Quem acha que a transposição das aventuras de Tintin para o audiovisual se limitou à célebre série animada da década de 90, ficará surpreendido ao saber que já desde meados da década de 40 que o repórter belga criado por Hergé se passeava pelos ecrãs de cinema. Em imagem real, desenho animado ou animação «stop-motion», eis as várias vidas de Tintin, no cinema e na televisão.

Le Crabe aux Pinces d'Or (1947) - A primeira transposição de Tintin ao cinema é uma verdadeira raridade. Adaptado de forma muito fiel do álbum «O Caranguejo das Tenazes de Ouro» este filme, realizado por Claude Misonne, é uma das primeiras longas-metragens de animação em «stop-motion» da história do cinema. Infelizmente, a película teve apenas duas exibições públicas (uma para convidados e outra com bilhetes vendidos), pelo facto do produtor ter declarado falência e fugido para a Argentina. Só muito recentemente, o filme voltou a ser visto, tendo sido finalmente editado em DVD em 2007.

Les Aventures de Tintin (1957) - Uma raridade ainda maior que a fita acima é esta primeira tentativa de transposição de Tintin para a televisão, de que se fizeram 15 episódios, oito deles adaptando o álbum «O Ceptro de Ottokar» e os outros sete o álbum «O Ídolo Roubado». Trata-se de uma versão a preto e branco quase totalmente feita de uma sucessão de imagens fixas (só «A Orelha Quebrada» tinha um pouco de animação), com Jean Nohain a fazer a narração e a voz de todas as personagens. Apesar de ter tido o envolvimento directo de Hergé, esta série caiu no esquecimento, nunca tendo sido reeditada em qualquer suporte.

«As Aventuras de Tintin» (1961) - A primeira adaptação de Tintin ao cinema de imagem real é este «Tintin et le Mystère de la Toison d'Or», uma excelente versão cinematográfica que merece ser redescoberta. Jean-Pierre Talbot, então monitor desportivo numa praia de Ostende, foi o Tintin mais que perfeito desta fita assinada por Jean-Jacques Vierne que tinha a particularidade de ter um argumento original e não adaptar qualquer álbum. A película foi rodada na Turquia, na Grécia e em França e lançava Tintin e Haddock (Georges Wilson) em descoberta do mistério que envolve um navio deixado em herança ao capitão. Com muita ação e humor (os Duponds e o professor Tournesol não faltam à chamada), consegue ser fiel ao espírito de Hergé numa aventura diferente das até então publicadas.

«As Aventuras de Tintin» (1961) - Uma série televisiva bastante popular exibida na RTP na década de 80, composta por 102 episódios de cinco minutos cada, que começavam invariavelmente com a voz off a dizer «Les Aventures de Tintin, d'après Hergé...». Produzida pelo estúdio Belvision e realizada por Ray Goossens, marca a estreia de Tintin em verdadeiro desenho animado, a cores, com adaptações muito livres dos álbuns «A Estrela Misteriosa», «Objectivo Lua», «O Segredo do Licorne», «O Tesouro de Rackham, o Vermelho», «A Ilha Negra», «O Caranguejo das Tenazes de Ouro» e o «O Caso Tournesol». (O vídeo abaixo foi retirado do site
Mistério Juvenil)

«O Mistério das Laranjas Azuis» (1964) - Na sequência do sucesso de «As Aventuras de Tintin», Jean-Pierre Talbot regressou ao papel do herói da poupa nesta sequela, realizada por Philippe Condroyer. O resultado foi menos conseguido que o anterior mas o filme é, mesmo assim, bastante interessante. A história volta a ser original e lança os nossos heróis em busca do Professor Tournesol, raptado devido à criação por um colega de uma fórmula para criar laranjeiras no deserto (daí as laranjas azuis do título) e assim combater a fome no mundo. Desta feita, os heróis só se deslocam a Espanha, mas a aventura continua a ser movimentada e divertida (René Goscinny, co-criador de Astérix, é um dos argumentistas). Talbot encerraria aqui a sua carreira no cinema, tendo seguido um percurso ligado ao ensino.

Tintin e o Templo do Sol (1969) - Na sequência da adaptação de sete histórias de Tintin para a série televisiva de animação, a Belvision decidiu apostar num filme de longa-metragem em desenho animado, a partir do díptico «As Sete Bolas de Cristal» e «O Templo do Sol». A adaptação foi relativamente livre (o célebre argumentista de BD Greg foi um dos responsáveis), nomeadamente com a criação de uma personagem feminina, filha do líder dos incas. Mais importante que tudo, foi o facto de Jacques Brel ter composto uma canção para o filme.

Tintin e o Lago dos Tubarões (1972) - Após o sucesso de «Tintin e o Templo do Sol», a Belvision lançou-se numa nova longa-metragem de desenho animado, desta vez não adaptando qualquer álbum mas sim baseando-se num argumento original de Greg. A ação passa-se na Sildávia e é mais uma vez lançada por Tournesol (que nestas animações nunca foi surdo, como na BD), que criou uma máquina de reproduzir objetos, a que todos querem deitar as mãos. Ao contrário dos outros filmes animados, que tiveram origem na BD, este surgiu no cinema e foi depois adaptado a álbum aos quadradinhos, não desenhados mas sim integrando fotogramas da película.

«As Aventuras de Tintin» (1991) - A adaptação audiovisual hoje em dia mais famosa das aventuras de Tintin é esta ótima série franco-canadiana de desenho animado produzida pela Nelvana, com 18 episódios de 45 minutos e mais três de 24 minutos. É a adaptação mais fiel de todas, e compreende todos os álbuns da série, à exceção dos dois primeiros, «Tintin no País dos Sovietes» e «Tintin no Congo», considerados excessivamente datados em termos políticos e sociais. Uma das maiores curiosidades da série é o aparecimento em todos os episódios do próprio Hergé, em «cameos» equivalentes aos de Alfred Hitchcock. De todas as versões acima, é a única que está disponível em DVD em Portugal.

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