Woody Allen tornou-se alvo da onda de denúncias de assédio sexual que tomou conta dos Estados Unidos que se intensificou esta quarta-feira quando a sua filha reafirmou as acusações de abuso que teria sofrido do realizador quando era criança, pedindo ao mundo que finalmente acredite nela.

As alegações de Dylan Farrow de que ele a tocou de forma inapropriada quando tinha sete anos apareceram pela primeira vez há 25 anos, na sequência da separação da sua mãe Mia Farrow de Allen, que em 1992 tornou público o relacionamento com uma das filhas adotivas do casal, Soon-Yi Previn, que tinha 21 anos na época.

Mas o lendário realizador, de 82 anos, quatro vezes vencedor do Óscar e muito premiado na Europa, sempre negou as alegações. As denúncias nunca foram comprovadas e ele continuou a desfrutar de uma brilhante carreira.

No entanto, a onda de denúncias de assédio sexual foi um combustível para uma crescente revolta contra Allen. Ellen Page disse que trabalhar com o realizador foi "o maior erro da sua carreira". Mira Sorvino, que ganhou o Óscar com "Poderosa Afrodite", e Greta Gerwig arrependeram-se de o ter feito. Timothée Chalamet, Selena Gomez, Rebecca Hall e Griffin Newman, atores do ainda inédito "A Rainy Day in New York", decidiram distanciar-se e doar os seus salários a organizações de caridade.

Só Alec Baldwin veio até agora em sua defesa: "Woody Allen foi investigado pelas autoridades forenses de dois estados (Nova Iorque e Connecticut) e não foram apresentadas queixas. Sem dúvida que a renúncia a ele e ao seu trabalho têm algum objetivo. Mas para mim é injusto e triste. Trabalhei com WA três vezes e foi um dos privilégios da minha carreira."

Muitos especulam que o crescente desconforto com as acusações contra Woody Allen e os diminutos resultados comerciais dos seus filmes, nomeadamente do último, "Roda Gigante", são sinais claros que a sua carreira chegou ao fim pois não vai continuar a encontrar quem financie os projetos, nem sequer na Europa. E que faltará apenas a Amazon distanciar-se para "A Rainy Day in New York" ser o seu último filme.

No rasto do movimento 'Time's Up' lançado pelas mulheres em Hollywood contra o assédio sexual e o machismo, a filha adotiva de Allen disse que era a altura de ser finalmente escutada pelo mundo. Além de Mira Sorvino e Greta Gerwig, é apoiada por Natalie Portman e Reese Witherspoon.

"Por que não devo querer derrubá-lo? Por que não devo ficar com raiva? Por que não devo estar magoada?", disse ao "CBS This Morning", na sua primeira entrevista em televisão, cujos excertos já foram transmitidos. A entrevista completa irá ao ar esta quinta-feira.

"Por que não deveria sentir algum tipo de indignação depois de todos estes anos, sendo ignorada, desacreditada e deixada de lado?", acrescentou Farrow.

Questionada sobre o motivo pelo qual as pessoas deveriam acreditar nela, respondeu: "Suponho que isso seja com eles, mas tudo o que posso falar é da minha verdade e esperança, esperança de que alguém acredite em mim em vez de apenas ouvir".

O agente do diretor não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários da agência AFP.

Em outubro, a reportagem sobre os supostos casos de violação, abuso e assédio publicada pelo irmão de Farrow, Ronan, filho biológico de Allen e Mia Farrow, ajudou a acabar com a carreira do produtor Harvey Weinstein.

A primeira vez que Dylan Farrow detalhou o suposto abuso com as suas próprias palavras foi numa carta aberta publicada num blogue do New York Times em 2014.

Após esta publicação, Allen negou a acusação e criticou Mia Farrow, dizendo que ela estaria "mais interessada na sua própria raiva do que no bem-estar da sua filha".

Um juiz de Nova Iorque que presidiu à sessão de custódia em 1994 entre Allen e Farrow decidiu que as alegações de abuso eram inconclusivas, mas, ao mesmo tempo, criticou o realizador como "egocentrista, indigno e insensível".

Allen continua casado com Soon-Yi, com quem tem dois filhos.

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