«Tive agora um projeto, recentemente, que se chama ‘Os gatos não têm vertigens’, que foi subsidiado, teve um apoio. Simplesmente, o despacho do secretário de Estado diz que ‘é quando houver dinheiro’ e isto é uma coisa insólita», afirmou o realizador à Lusa, à margem do Fantasporto, onde foi um dos homenageados deste ano.

Por seu lado, fonte oficial da Secretaria de Estado da Cultura indicou à Lusa que «tudo está a ser feito pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual para que tal suceda o mais brevemente possível, tendo em conta as circunstâncias» e que a produtora da película «deverá aguardar as verbas que a tesouraria do ICA libertará de acordo com as suas possibilidades e as regras de boa gestão financeira».

Segundo o documento do ICA relativo aos projetos aprovados em 2011, o projeto de
António-Pedro Vasconcelos, com produção da MGN Filmes de Tino Navarro, receberia 700.000 euros, o montante máximo do concurso, à semelhança de «O Gebo e a Sombra», de
Manoel de Oliveira.

«Como sabe, sou contra os concursos, contra a intervenção do Estado na escolha dos projetos. Não sou contra a intervenção do Estado, o mercado é pequeno e o cinema português é incapaz de ser autossuficiente, mas a verdade é que, enquanto eles existirem, é a única forma de o meu produtor se financiar», explicou o autor de
«Call Girl», o terceiro filme português mais visto dos últimos oito anos.

De acordo com
António-Pedro Vasconcelos, «quando houver dinheiro, pode ser este ano, pode ser para o ano», ou seja, só neste sentido do financiamento é que o realizador diz não saber se volta a filmar.

A Secretaria de Estado da Cultura assegura que «este Governo honrará os compromissos herdados, apesar de os mesmos terem sido fruto de uma expectativa gorada de receitas futuras por parte da anterior tutela, originando que mais de 70 por cento do orçamento do ICA estejam agora comprometidos com projetos assumidos e não resolvidos no passado».

«Se isso acontecer [e não houver financiamento], vou ter redobradas dificuldades para voltar a filmar. Espero que isso não aconteça, não só por mim, porque isso significava que os mais jovens, meus colegas, teriam idênticas dificuldades», acrescentou.

Em meados de janeiro, o secretário de Estado da Cultura,
Francisco José Viegas, assegurou que serão abertos concursos para apoio ao cinema este ano, embora não tenha adiantado uma data.

«Neste momento - vamos usar um eufemismo -, devido aos constrangimentos orçamentais e às ameaças de corte aqui e ali, é natural que todos estejam um bocadinho nervosos - nós próprios estamos, porque temos de lidar com limitações muito sérias e algumas são injustas. O que é certo é que não podemos cortar com aquilo que é essencial. Posso dar um exemplo: não se abriram ainda concursos para apoio ao cinema, mas vão abrir-se», garantiu.

@Lusa