Contudo, depois de mais de três mil episódios, o 'talk show' que competiu com o de Oprah Winfrey chegou ao fim. A última emissão do popular talk show norte-americano foi para o ar na passada quinta-feira, dia 26 de maio, e a despedida emocionou os fiéis seguidores da apresentadora.

"Este programa mudou a minha vida para sempre. Foi a melhor experiência que já tive. Há 19 anos disse que este era o início de um relacionamento e hoje não é o fim, mas sim uma pequena ruptura", sublinhou Ellen DeGeneres na última emissão.

"Quando começámos este programa, em 2003, não existiam iPhones nem redes sociais. O casamento entre pessoas do mesmo sexo não era permitido (...) Vimos o mundo mudar, às vezes para melhor e às vezes para pior", acrescentou, lembrando que, "há 20 anos, ninguém pensou que [o programa] iria funcionar": "Não porque era um formato diferente, mas porque eu era diferente".

"Quando começámos, não podia dizer 'gay' no programa. Não estava autorizada. (...) Não podia dizer 'nós', porque pressupunha que estava com alguém. Também não podia dizer 'esposa' porque o casamento entre pessoas gays ainda não era legal — e, agora, digo 'esposa' a toda a hora", recordou Ellen DeGeneres, que é casada com a atriz Portia de Rossi desde 2008.

“Se consegui algo nestes 19 anos, espero ter-vos inspirado a serem vocês mesmos, verdadeiros e autênticos", rematou.

Não há dúvidas de como a cena cultural mudou desde que a comediante revelou ser lésbica em 1997 em entrevista à revista Time, ao mesmo tempo em que a sua personagem na série de televisão "Ellen" também o fez.

Ellen DeGeneres foi considerada um ícone do movimento LGBTQIA+, mas a sua série acabou por ser cancelada em 1998 devido a uma onda de ataques. Cinco anos depois, a norte-americana estreou o seu talk show.

"Foi uma sensação, um marco", defende Mary Murphy, professora associada de jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia.  "Ela pavimentou o caminho. Provavelmente foi, e talvez ainda seja, a pessoa LGBTQIA+ mais famosa dos Estados Unidos", acrescenta.

"Amiga das celebridades"

A lista de convidados de Ellen DeGeneres, que incluía celebridades de primeira linha, foi crucial para o sucesso do programa, especialmente nas regiões mais conservadoras dos Estados Unidos.

Durante 19 temporadas, as estrelas de Hollywood e do universo pop competiram por um lugar no sofá de DeGeneres, para o qual eram convidados para promover os seus projetos e para ser, às vezes, objecto de piadas e brincadeiras.

Alguns estiveram ali mais de uma dezena de vezes. Jennifer Aniston, a primeira convidada do programa, regressou para o episódio final. "Ela é uma amiga das celebridades. Elas sabem disso, e ela faz tudo de forma jovial", comenta Murphy.

"Talvez, pelo facto de ela mesma ter sido tão queimada, não queria fazer isso com os outros. Não havia armadilhas", acrescenta.

Cultura de trabalho tóxica

Contudo, os rumores sobre um bastidor menos jovial começaram a ganhar corpo com uma publicação de 2020 no site BuzzFeed, que afirmava que o programa tinha uma "cultura de trabalho tóxica", incluindo assédio sexual, bullying e racismo.

Três produtores foram demitidos, e DeGeneres foi acusada de não ser tão agradável com os funcionários em particular como era em público.

Em maio, a comediante anunciou o fim do programa, mas negou que isso fosse uma consequência dessas acusações. "Preciso de um novo desafio", disse ela à publicação The Hollywood Reporter.

Mas Ellen DeGeneres foi alvo de mais polémicas, como quando defendeu o comediante Kevin Hart depois de ter sido "cancelado". "De repente, ela caiu em desgraça", assinala Murphy. "Ela parecia estar ligada com as celebridades e com o público, mas não com as pessoas que trabalhavam para ela", remata.