Se fosse agora, Sam Mendes acha que os alguns dos seus famosos filmes seriam lançados pelas plataformas de streaming, sem nunca serem vistos no grande ecrã: a "grande era" de ir cinema "está a morrer".
"O século XX, a grande era dos filmes, o formato de grande entretenimento – que era sair para ir aos filmes – isso está a morrer. Olho para os meus filmes e acho que 'Beleza Americana', 'Revolutionary Road', 'Um Lugar Para Viver', esses todos iriam agora para streaming e isso deixa-me triste", disse ao programa "Sunday With Laura Kuenssberg" da BBC o realizador ainda de títulos como "Caminho Para Perdição", "007 - Skyfall", "007 - Spectre", "1917" e o recente "Império da Luz".
Mendes explicou ainda que "os filmes de orçamento médio" já não são feitos para as salas e a maioria das vezes vão para as plataformas de streaming.
"Olha-se para os multiplexes e as pessoas dizem 'tem seis salas' e depois vai-se a essas seis salas e dizem 'sala um Avatar, sala dois Avatar, sala 3 Avatar' – isso não é um cinema com seis salas; são apenas seis salas a mostrar o mesmo filme. Para começar, essa é uma interpretação diferente da razão da criação desses edifícios", nota.
Neste momento, acrescentou, os cineastas têm de “aceitar e abraçar a ambição de um grande ecrã” ou “aceitar que vão ser vistos por milhões de pessoas em streaming, o que não é mau”.
Numa outra entrevista, citada pelo The Daily Mail, o realizador foi ainda mais longe no pessimismo e diz que a atual realidade do mercado onde os "pequenos filmes" têm poucos espectadores é claramente um problema.
"Embora as pessoas digam que a afluência [de espectadores] está quase a chegar aos níveis antes da pandemia ao longo do ano, a afluência é para 20 ou 25 filmes, não para 200 filmes. É para um número muito pequeno de grandes filmes", esclareceu.
"E os filmes mais pequenos? As pessoas estão a sentir, bem, podemos ficar em casa e ver isso na nossa plataforma de streaming dentro de três ou quatro semanas, ou mesmo imediatamente, no caso de um filme Netflix ou para a Apple", acrescentou.
Mendes também apontou a questão do preço dos bilhetes, "algo que é realmente óbvio, mas que as pessoas não falam muito".
"Quando se vai a um restaurante, existe uma diferença no tipo de ingredientes que se conseguem quando se paga mais dinheiro. Se se quer uma refeição barata, a comida ajusta-se - mas é barata. Por outras palavras, há um diferencial de preço. Se se for ao teatro para assistir a um grande espetáculo, custará 200 dólares. Se se for para as margens, custa 20 dólares, certo?", comparou.
"Mas cada filme custa a mesma coisa para ver. Se 'Avatar' custa 10 libras e 'Império da Luz' custa 10 libras, e se é um adolescente, vai-se ver o 'Avatar'. É óbvio. E até que haja algum reconhecimento da diferença entre os grandes e os pequenos filmes, vai-se ser esmagado pelos grandes filmes", destacou.
"Fiz um filme James Bond. Fiz '1917' — que é um grande filme, mas não de saga; e fiz um filme pequeno como este ['Império da Luz']. E este é dez vezes mais difícil de promover. E é 10 vezes mais criticado do que um filme Bond, porque as pessoas têm a esperança que vá ser um exemplo para os cinemas, não só por si, mas tem de ser uma obra-prima para conseguir que as pessoas vão vê-lo", explicou.
"Um mundo onde o filme de [Steven] Spielberg ['Os Fabelmans'], e o filme do Damien Chazelle ['Babylon'] e o filme do Alejandro Inarritu ['Bardo'], o filme do James Gray ['Armageddon Time '], este filme ['Império da Luz']... ninguém os foi ver... só posso dizer isto: está claramente em problemas!", notou.
"Muitos destes filmes tiveram críticas brilhantes. 'Os Fabelmans' é um dos filmes com melhores críticas do ano. Conseguiu 15 milhões de dólares nas bilheteiras dos EUA. Está quase a sair dos cinemas. Que esperança há para quem quer que seja?", desabafou sombriamente o realizador.
"Império da Luz" chega aos cinemas portugueses a 23 de fevereiro.
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