Nomeado pela terceira vez para o prémio, Galgut conquistou-o com uma história do seu país, que decorre no final do 'apartheid', na qual explora as relações entre os membros de uma família branca em decadência, através da sequência de quatro funerais.

"The Promise" é o nono romance de Galgut e o primeiro em sete anos. O autor, que vive na Cidade do Cabo, foi previamente selecionado para o Booker em 2003, com "The Good Doctor" e, em 2010, com "In a Strange Room". O seu romance de 2005 "The Quarry" foi adaptado ao cinema.

A presidente do júri, a historiadora e académica Maya Jasanoff, disse que "The Promise" surpreendeu desde o início do processo de escolha, por ser "um relato penetrante e incrivelmente bem construído de uma família sul-africana branca entre o final do 'apartheid' e o período que se lhe seguiu. A cada leitura, sentimos que o livro cresce [em dimensão]. Com economia narrativa, oferece perspetivas comoventes sobre os conflitos geracionais, reflete sobre a vida em pleno e sobre a morte", e não deixa em branco todas as implicações do passado na atual África do Sul, traduzidas na metáfora patente no título, "The Promise" ("A Promessa").

O júri compara a abordagem de Galgut à vida familiar com o estilo de narrativa do escritor norte-americano William Faulkner, Nobel da Literatura em 1949. Para a dimensão interna das personagens e sua caraterização, estabelece paralelo com a escritora britânica Virginia Woolf.

Damon Galgut faz tudo isto "com uma sensibilidade, arte e alcance que são inteiramente seus", prossegue o júri, reconhecendo na obra "uma demonstração espectacular de como o romance pode fazer ver e pensar de novo". Por isso, para o júri, "'The Promise' cumpre".

"Este é um livro sobre legados, aqueles que herdamos e aqueles que deixamos e, ao atribuir-lhe o Prémio Booker deste ano, esperamos que ressoe nos leitores, ao longo das décadas por vir".

Além de Maya Jasanoff, o júri da edição deste ano foi constituído pela editora Horatia Harrod, pela atriz Natascha McElhone, pelo professor e escritor Chigozie Obioma, também já selecionado para o Booker em anteriores edições, e pelo antigo arcebispo da Cantuária Rowan Willians.

Damon Galgut, como vencedor do Booker Prize, recebe 50.000 libras (perto de 59 mil euros).

Nascido em Pretória, em 1963, Galgut escreveu o primeiro romance aos 17 anos, "A Sinless Season". Entre as suas obras contam-se títulos como "Small Circle of Beings" e "The Beautiful Screaming of Pigs".

Em Portugal, estão publicados, com a chancela da Jacarandá, "Verão Ártico", "O Impostor" e "Um Quarto Desconhecido".

A norte-americana Patricia Lockwood, com a sua estreia em ficção, “No One is Talking About This”, o autor Anuk Arudpragasam, do Sri Lanka, com “A Passage North”, a britânica de origem somali Nadifa Mohamed, com o romance “The Fortune Men”, o norte-americano Richard Powers, com “Bewilderment”, e a sua compatriota Maggie Shipstead, com “Great Circle”, eram os restantes finalistas do Booker Prize de ficção 2021.

Nenhum dos livros finalistas está publicado em Portugal, embora Powers e Shipstead estejam editados com outros títulos, à semelhança de Galgut.

Richard Pawers é o autor de "Generosidade" e "O Eco da Memória", dois títulos publicados pela Bertrand, que também editou "Deslumbra-me", de Maggie Shipstead.