], um brasileiro. Há menos porque chegaram menos, em grande parte porque é uma das regiões mais atingidas pela pandemia e muitos países ainda estão confinados. Obviamente esperamos que seja apenas um fenómeno temporário.
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