No início, ninguém podia sequer sonhar com este desfecho: um filme quase sem estrelas relevantes na bilheteira, assinado por uma realizador sem grandes sucessos no currículo, tornou-se um dos maiores êxitos da história do cinema e um dos filmes americanos mais elogiados de sempre: em 2007, o American Film Institute colocou "O Padrinho" em segundo lugar no ranking das melhores películas norte-americanos de todos os tempos, logo a seguir a "Citizen Kane - O Mundo a Seus Pés".

Tudo começou em 1969, com a publicação do romance «O Padrinho», assinado por Mario Puzo, que fazia uma radiografia minuciosa de uma família mafiosa siciliana na Nova Iorque do pós-Segunda Guerra Mundial. O livro tornou-se um inesperado 'best-seller' e a Paramount quis de imediato adaptá-lo ao cinema, mas realizadores de prestígio como Sergio Leone ou Peter Bogdanovich recusaram a oferta.

O projeto acabou por ir cair às mãos de Francis Ford Coppola, uma vez que os produtores queriam que fosse um ítalo-americano a realizar. Coppola tinha então ganho o Óscar de Melhor Argumento Original por "Patton", mas os filmes que realizara até aí, como "O Vale do Arco-Íris", tinham sido fracassos de bilheteira.

O processo de rodagem da película foi por isso muito complicado, com as decisões de Coppola a serem constantemente questionadas e com a possibilidade diária e real dele ser despedido a meio do processo. Ainda por cima, os atores escolhidos não eram de todo favoritos do grande público: Marlon Brando estava na mó de baixo da carreira e teve de provar aos produtores que conseguia fazer o papel, e Al Pacino, Diane Keaton e Robert Duvall eram nomes quase desconhecidos, escolhidos em detrimento de estrelas mais famosas como Ryan O'Neal, Robert Redford ou Paul Newman. Só James Caan tinha então algum 'star power' junto do público.

O Padrinho (1972)

Contra ventos e marés, "O Padrinho" lá estreou a 24 de março de 1972 e tornou-se de imediato um êxito esmagador, com o próprio Stanley Kubrick a considerá-lo o melhor filme de sempre. Ultrapassou "E Tudo o Vento Levou" e "Música no Coração" em receitas brutas de bilheteira e conquistou três Óscares da Academia, incluindo Melhor Filme, Melhor Argumento e Melhor Ator, para Marlon Brando, que enviou à cerimónia uma atriz vestida de índia para recusar a estatueta, naquele que foi um dos momentos mais infames e polémicos na história das estatuetas douradas.

Coppola conseguiu transformar "O Padrinho" numa saga operática e trágica, a destilação de uma faceta do sonho americano em que o crime e os negócios se confundem, com a passagem de poder do líder de um império do crime, Don Vito Corleone, para o seu filho mais novo, Michael Corleone, um idealista que vai assumir o cargo a contragosto e para vingar o pai. O filme entrou no 'zeitgeist' da América e marcou definitivamente a forma como os ítalo-americanos se viam a si próprios, incluindo os próprios gangsters, que assumiram os trejeitos das personagens do filme, como a série "Os Sopranos" exemplificaria três décadas depois.

"Parte II"

O Padrinho: Parte II

O sucesso do filme levou à sequela, dois anos depois.

"O Padrinho - Parte II" foi o primeiro filme de sempre a assumir a "Parte II" no título e nele Coppola fez bom uso dos plenos poderes que ganhou com o sucesso da primeira fita, assinando uma obra muito mais ambiciosa.

Numa aposta arriscadíssima para a altura, o filme segue duas narrativas paralelas, uma com a chegada do patriarca da família à América no início do século e a outra com a consolidação do poder de Michael no final dos anos 50, sendo assim em simultâneo uma sequela e uma prequela de "O Padrinho".

Embora o sucesso de bilheteira não tenha estado à altura do antecessor, "O Padrinho - Parte II" tornou-se um dos filmes mais elogiados de sempre, que ganhou ainda mais Óscares que o anterior: nada menos que seis, incluindo Melhor Filme, Realizador, Argumento e Ator Secundário, para Robert De Niro, no papel do jovem Vito Corleone. Até à vitória de "O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" em 2003, foi a única sequela a ganhar o Óscar de Melhor Filme.

"Parte III"

O Padrinho: Parte III

Embora Coppola considerasse que a saga ficara contada em dois filmes, no final dos anos 80 dificuldades financeiras levaram-no a aceitar realizar uma terceira fita da série, que estreou em 1990.

"O Padrinho III" recuperou a maioria dos atores dos filmes anteriores, e reencontra Michael Corleone quase com 60 anos a estender os tentáculos da 'famiglia' a Santa Sé.

Winona Ryder fora escolhida para o papel da filha de Michael, mas a saída da atriz do projeto levou a que a filha do realizador, Sofia Coppola, fosse escolhida à última hora para interpretar a personagem, a que já dera vida em criança e bebé nos dois filmes anteriores, mais de década e meia antes.

Na altura apenas com 17 anos, a sua prestação foi duramente criticada mas a sua carreira inverteu depois para a realização, onde se tornou um nome prestigiadíssimo, com filmes como "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho" e "Somewhere - Algures".

O filme, que integra na narrativa os eventos reais da morte do Papa João Paulo I e o escândalo bancário do Vaticano do início dos anos 1980, continuou a toada épica e espetacular dos anteriores, mas teve menos sucessos nas bilheteiras e não conseguiu traduzir em qualquer vitória as sete nomeações aos Óscares que recebeu.

"The Godfather Coda"

Coppola na rodagem de "O Padrinho: Parte III"

Em 2020, Coppola lançou uma nova versão, com menos sete minutos, um novo início e final, além de cenas, planos e entradas de banda sonora reeditadas e reordenadas para refletir a sua "visão original do final" e a do argumentista Mario Puzo.

"Para esta versão do final, criei um novo começo e fim, e reorganizei algumas cenas, planos e entradas de música. Com essas mudanças, e com imagem e som restaurados, acho que é uma conclusão mais apropriada para 'O Padrinho' [1972] e 'O Padrinho: Parte II' [1974]", explicava o lendário cineasta em comunicado.

A nova versão também recebeu um novo título, aquele que Coppola sempre quis: "The Godfather Coda: The Death of Michael Corleone", disponível nos videoclubes virtuais como "O Padrinho de Mario Puzo. Epílogo: A Morte de Michael Corleone".

"É um reconhecimento ao título favorito meu e do Mario, e às nossas intenções originais para o que se tornou 'O Padrinho: Parte III'", assinalou Coppola, que também disse esperar que a nova versão faça justiça à interpretação tão arrasada da sua filha.

O TRAILER.

A INTRODUÇÃO DE FRANCIS FORD COPPOLA.

"The Offer", a minissérie sobre o filme "O Padrinho"

A 28 de abril, a plataforma de streaming Paramount+ vai lançar os três primeiros episódios de "The Offer" [A Oferta ou A Proposta, em tradução literal], uma minissérie de 10 episódios sobre os tumultuosos bastidores da produção de "O Padrinho".

Miles Teller surge como o produtor Albert S. Ruddy e Matthew Goode como Robert Evans, o principal responsável pelos filmes na Paramount, a tentar avançar com a adaptação ao cinema do romance de Mario Puzo apesar da oposição direta da máfia por causa da representação dos italo-americanos e dos esforços de... Frank Sinatra.

No elenco principal estão ainda Giovanni Ribisi como o patrão do crime Joe Colombo, Dan Fogler como Coppola, além de Colin Hanks, Juno Temple e Burn Gorman.

Entre os muitos secundários, destacam-se Justin Chambers (como Marlon Brando), Anthony Ippolito (Al Pacino), Frank John Hughes (Frank Sinatra) e Patrick Gallo (Mario Puzo), além de Michael Gandolfini, Eric Balfour e até Lou Ferrigno (o antigo Hulk).

O TRAILER.

Os bastidores da rodagem do filme que festeja agora 50 anos também vão inspirar outro filme, agora em pré-produção: "Francis And The Godfather" ["Francis e O Padrinho", em tradução literal].

Oscar Isaac vai interpretar Francis Ford Coppola, o lendário realizador desse filme de 1972 vencedor de três Óscares e que está entre os mais aclamados da história do cinema, enquanto Jake Gyllenhaal será o não menos lendário Robert Evans.

O realizador será Barry Levinson (vencedor dos Óscares com "Rain Man: Encontro de Irmãos", que destacou em comunicado como "de toda a loucura da produção e contra todas as probabilidades, aconteceu um clássico".

O realizador deu a sua bênção a "Francis And The Godfather": "Qualquer filme que Barry Levinson faça sobre o que quer que seja vai ser interessante e valer a pena!".

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