A canção foi editada este mês e a sigla, em referência a uma vagina bem lubrificada, dá todas as pistas sobre o tema da letra. Alguns consideram-na um hino feminista. Outros ficaram chocados pela sua indulgência escandalosa em detalhes. Seja como for, "WAP" alcançou o topo dos rankings nos Estados Unidos e, em algumas semanas, chegou a várias playlists recomendadas - o single também faz furor no Tik Tok e Instagram.
"I don't cook, I don't clean/But let me tell you, how I got this ring" (Não cozinho, não limpo/Mas deixa-me contar-te, como consegui este anel"), canta a rapper Cardi B, num dos poucos versos que podem ser publicados sem problemas, antes de começar a detalhar as suas proezas sexuais.
É a apresentação lírica que faz a diferença: Cardi B, do Bronx, e Megan Thee Stallion, de Houston, divertem-se ao cantar cada verso do tema.
Os críticos elogiaram a canção e um desafio de dança de "WAP" tornou-se viral no Tik Tok - o desafio tem provocado vários acidentes. No entanto, alguns republicanos escandalizados responderam com desgosto.
"#WAP (que ouvi acidentalmente) fez-me querer derramar água benta nos ouvidos", escreveu no Twitter o candidato republicano ao Congresso James Bradley, de Los Angeles.
Mas as respostas negativas não limitaram o crescimento de "WAP". "Eles continuam a falar e os números continuam a subir", disse recentemente Cardi B, de 27 anos.
"Um marco relevante para a desinformação"
Alguns utilizadores das redes sociais destacam que os conservadores que criticam Cardi B também votaram num presidente que se gabava de "agarrar" mulheres "pela v....". As suas críticas não surpreendem Sherri Williams, uma especialista em meios de comunicação de massa da American University em Washington DC, que escreveu sobre o estilo de feminismo de Cardi B.
"O patriarcado castiga sempre as mulheres por discutirem qualquer uma das suas experiências sexuais", disse à AFP. A "hipocrisia" é ainda maior se considerarmos que as duas rappers de "WAP" são negras, disse Williams.
"Tradicionalmente, os valores norte-americanos significavam a subjugação sexual e o terrorismo sexual das mulheres negras", afirmou, citando como exemplos a escravidão e pesquisas ginecológicas que exploraram as mulheres negras.
Williams acredita que a canção também revela a noção incorreta de que o feminismo é "reservado às mulheres brancas, com dinheiro, heterossexuais" com diplomas universitários de prestígio.
Para a conhecida ginecologista Jen Gunter, "WAP" é um novo "marco culturalmente relevante para combater a desinformação vaginal e vulvar". "A nossa sociedade faz com que as mulheres sintam vergonha de falar das partes de seu corpo", disse a autora do livro "A Bíblia da Vagina".
Gunter concordou que as críticas à canção eram esperadas. "Não existe nada mais perigoso para um homem fraco do que uma mulher emancipada sobre sua própria sexualidade", afirmou.
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