A Berlinale revela neste sábado (16) os seus cencedores e há duas produções favoritas: uma crónica chinesa sobre a antiga política de filho único e um drama israelita que fala sobre um expatriado em Paris. Enquanto isso, o único filme ibero-americano, "Elisa y Marcela" (Espanha), não convenceu a crítica.
O júri liderado pela atriz francesa Juliette Binoche, e do qual também é membro o cineasta chileno Sebastián Lelio, escolherá qual a longa-metragem levantará o Urso de Ouro, o primeiro grande prémio do ano dos festivais europeus.
Um filme ficou de fora da corrida alguns dias antes da sua estreia mundial, "One second", do consagrado cineasta chinês Zhang Yimou. A Berlinale informou que a retirada do filme, ambientado durante a Revolução Cultural - um período-chave para as autoridades chinesas - se deu por motivos "técnicos".
Enquanto isso, a também produção chinesa "So long, my son", de Wang Xiaoshuai, comoveu o público, levando-o às lágrimas com um drama alegórico sobre duas famílias cujos destinos se cruzam durante 30 anos de mudanças radicais no seu país.
"A história pode ser lida como uma crítica mordaz à política de filho único no país, recentemente abandonada. Há também cenas poderosas que ilustram os efeitos dolorosos da mudança desenfreada para o capitalismo na década de 1980 e início de 1990", escreveu o South China Morning Post.
"Mas isso não distrai Wang do seu objetivo, que é mostrar como as pessoas comuns lidam com a dor e os dilemas morais", acrescentou.
Sete realizadoras na corrida
"So long, my son" é favorito juntamente com "Synonyms", de Nadav Lapid. O filme, em grande parte autobiográfico e sexualmente explícito, conta a história de um israelita que se muda para Paris para escapar da situação política no seu país.
A crítica aplaudiu especialmente a atuação do seu protagonista, Tom Mercier, que estreou nesta produção e, segundo o Hollywood Reporter, lembra um "jovem Tom Hardy, incluindo a habilidade de atuar sem roupa".
Na disputa mais feminina das 69 edições da Berlinale, com filmes de sete mulheres cineastas, destacou "God Exists, Her Name Is Petrunija" [Deus existe, o nome dela é Petrunya], da realizadora da Macedónia do Norte Teona Strugar Mitevska, muito aplaudida pelo público.
O filme é baseado na história real de uma mulher que se une a um ritual religioso reservado aos homens: uma imersão num rio para retirar uma cruz de madeira.
Pelo contrário, o filme "Elisa y Marcela", da espanhola Isabel Coixet, referência na Berlinale, onde a cineasta já foi nove vezes, dececionou grande parte da crítica.
O filme a preto e branco, o primeiro produzido pela Netflix em competição na Berlinale, resgata o primeiro casamento homossexual na Espanha, ocorrido em 1901 entre duas professoras.
"Esta história fascinante de um casal de lésbicas espanholas que enganou um padre para se casarem tem um tratamento chato e inadequado", criticou a Variety.
"Ao querer enviar uma mensagem" sobre os direitos dos homossexuais, "Coixet faz um filme privado das nuances emocionais que fizeram com que 'O Segredo de Brokeback Mountain' e 'Carol', para citar duas produções influentes sobre os homossexuais, fossem tão comoventes e que prendessem", segundo o Hollywood Reporter.
Chilena "Lemebel" premiada com Teddy Award
A secção paralela Panorama também anunciará o prémio que a cada ano o público entrega ao melhor filme e para o qual concorrem uma dezena de filmes latino-americanos, incluindo "Divino Amor", do brasileiro Gabriel Mascaro, e "Temblores", do guatemalteco Jayro Bustamante.
Na mesma secção, por sua vez, destaca-se "Lemebel", da chilena Joanna Reposi, premiada com o Teddy Award de melhor documentário sobre LGTBQ+, anunciado em paralelo à Berlinale.
Reposi, amiga pessoal do falecido artista chileno Pedro Lemebel, reconstituiu a sua vida com base em arquivos, depoimentos e uma longa entrevista nos últimos anos de sua vida. Renomado escritor e artista plástico, Lemebel foi uma referência na luta pelos direitos dos homossexuais no seu país.
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