As atrizes Lídia Franco e Rita Ribeiro encarnam, na peça “Requiem por Isabel”, uma atriz em decadência e uma professora de português, num texto de Raquel Serejo Martins que permite às atrizes “brilhar”, como disse o encenador à Lusa.

Na peça, em estreia na quinta-feira, no Teatro da Trindade, em Lisboa, Lucrécia (num papel de Lídia Franco) e Isabel (interpretada por Rita Ribeiro) estão ambas na casa dos 80 anos e vivem num prédio do subúrbio, tendo personalidades e vivências diferentes.

Aparentemente sem nada em comum, as duas acabam por conviver, partilhando as histórias de vida e tornando possível uma amizade que pareceria improvável.

As duas mulheres são os seus opostos: para Lucrécia, a fama foi tudo e, apesar de vários amores, não chegou a conhecer o amor verdadeiro, enquanto Isabel é mais recatada e conservadora. Ainda assim, acabam por ser o melhor na vida uma da outra.

Com alguns apontamentos de brincadeira, a peça fixa-se num cenário despojado que ora é a casa de Lucrécia, o café onde vão tomar o pequeno-almoço ou o banco de jardim.

A peça, que põe em cena o texto de Raquel Serejo Martins vencedor da quinta edição do Prémio Miguel Rovisco - Novos Textos Teatrais, resulta de um convite do diretor artístico do Teatro da Trindade, Diogo Infante, a Tiago Torres da Silva, que integrou o júri do prémio.

O texto encantou desde logo o poeta e encenador “principalmente pelo lado poético”, confessou Tiago Torres da Silva à Lusa no final de um ensaio para os jornalistas.

“Porque há muito poucos textos escritos para atrizes mais velhas. E eu acho que isso é muito bonito, ver duas atrizes com estas idades e com este domínio da cena, do texto e da arte de representar. E acho que vemos poucas vezes isso”, sublinhou.

Sem encenar desde 2018, Tiago Torres da Silva preocupou-se de imediato com o que podia fazer dele para dizer “que até ao fim se pode ter uma vida e que pode ser sempre bom”.

Porque as protagonistas do texto têm 80 anos, “mas, de facto, aos 80 anos, as pessoas podem ter uma vida”, argumentou, invocando desde logo nomes como os de Caetano Veloso e Ney Matogrosso “que estão vivos e aos saltos no palco”.

Num tempo em que “mudou um bocadinho o paradigma do que é ser velho”, o encenador afirmou gostar muito de olhar para aquelas duas mulheres e ainda lhes reconhecer a possibilidade de “´flirtar` com a vida e com os homens que lhes aparecem”.

Numa altura em que já sentia muitas saudades de voltar ao teatro, Tiago Torres da Silva sublinhou ainda o facto de este texto permitir que as duas atrizes “brilhem”.

E ainda que a escolha das intérpretes não lhe tenha ocorrido logo, porque queria “duas atrizes em que qualquer uma pudesse fazer o outro papel”, Tiago Torres da Silva sublinhou “a mensagem de um bocado de esperança” que a peça deixa.

“Requiem por Isabel” vai estar em cena na sala Estúdio até 30 de dezembro, com récitas de quarta-feira a domingo, às 19h00. No dia 10 de dezembro, após o espetáculo, haverá conversa com o público.

A interpretar está também Baltasar Marçal. O desenho de luz é de Rui Santos e Tiago Torres da Silva, que também assina a sonoplastia. A cenografia e os figurinos são de Carlos Pessoa.