José Pedro Ribeiro, que falava à agência Lusa no final da assembleia geral de acionistas de hoje, sublinhou que a reunião foi suspensa para se poder ultimar a venda da
Tobis.

«Neste momento, estamos em condições para dizer que a empresa se vai manter já que a venda da produtora está quase concluída», acrescentou.

A empresa ligada ao cinema é maioritariamente estatal, mas o Estado pretende alienar o capital social que detém.

À porta da
Tobis estiveram concentrados cerca de dez trabalhadores que, em declarações à Lusa, consideraram esta suspensão da assembleia-geral uma «má notícia, porque é mais um adiamento» da situação laboral dos 53 funcionários.

A administração da Tobis ter-lhes-á garantido o pagamento dos salários.

Da agenda de trabalhos da assembleia de acionistas de hoje constava a eleição de um novo conselho de administração para a empresa já que o existente está demissionário desde outubro de 2011.

Os acionistas não chegaram, porém, a eleger uma nova administração por não fazer sentido eleger novos corpos gerentes para a empresa numa altura em que esta está prestes a mudar de donos.

O Estado é detentor de 96,4 por cento do capital social da
Tobis, a mais antiga produtora cinematográfica em Portugal, que tem perto de 80 anos e 53 trabalhadores.

O passivo da empresa ronda os oito milhões de euros, segundo declarações do secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, que assumiu pessoalmente o dossier de venda da Tobis.

Recorde-se que a
Tobis tem passado por dificuldades financeiras várias, nomeadamente com salários em atraso aos trabalhadores.

No início desta semana, os trabalhadores receberam o vencimento de novembro, dezembro e o subsídio de Natal, os únicos salários que tinham em atraso. Para o pagamento desta verba, na ordem dos 320 mil euros, foi necessário o Estado desbloquear uma verba especial.

Depois de terminada a reunião, o delegado sindical da Tobis e dirigentes do Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e do Audiovisual (SINTTAV) estiveram reunidos com o conselho de administração da empresa, que lhes terá comunicado que «vão pensar durante o fim-de-semana» para decidirem se aceitam ou não manter-se à frente dos destinos da empresa, numa altura em que estão demissionários.

Gabriela Reis, funcionária da Tobis há 40 anos, encara com «muita tristeza» a situação «muito crítica» que a empresa atravessa há perto de três anos, e responsabiliza o acionista maioritário pela atual situação, já que «não olhou para isto mais cedo».

A situação deve-se muito à «culpa do nosso patrão, por não ter avançado com a qualificação da Tobis, não a ter apetrechado com material para se desenvolver, já que estamos a entrar na era digital», disse.

A funcionária lamentou ainda «que o Estado tenha equipado o Arquivo de Imagens em Movimento [ANIME], que devia funcionar apenas como arquivo de documentação e está a fazer trabalhos que deviam ser feitos pela Tobis».

Também o delegado sindical da Tobis, Tiago Silva, lamentou o prolongar da situação por quase «dois meses», considerando-o um «prazo longo» que só agrava o «desespero» que os trabalhadores estão a atravessar.

O dirigente sindical disse ainda que os trabalhadores continuam a desconhecer a identidade e as intenções do comprador da Tobis, acrescentando que o presidente do ICA apenas lhes disse contar que a venda se efetive antes da nova data da assembleia-geral de acionistas.

@Lusa