
O mundo de hoje não lhe interessa.
Aos 77 anos, James Ellroy continua a regressar à Los Angeles da sua infância, uma cidade violenta, corrupta e sórdida, e considera-se o “melhor escritor de romances policiais” do mundo.
O mestre norte-americano, conhecido pela sua arte da provocação, participa no festival literário Quais du Polar, em Lyon, no sudeste de França, e confessa em entrevista à agência France-Presse (AFP) que é “obsessivo”.
As suas ideias fixas continuam a ser sexo, polícias e criminosos corruptos, intrigas políticas, excessos de álcool e drogas, tablóides e, claro, assassinatos.
Em "A Dália Negra", "L.A. Confidential" ou "The Big Nowhere" retrata um país obscuro, num estilo que afirma ter inventado, uma mistura de gírias dos bairros de lata e frases curtas e sincopadas.
“É a linguagem do insulto”, diz o autor que desmonta mitos americanos como o dos irmãos Kennedy ou de Marilyn Monroe, a quem maltrata na sua última obra, “The Enchanters”.
“Era estúpida, vazia, pretensiosa ao extremo e com a profundidade de uma omelete. Não sou suscetível ao seu charme, desprezo-a como atriz e estou-me nas tintas para o seu estatuto alegadamente lendário”, diz, afirmando tê-la colocado no centro da sua obra “porque é reconhecível”.
"E precisava de uma mulher morta."
"Cão demoníaco"

Os livros de Ellroy, cuja mãe foi assassinada em 1958 em Los Angeles, um crime nunca resolvido, muitas vezes giram à volta de uma personagem feminina desaparecida.
Embora jure que “não tem nada a ver” com a sua infância e que “já superei isso há muito tempo”, esse assassinato é o acontecimento fundador da sua obra.
Após a morte da mãe, aos 10 anos, ficou aos cuidados do pai, um homem permissivo que o deixava fazer o que quisesse.
O jovem Ellroy gradualmente afastou-se e passou dez anos nas ruas, vivendo de pequenos furtos e drogas.
Problemas de saúde levaram-no a mudar de vida e aos 30 anos começou a trabalhar como 'caddie', carregando tacos de golfe e anotando as suas obsessões.
Meio século depois, ainda não se livrou delas: “Quero transmitir as minhas obsessões aos leitores, quero que leiam obsessivamente os meus livros”, diz o autor, apelidado de “cão demoníaco” da literatura.
Sem telemóvel
Durante um ano “escrevo à mão (...) em maiúsculas, escrevo as linhas principais e isso dá-me um esboço”, e na altura de escrever, “posso improvisar porque sei para onde vou”.
Algumas das suas personagens eram reais, mas “invento, entrelaço e divago” porque “detesto pesquisa”, admite.
Mas, mais do que investigação, detesta que lhe falem sobre política e sobre os atuais EUA, o seu presidente e as novas estrelas da Internet que poderão converter-se em incríveis romances policiais.
“O mundo de hoje não me interessa”, diz. “Não uso computador, já não tenho telemóvel”, diz este homem alto, seco e careca, de corpo frágil, que levanta a voz se alguma pergunta o chateia.
Radicado em Denver, Colorado, está a preparar o seu próximo livro, ambientado em 1962. Não gosta de ler jornais ou literatura contemporânea.
“Só leio thrillers americanos e romances populares”, em busca de “bons enredos e personagens fortes”.
“Sou o melhor escritor de romances policiais que já existiu, ninguém é tão bom ou tão profundo como eu. Mas pode ser que alguém me supere um dia”, finaliza.
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