A partir de domingo, às 23h45, na SIC, e durante seis semanas, cinco amigos vão juntar-se para um jantar, que começa sempre da mesma forma, mas que nunca ninguém sabe como poderá acabar. Este é o ponto de partida de "Princípio, Meio e Fim", o novo programa da autoria de Bruno Nogueira, Nuno Markl, Salvador Martinha e Filipe Melo. Já Albano Jerónimo, Jessica Athayde, Rita Cabaço e Nuno Lopes fazem parte do elenco.

O erro será o ingrediente principal de todos os episódios, conta Bruno Nogueira. "O programa nasce de uma coisa que sempre me fascinou e que tem tido pouco espaço na televisão, que é a questão do erro e do falhanço. Quando se erra, tenta-se resolver. Mas é mais interessante a vertigem que isso provoca a quem está a ver. A partir daí, com o Salvador Martinha, o Filipe Melo - que não está cá, está atrasado... na vida e aqui, em particular - e o Nuno Markl, decidimos explorar essa coisa de quatro autores, que somos nós, que têm duas horas para escrever um episódio que será representado na segunda parte do programa", resume o humorista conferência de imprensa virtual.

Veja o teaser:

"Quando se tem um programa normal, se houver um erro no argumento ou qualquer coisa que não faça sentido no texto, uma gralha, o ator ou o realizador corrigem. Aqui a única regra era: se o argumento viesse com algum erro de português, com uma palavra mal escrita, tinha de ser dita assim; ou se viesse tudo em letras maiúsculas, o ator tinha de gritar; qualquer movimentação do ator para um sítio errado, ele teria de ir para um sítio inventado. A ideia é aceitar sempre o erro e não desculpá-lo", frisa o humorista ao SAPO Mag, acrescentando que os atores "não têm autorização" para corrigir os erros.

Para Bruno Nogueira, o objetivo é fazer uma homenagem " a quem escreve, quem faz, produz, executa e cria". "O ato de criação está sempre desnivelado em relação à representação", defende.

Em conversa com os jornalistas, Daniel Oliveira sublinha ainda que o programa é uma aposta na "criatividade portuguesa, no génio do Bruno Nogueira, que desenvolveu uma ideia completamente original". "É a prova que a televisão comercial também tem espaço para abordagens originais, disruptivas. Aquilo que o Bruno fez em conjunto com a equipa do programa foi algo que nós nunca vimos na televisão portuguesa: é uma ruptura com o que já se fez; é um cruzamento de ficção com realidade e muito bem conseguido", defende o diretor de entretenimento da SIC.

"Este programa tem muitas mais valias e herda um pouco do espírito que o Bruno conseguiu no ano passado com 'Como É Que o Bicho Mexe?', um espírito desassombrando em relação aos temas e às ideias. (...) Fazemos este programa porque podemos e porque queremos e assenta nessa liberdade de se criar um programa que aposta no humor adulto e que é capaz de surpreender os espectadores", explica.

Duas horas (e nem mais um segundo) para escrever o guião dos episódios

Antes de ser servido o jantar, os espectadores vão poder ver como foi cozinhado o episódio. Todas as semanas, Bruno Nogueira, Nuno Markl, Salvador Martinha e Filipe Melo juntam-se para escrever o guião do episódio em apenas "duas horas e nem mais um segundo". "Escrever o episódio também será representado no programa", frisa Bruno Nogueira.

"Regras para escrever este jantar: todas as semanas, temos um computador e duas horas - duas horas apenas, nem mais um segundo - para o escrever. Se alguma frase ficar a meio, se alguma palavra ficar mal escrita, se alguma coisa não fizer sentido - terá de ir tal como está. A ideia é não forçar o erro - mas se ele acontecer, não teremos outro remédio senão aceitá-lo. Como se não bastasse esta pressão toda, decidimos dificultar ainda mais a nossa vida, com obstáculos que, durante essas duas horas, nos serão impostos pela produção", explica a equipa na sinopse do programa.

"Foi filmado esse processo de criação, quando estamos ‘in the zone’, concentrados. A certa altura esquecemo-nos da câmara e isso tem muita força. As pessoas vão ter uma câmara voyeur que raramente se vê", explica Salvador Martinha. "Acho que se torna apelativo ver o momento da conceção. Esta fragilidade até se conseguir chegar a um guião e os vários caminhos possíveis, é, para quem não vê, para os espectadores, uma parte da engrenagem interessante", acrescenta Bruno Nogueira.

Já Nuno Markl acrescenta que os espectadores não vão ver apenas "quatro tipos sentados a escrever no computador". "Fizemos um esforço para que essa parte de escrita fosse também um espetáculo e tudo menos monótona. Às vezes parecia um thriller, porque tínhamos de desarmar uma bomba", garante o humorista.

"Quando se juntam quatro pessoas obviamente diferentes para escrever um guião em duas horas não é possível existir consenso, vai haver discussão e caos. E no início isso foi difícil para mim. Mas o Bruno disse-nos que isto tinha de ser como um grupo de miúdos a brincar. É como termos bonecos de luxo (os atores), que podemos usar e fazer o que nos apetecer", remata Filipe Melo, que se juntou a meio da conversa, sendo 'alvo' de piadas dos colegas: "Parece que o Filipe Melo está na Eurovisão", disse Bruno Nogueira. "Mas estás de cuecas?", questiona Markl. "Estou. Aliás, estou todo nu das pernas para baixo. Querem que mostre?", respondeu, entre risos, o artista.

Todas as semanas, o mesmo jantar: "como se houvesse uma falha de memória"

Em cada episódio de "Princípio, Meio e Fim", os cinco amigos reúnem-se para jantar. "Mas o que estes cinco amigos não sabem é que são figuras de ficção. O que eles dizem e fazem não é decidido por eles. As duas primeiras páginas do que eles dizem no jantar são sempre as mesmas, em cada episódio. A partir daí, está tudo em aberto. O que o espectador vai ver, todas as semanas, é uma versão diferente desse mesmo jantar. O destino dessas personagens esta na mão de quatro pessoas, que irão escrever o que acontece nessa noite entre amigos", resume a SIC, em comunicado.

"Isto é o mesmo jantar todas as semanas. É quase como se houvesse uma falha de memória e, todas as semanas, aquelas pessoas juntam-se para um jantar e sem o passado da semana anterior - se um levar um tiro numa semana, na semana seguinte não há nada que se relacione com isso", explica Bruno Nogueira. "Para isso, criámos cinco personagens que achámos que iriam ao encontro da nossa ideia do que seria bom para criar conflito num jantar e depois pensámos em quem as poderia fazer - um ou outro nome já sabíamos que queríamos convidar, mas depois foram surgindo em função das características das personagens", acrescenta.

Todas as semanas, o anfitrião do jantar é Paulo (Albano Jerónimo), um homem "intenso, confiante e temperamental", que cozinha bem. Stone (Nuno Lopes), um homem que vive em harmonia com o mundo, Maria João (Rita Cabaço), a "pessoa mais querida e doce que irão conhecer até começar a beber", Francisca (Jessica Athayde), um "Twitter humano", e Luís Henrique (Bruno Nogueira), homem "sem carisma e sem graça", completam o grupo de amigos.

"Achámos importante apostar no Nuno Lopes, que está a começar. Teve poucos projetos", graceja Salvador Martinha. "Eu fui a terceira escolha, não mintam", respondeu o ator. "Estávamos entre o Nuno Lopes e o João Catarré, mas o Catarré já tinha sido tomado", acrescenta, entre risos, Bruno Nogueira.

Nuno Lopes conta ainda que aceitou convite porque é amigo de Bruno Nogueira. "Falando de empatia, quando me falaram para vir trabalhar neste programa, o Bruno disse-me que o guião ia ser escrito em duas horas e o que saísse daí seria o que seria feito. E só podia aceitar este convite porque conheço o Bruno e porque tenho uma empatia muito grande com estas pessoas. Acredito que o que vai sair daquelas duas horas é uma coisa em que sei que quero trabalhar", frisa o ator.

"A contrapartida de termos um guião tão livre e aleatório é que não podia haver improvisação. Os atores tiveram de seguir à risca tudo o que foi escrito em duas horas", lembra Nuno Lopes. "Na comédia somos todos crianças de sete anos. Há improviso no texto, o desafio foi mesmo fazer o que estava escrito. (...) Fomos pianistas de música clássica, a seguir as partituras à risca", acrescenta.

"Foi extremamente desafiante. Tive a sorte de fazer parte deste projeto e tenho pena que sejam só seis episódios. Por mim, tinha ficado o resto do ano a fazer isto", confessa Jessica Athayde.

Em jeito de despedida, Bruno Nogueira, frisa ainda que possível catalogar o formato. "É um híbrido entre realidade e ficção - a parte da criatividade é a realidade, é ter um determinado tempo para criar um guião e aí não há personagens; e a última parte é ficção pura, onde não há realidade. Não consigo catalogar. E será que queremos catalogar?", remata o humorista.

No final da conferência de imprensa, Daniel Oliveira deixa ainda em aberto a possibilidade de serem lançados conteúdos exclusivos no serviço de streaming OPTO. Na despedida, Salvador Martinha atirou uma ideia: "Eu tenho uma ideia: meter o Daniel Oliveira a assistir aos seis episódios e depois filmar o react".