Heitor Lourenço já experimentou tudo: representação, encenação, direção de atores e até a escrita. Tudo nele é emoção e paixão, tem a alegria de viver à flor da pele porque não concebe a vida de outra forma.

Tem feito teatro com uma enorme regularidade. Mais do que televisão?
Nem sempre é fácil conciliar o teatro com a televisão, mas tenho tido muitas solicitações e gosto tanto que às vezes faço as duas coisas ao mesmo tempo. Como gosto de estar sempre ativo, às vezes até faço os meus próprios projetos.

Até é encenador das Encalhadas, uma peça hilariante com a Helena Isabel, a Rita Salema e a Maria João Abreu.
É giríssima. Está neste momento em digressão e vale mesmo a pena ver. Este também foi um processo muito divertido.

Tem feito de tudo um pouco: teatro, cinema, encenação, direção de atores e até escreveu livros. O processo criativo é o que mais o entusiasma?
É a minha hiperatividade que não me deixa estar parado.

Estas atividades complementam-se ou gosta mais de uma coisa do que de outra?
Gosto igualmente de tudo. Aliás, sempre gostei imenso da linguagem televisiva. E aquelas coisas que os meus colegas todos dizem: «o teatro é que é», para mim fazem menos sentido. Também adoro teatro e faço imenso, mas não consigo escolher entre teatro e televisão. São duas coisas completamente diferentes que me dão imenso prazer, e não acho nada que a televisão seja uma arte menor!

É verdade que tem um cão bebé?
Desde que moro sozinho, há já imensos anos, que tinha vontade de ter um animal em casa, mas como um cão exige tempo e cuidados, fui adiando. Como os meus sobrinhos também há muito tempo me pediam um cão porque a minha irmã não quer um animal em casa, acabo por ser o que faz as vontades que os pais não deixam... Ofereci-lhes o cão, mas fica na minha casa.

O cão é dos sobrinhos mas a custódia é sua?
Pois é. Embora ele ainda esteja há tão pouco tempo comigo que ainda estamos todos numa fase de adaptação. É um bulldog francês absolutamente irresistível e está toda a gente a adorar. A única coisa que me preocupa, é o tempo que me vai roubar, ainda mais porque nesta minha profissão não há horários nem um local de trabalho.

Continua a ter o prazer de viajar?
É muito enriquecedor. Quebra sempre alguns padrões mentais e ideias pré-concebidas. Ou seja, de repente, estamos noutra situação completamente diferente com outros valores em que tudo é diferente daquilo que temos como adquirido. Nunca mais me vou esquecer da primeira vez que fui à Índia, em que o choque cultural foi extremamente positivo.

Foi confrontado com outra forma de viver?
Que tinha coisas muito positivas. Não há dúvida de que aquele povo tem outra forma de estar na vida! E isso mudou imensas coisas na minha vida, até me deu força para ser vegetariano, precisamente porque na Índia a alimentação vegetariana é a principal opção alimentar.

Já é vegetariano há quantos anos?
Há 14 anos. Ainda ontem fui a uma escola para promover o último livro, e os alunos estavam muito intrigados com o facto de eu ser vegetariano e de não sentir a falta da carne.

Quando recebe amigos em casa também lhes faz pratos vegetarianos?
Faço sempre. Até porque as pessoas gostam de experimentar pratos e sabores diferentes e os meus amigos, apesar de não serem vegetarianos, adoram as minhas habilidades culinárias. Veja lá que a minha editora até me desafiou a fazer um livro com as minhas receitas, o que está prestes a acontecer.

Antes deste livro já tinha publicado dois...
O primeiro foi «As Histórias da Dona Esperança», um livro infantil de histórias que eu contava aos meus sobrinhos, e depois o «Triângulo das Portas», para jovens pré-adolescentes, e que também foi baseado numa brincadeira deles, ou seja, uma aventura de reis e rainhas em que eu e os meus dois sobrinhos somos os protagonistas.

Que idades têm os seus sobrinhos?
O João tem 16 anos e a Joana, 10. Adoro os meus sobrinhos e como costumo dizer, sou um tio completamente presente! Vou buscá-los muitas vezes e nunca falto a uma festa da escola. Partilhamos imensas coisas, até viagens! O João já foi comigo a Londres duas vezes e a Joana à Disneylândia.

Também os leva a ver espetáculos?
Sempre que se proporciona. O meu sobrinho viu praticamente todos os meus espetáculos.

Até já participou num programa de televisão consigo.
Pois foi. Quando eu fiz a «Senhora Ministra» com a Ana Bola, ele fez de meu filho num episódio. Tinha cinco anos e não se saiu nada mal. Também o costumava levar para as gravações quando estava a trabalhar com o Nicolau Breyner. O João adorava o Nicolau e ficava vidrado a olhar para ele.

O que é um bom programa para fazer com os amigos?
Gosto imenso de sair com os amigos, é o que mais me diverte. O melhor programa é ir jantar fora a um bom restaurante e depois irmos para casa uns dos outros continuar a boa conversa do jantar. Normalmente o quartel-general é a casa da Cila do Carmo, a quem nós chamamos carinhosamente a nossa «chefa»!

Que outras coisas o divertem?
Gosto imenso de ir ao cinema. Aliás, gosto de fazer todo o tipo de programas sozinho, até gosto de ir jantar fora sozinho. E vou. E viajo sozinho e gosto. Tem-se outro tempo.

E essa boa disposição de onde lhe vem?
Vem sobretudo do meu prazer de viver e de nunca dar a vida por garantida. Também não sou o género: não sabemos o dia de amanhã, vamos lá queimar os cartuchos todos, não é nada disso. As viagens, as leituras, conhecer pessoas, e o convívio com os amigos ajudam a minimizar os problemas.

A própria vida ensina a relativizar as coisas?
Acho que a maior parte das coisas não vale a pena chorar por elas. Claro que isto se deve a um treino, gosto de lhe chamar treino, que é o budismo e que para mim é a ciência da vida. Uma amiga monja escreveu um livro que se chama «Budismo, a Arte de Viver», e eu acho que é isso. O Budismo dá treino para compreendermos e aprendermos a estar dentro dessa arte de viver.

(Texto: Palmira Correia / Fotos: Bruno Raposo)