De acordo com a Comuna, o diretor daquela estrutura, João Mota, vai ser condecorado pelo Presidente da República, na segunda-feira.

No domingo, a Comuna - Teatro de Pesquisa cumpre 50 anos de existência e, para festejar, irá estrear, na véspera, o espetáculo “Fausto”, uma “peça comemorativa” com direção artística e encenação de João Mota, inspirada na versão mais famosa da lenda de Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe, considerada uma das maiores obras da literatura alemã, anunciou o teatro.

Trata-se de um relato da atual conduta humana, que simboliza o dilema do Homem na modernidade, busca dar significado à sua vida, de transcender a sua humanidade, com uma sede incessante de mais conhecimento e de tentar compreender todos os mistérios que ainda não foram desvendados.

No dia seguinte, dia de aniversário, o teatro estará de portas abertas a todo o público, com entrada gratuita, estando a bilheteira aberta a partir das 15h00 para entrega de bilhetes.

A Comuna - Teatro de Pesquisa, precursora do conceito de teatro-laboratório em Portugal, foi fundada em 01 de maio de 1972, por um grupo de atores que inclui nomes como Carlos Paulo, João Mota, Manuela de Freitas, Francisco Pestana e Melim Teixeira, sendo membro fundador da Convenção Teatral Europeia.

Em 50 anos de existência, realizou cerca de 150 produções, participou em mais de 55 festivais internacionais, de 19 países diferentes e, em Portugal, atuou em 86 localidades e participou em mais de 100 festivais de teatro.

Pelos seus palcos passaram mais de uma centena de atores, dramaturgos e encenadores, alguns formados na Comuna e que são hoje nomes de referência do teatro português.

O nome do teatro, escolhido por votação dos ouvintes de um programa de rádio, não foi Comuna desde o início, pois foram postas à consideração do público duas hipóteses.

“Ficámos muito contentes e surpreendidos, porque o outro nome que pusemos à discussão foi os Cómicos-Teatro Pesquisa, mas explicámos as razões, porque quando fundámos a Comuna tínhamos todos o mesmo estatuto, ganhávamos todos o mesmo ordenado - técnicos e atores… -, quereríamos criar uma comunidade para podermos estar sem essas coisas que nos separam”, que são os cargos, as funções, os títulos, explicou Carlos Paulo aos jornalistas, depois de um ensaio, na semana passada.

Essa igualdade económica foi muito importante para perceber que todos são “fundamentais no espetáculos” e o “público percebeu isso muito bem”, sublinhou, acrescentando que foi também um “prelúdio de uma revolução que aconteceu dois anos depois”.

A escolha deste nome poderia, no entanto, ter sido um obstáculo, atendendo a que o país viva sob uma ditadura, mas Carlos Paulo afirmou que “na altura não havia o estigma do comunismo e dos comunistas” junto do público e que o nome foi mesmo aceite “nesse sentido de comunidade”, admitindo, contudo, que houve alguns problemas com as autoridades.

Exemplo disso foi a televisão e as reportagens televisivas feitas na Comuna, desde a primeira reunião que tiveram até aos espetáculos que encenavam, que depois foram proibidas de ser transmitidas, precisamente por causa do nome do teatro, contou.

Nesse período, tiveram problemas com a Censura, desde logo com o espetáculo de estreia, uma criação coletiva com textos de Gil Vicente, intitulado “Para onde is”.

“Fazíamos ensaios de censura falsos. Tínhamos um texto forte e quando a Censura vinha assistir, antes de estrear, fazíamos ballet e umas coisas assim, só que eles perceberam que nós os enganámos e passaram a vir aos espetáculos”, recordou.

Um desses casos foi “A Ceia”, que “eles quiseram proibir, mas o espetáculo estava esgotado dois meses antes e nós dissemos ‘então venham aqui e digam às pessoas que não nos deixam fazer o espetáculo’, coisa que eles não assumiam. Portanto era um bocado um jogo, para vermos até onde é que chegávamos e até onde é que eles cediam. Tivemos que aprender”, contou.

Em comunicado, a Comuna afirma que, ao fim de 50 anos, “orgulha-se de continuar a ser um espaço permanente de Pesquisa de um Teatro Vivo, dramaturgia de rutura, de nascimento e crescimento de novos atores e autores, de ser um laboratório permanente em consonância com o Público, com forte impacto social e de intervenção constante na Cultura”.

A celebração do aniversário começa no sábado, às 21h00, com a estreia de “Fausto”, seguida de uma festa no café-teatro, com início às 00h00.

No domingo, a bilheteira abre às 15h00 para levantamento das entradas para o espetáculo, que terá início às 19h00.

De acordo com a companhia, no primeiro dia estarão presentes o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o vereador com o pelouro da Cultura, Diogo Moura, e o Diretor Municipal da Cultura, Carlos Moura-Carvalho.

No segundo dia, marcará presença o primeiro-ministro, António Costa.