A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (AMPAS) decidiu banir Will Smith durante dez anos como sanção pela bofetada a Chris Rock na última cerimónia dos Óscares.

"O Conselho [de Governadores da Academia] decidiu que, por um período de dez anos a partir de 8 de abril de 2022, o senhor Smith não poderá participar em qualquer evento ou programa da Academia, pessoal ou virtualmente, incluindo, mas não limitado à cerimónia dos Óscares”, revelou o presidente da Academia David Rubin e a CEO Dawn Hudson em carta aos membros após uma reunião virtual esta sexta-feira.

Isto significa que Will Smith pode voltar a ser nomeado para um Óscar durante este tempo e até ganhar, mas não assistirá à cerimónia ou participará nos eventos que a Academia organiza à volta dos prémios, incluindo as sessões de apresentação do respetivo filme.

"Aceito e respeito a decisão da Academia", disse o ator num curto comunicado à comunicação social cerca de 20 minutos após o anúncio público da AMPAS.

Apesar das especulações nas redes sociais, revogar o Óscar de Melhor Ator que ganhou há apenas 12 dias por "King Richard: Para Além do Jogo" nunca foi uma hipótese credível: Roman Polanski, condenado por violação e fugitivo à justiça americana, foi expulso da Academia em 2018, mas manteve a estatueta de Melhor Realização que ganhou por "O Pianista" (2002), tal como o antigo produtor Harvey Weinstein manteve a de Melhor Filme por "A Paixão de Shakespeare" (2018).

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Recorde-se que Will Smith se tinha demitido da Academia a que pertencia desde 2001 na semana passada, o que limitava as opções disponíveis aos 54 membros do Conselho que junta representantes de todos os ramos profissionais da organização e tinha antecipado a reunião para discutir possíveis sanções que estava marcada para 18 de abril.

Isto deveu-se a motivos procedimentais: expulsar ou suspender o ator exigia dar-lhe tempo de resposta aos "procedimentos disciplinares" por violação do Código de Conduta da organização, mas isso deixou de ser necessário após a sua renúncia.

No comunicado aos seus membros, os responsáveis da Academia também fazem "mea-culpa" sobre o que aconteceu logo após à agressão, quando Will Smith foi autorizado a continuar na sala e receber a estatueta.

"A 94.ª cerimónia dos Óscares deveria ser uma celebração das muitas pessoas na nossa comunidade que fizeram um trabalho incrível no ano passado; no entanto, esses momentos foram ofuscados pelo comportamento inaceitável e prejudicial que vimos o senhor Smith exibir no palco. Durante a nossa emissão televisiva, não abordámos adequadamente a situação na sala. Por isto, lamentamos. Esta era uma oportunidade para darmos um exemplo aos nossos convidados, espectadores e à nossa família da Academia por todo o mundo, e ficamos aquém – desprevenidos para o que não tem precedente", diz o texto.

"Queremos expressar a nossa profunda gratidão ao senhor Rock por manter a compostura em circunstâncias extraordinárias. Também queremos agradecer às nossas anfitriãs [Amy Schumer, Wanda Sykes e Regina Hall], nomeados, apresentadores e vencedores pela sua postura e elegância durante a nossa emissão. Esta ação que estamos a tomar hoje em resposta ao comportamento de Will Smith é um passo na direção de um objetivo maior de proteger a segurança dos nossos artistas e convidados e restaurar a confiança na Academia. Também esperamos que isto possa começar a altura de sarar feridas e recuperação um tempo de cura e restabelecimento para todos os envolvidos e afetados", termina o documento.

Recorde-se que a 28 de março, os que estavam presentes no Dolby Theater para a cerimónia e os espectadores à volta do mundo ficaram boquiabertos quando Will Smith se levantou, subiu ao palco e agrediu Chris Rock após este fazer uma piada sobre a cabeça rapada da sua esposa, Jada Pinkett Smith, que tem alopecia, uma condição que causa perda maciça de cabelo.

Meia hora depois da agressão, ganhou o Óscar de Melhor Ator, a quinta estatueta na categoria para um homem negro.

A meio do discurso e sem referir diretamente o momento com Chris Rock, Will Smith acabou por pedir desculpa, mas não ao comediante: "Quero pedir desculpa à Academia e aos meus colegas nomeados. O amor faz-nos fazer coisas loucas". Terminou dizendo "espero que a Academia volte a convidar-me".

Com as críticas a subirem de tom, principalmente por causa da circulação de imagens dos festejos e despreocupação, incluindo a dançar ao som das suas próprias canções, durante a festa pós-Óscares da revista Vanity Fair, surgiu 24 horas depois o pedido público de desculpas a Chris Rock no Instagram, criticado por parecer um comunicado cuidadosamente preparado pela equipas de relações públicas.

"A violência em todas as suas formas é tóxica e destrutiva. O meu comportamento nos Óscares de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável. Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica da Jada [Jada Pinkett Smith] foi demais para mim e reagi emocionalmente. Gostaria de pedir desculpas publicamente a ti, Chris [Rock]. Passei dos limites e estava errado. Estou envergonhado e as minhas ações não foram indicativas do homem que quero ser. Não há lugar para violência num mundo de amor e bondade", partilhou no Instagram.

A mensagem acrescentava: "Também quero pedir desculpas à Academia, aos produtores do espetáculo, a todos os participantes e a todos os que assistiram à volta do mundo. Queria pedir desculpas à Família Williams e à minha Família 'King Richard'. Lamento profundamente que o meu comportamento tenha manchado o que de outra forma tem sido uma jornada maravilhosa para todos nós. Sou um trabalho em progresso".

Aquando da demissão da Academia, declarou que os seus atos tinham sido "impressionantes, dolorosos e indesculpáveis".