Fernanda Torres e a mãe, Fernanda Montenegro, reagiram ao dia triunfal para o cinema brasileiro: "Ainda Estou Aqui", foi nomeado para os Óscares de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional esta quinta-feira.

Fernanda Torres também foi nomeada à estatueta de Melhor Atriz pelo papel de Eunice Paiva, viúva do deputado Rubens Paiva, morto durante a ditadura militar. A sua mãe interpreta a mesma personagem numa fase mais avançada do filme de Walter Salles.

Nas redes sociais, as três nomeações 'viralizaram' e provocaram uma onda de comentários elogiosos.

Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
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Numa nomeação histórica para o cinema brasileiro, "Ainda Estou Aqui" disputará o prémio de Melhor Filme com "Anora", "O Brutalista", "A Complete Unknown", "Conclave", "Dune - Duna: Parte Dois", "Emília Pérez", "Nickel Boys", "A Substância" e "Wicked".

Já na categoria de Melhor Filme Internacional, o trabalho de Salles disputará a estatueta com "Emília Pérez" (França), "A Semente do Figo Sagrado" (Alemanha), "A Rapariga da Agulha" (Dinamarca) e "Flow – À Deriva" (Letónia).

Fernanda Torres disputará o Óscar com Demi Moore ("A Substância"), Cynthia Erivo ("Wicked"), Karla Sofía Gascón ("Emília Pérez") e Mikey Madison ("Anora").

Ainda que com menos uma nomeação, "Ainda Estou Aqui" supera qualitativamente o impacto nos Óscares de "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, nomeado na cerimónia de 2004 para Melhor Realização, Argumento Adaptado, Montagem e Fotografia.

O Brasil não tinha um filme na corrida aos Óscares desde "Central do Brasil" (1988), também de Walter Salles e com Fernanda Montenegro: no país, a candidatura recebeu um tratamento mediático digno de 'Copa do Mundo', sendo relembrada a 'injustiça' de atriz ter sido nomeada há 26 anos para os Óscares e perdido para Gwyneth Paltrow por "A Paixão de Shakespeare".

"Eu, Fernanda Montenegro e [o falecido marido] Fernando Torres — onde quer que ele esteja — estamos felizes e realizados, em estado de aleluia, pelas indicações de Fernando Torres e Walter Salles ao importante prémio do Oscar. Um ganho cultural para o Brasil. Meu coração de mãe em estado de Graça"", declarou por escrito nas redes sociais a atriz, que festejou "95 primaveras" em outubro último.

Em vídeo foi a emocionada reação de Fernanda Torres numa publicação na rede Instagram, considerando as três nomeações, incluindo a de "melhor filme do ano", como "uma coisa inimaginável", agradecendo ao realizador, a toda a equipa e aos atores que são a sua "família do filme".

"Foi um filme que a gente fez na felicidade", afirma, acrescentando que, "acima de tudo", quer "agradecer e homenagear essa mulher extraordinária chamada Eunice Paiva, que está por trás disso tudo, que é a geradora disso tudo, e ao Marcelo Rubens Paiva, que escreveu esse livro extraordinário ['Ainda Estou Aqui'], que nos possibilitou fazer esse filme. Jamais vou esquecer".

VEJA O VÍDEO.

A atriz partilhara pouco antes a publicação da Academia de Hollywood, com os indicados na categoria de Melhor Filme, com um coração e uma bandeira do Brasil.

Fernanda Torres recordava ainda a sua mãe e o que aconteceu na cerimónia de 1999: "É uma coisa emocionante para mim, pela minha mãe ter estado nesse lugar 25 anos atrás [...]. E também pelo que significa para o cinema brasileiro, para a cultura brasileira, um filme falado em português. Eu amo o Brasil".

Afirmando-se feliz e orgulhosa "por uma história brasileira fazer sentido no mundo e trazer essa alegria" para a equipa e "o país inteiro", Fernanda Torres concluiu a sua mensagem com um "Viva Eunice Paiva!"

O ator Selton Mello, que interpreta Rubens Paiva, político que foi preso, torturado e morto pelas autoridades da ditadura militar do Brasil (1964-1985), publicou uma foto ao lado de Walter Salles, realizador do filme, e de Fernanda Torres, no Instagram.

A par da fotografia, o ator brasileiro escreveu uma mensagem na qual diz que o filme foi visto por milhões pessoas “por comover com uma beleza austera, por encher as salas de cinema de novo, por levar nossa sensibilidade para o mundo, por recuperar nossa autoestima cultural”.

“Nosso país precisava desse filme, o mundo todo precisava desse filme, nesse exato momento", escreve o ator na rede social, numa sucessão de parágrafos e de conjugação de ideias. "Três indicações ao Óscar, com a de Melhor Filme, nós entramos para a história". E conclui: "Para sempre ainda estamos aqui Eunice, Rubens, nós & vocês”, acrescentou.

VEJA A PARTILHA.

O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, publicou uma mensagem no X comemorando as nomeações aos Óscares, no qual também felicitou as pessoas envolvidas na produção do primeiro filme realizado e dirigido por um brasileiro a ser indicado na categoria de Melhor Filme pela Academia de Cinema dos Estados Unidos.

“A turma de ‘Ainda Estou Aqui’ já pode pedir música. Três indicações ao Óscar: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Atriz e, olha, melhor filme. Quanto orgulho! Beijo para Fernanda Torres e Walter Salles”, escreveu o Presidente brasileiro.

O filme baseia-se no livro homónimo, de memórias, do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do político brasileiro Rubens Paiva e de Eunice Paiva, relatando não só a repressão e os atos de tortura sofridos pelo pai – cujo corpo nunca foi encontrado –, como também a capacidade de superação e resistência da mãe até ao final da vida.

Com “Ainda Estou Aqui”, que foi o filme mais visto na semana de estreia em Portugal, com 52.823 espetadores, Fernanda Torres conquistou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em filme dramático.

No processo de candidatura aos Óscares, Portugal escolheu "Grand Tour", de Miguel Gomes, para uma nomeação na categoria de Melhor Filme Internacional, mas acabou por não chegar aos finalistas.

A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de março de 2025, em Los Angeles, Califórnia, com apresentação de Conan O’Brien.