O espetáculo "Alice na cidade: Ciências Sociais, Rap e Mais" vai juntar Boaventura de Sousa Santos no palco do Teatro Académico de Gil Vicente, na sexta-feira, às 21:30, com artistas de rap crioulo da Cova da Moura, um projeto do Porto que mistura funk, kuduro e música cigana, um contador de histórias de Tentúgal, poetas e performers, um músico brasileiro e ainda uma banda composta por estudantes de doutoramento do Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra.
O concerto de duas horas "é um exercício de democracia cultural e até de interculturalidade", mostrando uma cultura "que está do outro lado da linha - fora da cultura oficial", disse à agência Lusa Boaventura de Sousa Santos, que coordena o projeto ALICE.
A iniciativa segue a lógica do projeto ALICE, ao procurar outras formas de expressão de conhecimento, que normalmente estão sujeitas a uma invisibilidade por parte da sociedade, explanou.
O espetáculo era para contar com a apresentação do projeto Ópera Rap Global, de rappers de Rio Grande do Sul, no Brasil, mas a saída de Dilma e entrada de Temer como presidente daquele país levaram ao corte do apoio financeiro do Governo brasileiro para a viagem dos artistas até Coimbra.
Na sua intervenção no espetáculo, Boaventura de Sousa Santos vai abordar a situação no Brasil, para além de ler o seu poema "Ato Criador", onde põe em causa as distinções entre criação artística, política e científica do conhecimento.
Durante o evento, participa também a Banda Linha Abissal, composta por quatro alunos de doutoramento no CES (um espanhol, dois chilenos e um moçambicano), que resgatam uma expressão do sociólogo - linha abissal - que fala das divisões que levam à criação de dois universos, um visível e um invisível.
No espetáculo participam também os rappers da Cova da Moura Hezbó MC, LBC Soldjah, Jackson Soul Jah e Mynda Guevara, o projeto de jovens do Porto Favela 31 que mistura funk, kuduro e música cigana, o contador de histórias de Tentúgal José Craveiro, o músico Mick Mengucci, o poeta e performer Nuno Piteira, o projeto Gringo Sou Eu do músico brasileiro Frankão com influências de hip-hop, reggae e funk carioca, e dois ativistas do movimento Poetry Slam, Raquel Lima e Raul Alvares.
O evento é organizado pelo projeto ALICE, financiado pelo Conselho Europeu para a Investigação e no qual estão associados mais de 100 investigadores nacionais e estrangeiros, que procura aliar novas alternativas e pensamentos para uma Europa "pós-neoliberal", que possa dialogar com o Sul.
As conclusões do projeto vão ser apresentadas em novembro em Bruxelas, recomendando que a Europa "deve ir para a escola do mundo e aprender", que o mundo do futuro "não será um mundo europeu, mas pós-europeu", afirmou Boaventura.
O concerto é de entrada gratuita.
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