Após muitas críticas internas e de organizações cívicas que afetaram a imagem pública da empresa, o CEO da Disney Bob Chapek pediu desculpa esta sexta-feira por ter "desiludido" os funcionários com o seu silêncio quando esperavam que ele fosse um "aliado mais forte na luta pela igualdade de direitos".

Em causa está a forma como a empresa lidou com um polémico projeto de lei na Flórida conhecido por “Don’t Say Gay” e considerado homofóbico por vários setores da sociedade: a proposta de lei oficialmente conhecida por "Parental Rights in Education" [Direitos dos Pais na Educação] proíbe o ensino sobre orientação sexual e identidade de género aos alunos desde o infantário até ao terceiro ano da escola primária [cerca dos 8-9 anos] "ou de uma forma que não seja apropriada à idade ou ao desenvolvimento dos alunos, de acordo com as definições do Estado", permitindo ainda que os pais processem escolas e professores a título individual que se envolvam nesses temas.

Aprovado a 24 de fevereiro para Câmara dos Representantes da Flórida e esta terça-feira pelo Senado do estado, o governador Ron DeSantis confirmou que irá assinar o projeto para que se torne lei.

Descrevendo esta sexta-feira o “Don’t Say Gay” como "um desafio a direitos humanos básicos" e não apenas da Flórida, o pedido de desculpas de Bob Chapek surge no auge das críticas ao silêncio após a aprovação do projeto de lei, incluindo por políticos que receberam contribuições financeiras da empresa (que serão agora interrompidas), e depois de ter explicado a meio da semana que esta se tinha oposto de forma privada "desde o início" à legislação e tentado sem sucesso influenciar os decisores políticos, incluindo durante um encontro com DeSantis.

Num humilhação pública, o The Human Rights Campaign, o maior grupo ativista LBGTQ+ nos EUA, também recusara uma doação de cinco milhões de dólares até ver a empresa ter posições que refletissem o "compromisso público" e "trabalhar com os defensores LGBTQ+ para garantir que propostas perigosas, como o projeto de lei [...], não se tornem leis perigosas e, se o fizerem, trabalhar para conseguir a sua revogação".

Na segunda-feira, Bob Chapek defendeu-se inicialmente numa comunicação interna com o argumento de que as reações das empresas têm muito pouco impacto na mudança de decisões ou opiniões e até são utilizadas como “armas” por ambos os lados do espectro político nos EUA.

Em vez disso, defendeu que o "maior impacto" que a empresa podia causar “na criação de um mundo mais inclusivo é através do conteúdo inspirador que produzimos, a cultura de inclusão que críamos e as diversas organizações comunitárias que apoiamos”.

Mas esta intenção de ter "conteúdo inspirador" levou a uma surpreendente acusação saída do interior da Pixar: a de que quase todos os conteúdos que mostrem afeto entre personagens do mesmo sexo são rejeitados.

"Testemunhamos pessoalmente belas histórias, cheias de personagens diversas, a regressarem das avaliações da empresa Disney reduzidas a migalhas do que eram antes", revela uma carta interna do estúdio de animação divulgada na quarta-feira pela revista Variety de um grupo de "funcionários LGBTQIA+ e os seus aliados".

"Quase todos os momentos de afeto abertamente gay são cortados a pedido da Disney, independentemente de quando existe protesto das equipas criativas e da liderança executiva na Pixar. Mesmo que a criação de conteúdo LGBTQIA+ fosse a resposta para corrigir legislação discriminatória no mundo, estamos a ser impedidos de fazê-lo. Além do 'conteúdo inspirador' que nem sequer temos autorização para criar, exigimos ação", continuava a carta.