Esta realidade está prestes a mudar, com pelo menos uma editora a anunciar a integração deste autor no seu catálogo: a Alfaguara, chancela da Penguin Random House, vai publicar, no primeiro semestre do próximo ano, o livro “Go tell it on the mountain”.
Romancista, ensaísta, dramaturgo, poeta e crítico social norte-americano, James Baldwin, negro e homossexual assumido, nasceu em Nova Iorque em 1924 e desde cedo se bateu contra o racismo e a discriminação social, em nome da defesa dos direitos dos negros e dos homossexuais.
Esta luta travou-a na vida e na escrita, tendo publicado, até à morte, ocorrida em 01 de dezembro de 1987, mais de 20 livros, entre ensaios, romances, contos, poemas e peças.
Uma dessas obras é um manuscrito incompleto, que se intitularia “Remember This House”, no qual o realizador Raoul Peck se inspirou para criar um filme que traça uma viagem à história negra norte-americana, ligando o passado do Movimento dos Direitos Civis ao presente do movimento ativista Black Lives Matter.
O filme cumpre o desejo manifestado em vida por James Baldwin de contar a história do racismo nos Estados Unidos, com relatos sobre as vidas de três amigos seus assassinados: os líderes ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr.
O documentário estreou-se em Portugal este ano, trazendo de novo James Baldwin para a atualidade, ao ponto de outro realizador, Barry Jenkins, autor do filme vencedor do Óscar “Moonlight”, ter anunciado a intenção de adaptar o romance de Baldwin “If Beale Street Could Talk”.
Editado em 1974, este é o quinto romance do escritor e narra a história de amor de um casal, que se vê forçado à separação, quando o rapaz é preso sob uma falsa acusação de violação.
Na mesma altura, a rapariga descobre estar grávida e enceta uma luta, com a ajuda da família e de um advogado, para conseguir provar a inocência do noivo antes do nascimento do filho.
Ao levar James Baldwin para Hollywood, os filmes trazem também à atualidade os temas que o autor sempre tratou, como as complexidades sentidas, embora não totalmente assumidas, nos anos 1950 e 1960, sobre a sexualidade e sobre a distinção de classes raciais nas sociedades ocidentais, em particular nos Estados Unidos.
O seu trabalho tem sido recuperado também por outros autores que procuram afirmar a sua relevância em 2017 como em 1967, sendo múltiplos os textos que salientam a necessidade de se ler Baldwin para compreender os Estados Unidos da América hoje, sob a presidência de Donald Trump.
As preocupações de James Baldwin em torno da condição humana são particularmente exploradas nos seus ensaios “Notes of a Native Son” (1955) e Nobody Knows my Name: More Notes of a Native Son” (1961).
Alguns textos ensaísticos do escritor ativista assumem a dimensão de livros, como acontece com “The Fire Next Time” (1963), “No Name in the Street” (1972), e “The Devil Finds Work” (1976).
Ao longo da sua vida literária, James Baldwin transformou também em ficção e em peças as suas dúvidas e os seus dilemas pessoais, relacionados com as pressões sociais e também psicológicas que tornavam impossível integrar e igualar na sociedade tanto negros como homossexuais e bissexuais.
Oriundo de uma família pobre, James Baldwin cresceu com a mãe e com o padrasto, um pastor do bairro nova-iorquino de Harlem, uma vez que o seu pai biológico fora abandonado pela mulher, devido ao abuso de drogas.
Aos 10 anos, foi provocado e abusado por dois polícias nova-iorquinos, num caso de assédio racista pelo Departamento de Polícia de Nova Iorque, que se repetiria mais tarde, quando já era adolescente, e que Baldwin documentou nos seus textos.
O dia em que fez 19 anos, em 1943, ficou marcado por ser também o dia do funeral do seu padrasto, do nascimento do seu último irmão e o dia do motim de Harlem, retratado no início de seu texto "Notes of a Native Son".
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