«Estado de Graça», na RTP1, é um divertido programa de comédia ao estilo do humor que nos habituámos a ver nos sketches de Herman José que, além de Joaquim Monchique, conta com as presenças de Ana Bola, Maria Rueff, Eduardo Madeira e Manuel Marques.

O palco, as luzes e o plateau são o elemento deste homem que nasceu ator. A SapoTV, Joaquim Monchique desfia memórias e fala de sonhos, prazeres e felicidade.

Ouviu pela primeira vez palmas numa festa da escola quando tinha seis anos. Essas palmas foram determinantes para a sua carreira de ator?
Completamente. Mais do que as palmas, o que foi determinante foi saber que num palco me sentia bem e perceber que era o meu elemento. Desde aí sempre gostei de palcos, sempre achei o lugar mais mágico do mundo, onde tudo pode acontecer, onde o tempo pára e onde os sonhos podem ser realizados.

Ainda muito jovem frequenta o curso de atores do Centro Cultural de Benfica e do Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral, que termina com 20 valores. Sente que nasceu para ser ator?
Sinto que é uma vocação, «ter» várias vidas sempre me fascinou, por isso mesmo acho que os atores são sempre mais open-minded e sem preconceitos do que as outras pessoas, somos, no fundo, o espelho das sociedades. É uma profissão fascinante.

Em 1988 fez um casting para o Teatro Aberto e ficou lá a trabalhar quatro anos. Foi fundamental esta aprendizagem para a sua carreira?
Com 18 anos fiquei a saber como funcionava um teatro e um palco. Estrear ao lado do Mário Viegas (um dos maiores de sempre) dos «grandes» como João Perry, Catarina Avelar, Rogério Paulo, etc... no fundo, foi o meu conservatório. Também foi no Teatro Aberto que fiz o meu protagonista com 19 anos, ganhando logo prémios de revelação. Foi uma grande escola.

Um ano depois estreou-se na RTP no teleteatro «Dulcineia». Que memória guarda dessa sua primeira experiência televisiva?
Adorei as câmaras, os estúdios, uma linguagem e métodos completamente diferentes do teatro, e conhecer por dentro a caixa mágica, que, como filho único que sou, me serviu de companhia durante a infância e juventude, foi fascinante.

No ano seguinte Filipe La Féria convida-o para a «Grande Noite» na RTP1. É aí que os portugueses reparam verdadeiramente em si?
É dos programas que mais me deixou saudades, por tudo, pelo projeto, por trabalhar com o Filipe La Féria, num programa por onde passaram todos os grandes da comédia e do musical em Portugal. Tive o privilégio de conhecer as vedetas vivas da revista e do humor nacional, era um programa com audiências extraordinárias...

Logo a seguir La Féria volta a convidá-lo para o «Cabaret», também na RTP1. A partir daí nunca mais parou: fez teatro, comédia, sketches, dobragens e até apresentou programas. Qual é o seu maior sonho profissional?
É de certeza ter um teatro meu. Se me saísse o Euromilhões, era a primeira coisa que fazia.

Entre 2003 e 2006 fez para a rádio os «Cromos da TSF». Foi uma boa experiência?
Adoro fazer rádio, no fundo gosto de todos os meios de comunicação, acho que, acima de tudo, sou um comunicador, e a rádio faz parte da minha memória.

Em 2005 encena «A Partilha», de Miguel Falabella, com Teresa Guilherme, Patrícia Tavares, Sílvia Rizzo e Rita Salema, que foi vista por mais de 90 mil espetadores em todo o País. O que sentia quando via as salas cheias?
Foi a minha primeira experiência como encenador, com quatro maravilhosas atrizes, e com um texto de um dos meus melhores amigos. Ter assim um êxito na minha estreia é um grande motivo de orgulho e satisfação.

Foi padrinho das Marchas de Alcântara, Olivais e Castelo mas este ano ganhou o primeiro lugar como padrinho da Marcha do Alto do Pina. Ficou radiante?
Sou lisboeta de gema, gosto de santos populares, de sardinhas assadas, de marchas, de bailaricos, e adoro descer a Avenida da Liberdade. A vitória da marcha do Alto do Pina, no ano em que sou padrinho pela primeira vez, é uma satisfação para os padrinhos, e, claro, para os marchantes e gentes do bairro.

Também já participou em campanhas de publicidade, apresentou espetáculos para empresas e foi modelo do criador Miguel Vieira na Moda Lisboa e no Portugal Fashion. A sua criatividade não tem limites?
Todos os dias acordo com ideias de coisas novas para fazer, acho que tenho uma imaginação delirante, tenho pena que não tenha tempo nem dinheiro para tudo o que já pensei fazer.

Em 2007 foi presidente do júri do programa da RTP, «Aqui Há Talento». Pesou mais a experiência profissional ou humana?
Adorei fazer o «Aqui Há Talento» porque é a coisa que mais gosto, ver talento, seja ele qual for. Depois o efeito surpresa, já que o júri não sabia o que ia ver, fez deste programa um projeto feliz.

Fez parte do elenco da novela «Negócio da China», a convite do autor, Miguel Falabella, e foi muito elogiado pela imprensa brasileira, e não só: recebeu prémios no Brasil. Ficou surpreendido com o sucesso?
Fique muito feliz, ser reconhecido num país que não é o nosso, sentir o calor do público brasileiro, as nomeações e prémios que recebi, e trabalhar numa das televisões mais importantes do mundo, é sempre motivo de orgulho. Fazer esta novela do meu amigo Falabella foi mais um sonho realizado na minha carreira, em breve vou voltar...

Também desfilou no Carnaval carioca integrado na Escola de Samba Grande Rio, como figura de relevo. Sente-se honrado com as deferências?
Gosto muito de carnaval e desfilar na maior festa do mundo é indescritível, e ouvir o público chamar por mim, arrepia. Sem dúvida, um dos momentos mais felizes da minha vida.

Um dos seus sucessos mais recentes foi a peça, «Mais Respeito que Sou Tua Mãe» vista por mais de 40 mil pessoas. Sente-se como peixe na água em cima do palco?
O palco é o meu elemento, mais nesta peça que era muito minha, já que a descobri em Buenos-Aires, traduzi-a, adaptei-a, dirigi os atores, fiz o cenário e protagonizava. É um dos meus maiores sucessos, um ano de lotações esgotadas, depois de ter estado a fazer durante quatro anos o «Paranormal», que teve 150.000 espectadores, tornando-se no monólogo mais visto de sempre do Teatro Português.

Agora podemos vê-lo no «Estado de Graça», na RTP1 com a equipa que trabalhou com o Herman. Tem saudades de trabalhar com Herman José?
Tenho sempre saudades de trabalhar com os melhores, e com o Herman, meu ídolo de juventude, trabalhámos juntos 10 anos, com tantos e tantos êxitos, claro que deixa saudades.

Sente-se feliz com tudo o que conseguiu?
O melhor ainda está para vir...

O que é verdadeiramente importante na vida?
Ter saúde e ter as pessoas de quem gostamos ao nosso lado, o resto consegue-se...

Tem medo de quê?
De tanta coisa, de perder faculdades, do rumo que o país pode levar, da impotência, dos compadrios, etc, etc...

O que mais odeia na vida?
Maldade, burrice, incompetência.

O que lhe dá mais prazer?
Representar, viajar, ler, ouvir música, ouvir risos... e, claro, palmas!!!

A felicidade é o quê?
São momentos...

(Texto: Palmira Correia)

Veja aqui alguns dos melhores momentos do ator na peça «Mais respeito que sou tua mãe»