“Há cerca de dois anos que percorro festivais e outros eventos culturais à procura de um modelo interessante, mas só agora, no Festival Bons Sons, encontrei algo verdadeiramente interessante para replicar nas aldeias onde trabalho”, afirmou a animadora cultural Silvia Villar, à agência Lusa.

Natural de Migran, na Galiza, a responsável por uma associação que trabalha com “montes”, ou seja, pequenos aglomerados populacionais onde a maioria dos habitantes desenvolve trabalho nas redondezas, considerou o exemplo do Festival Bons Sons “o equilíbrio perfeito entre uma comunidade, a cultura e uma muito boa organização”.

O Bons Sons é um festival inédito em que, ao longo dos quatro dias da sua realização, a aldeia de Cem Soldos é fechada e o seu perímetro delimita o recinto, promovendo uma relação de proximidade entre a população, que ronda os mil habitantes, e o público, que nesta edição deverá chegar aos 40 mil festivaleiros.

Criado em 2006, com periodicidade bienal, e transformado em anual desde 2015, o festival é marcado por uma forte componente comunitária, envolvendo toda a população na sua organização e revertendo os seus lucros para a realização de melhorias na aldeia.

“É muito curiosa a vivência que se estabelece entre as pessoas que aqui vivem e a enorme diversidade de pessoas que vêm de fora”, sustenta Silvia Villar.

À vivência da aldeia, onde durante o festival todas as portas se abrem aos forasteiros, a animadora cultural junta “o modelo de programação muito diversificado” como outro dos fatores que a fazem querer adaptar a experiência às comunidades com que trabalha.

“Obviamente que em Espanha teremos que adaptar o programa à nossa cultura, mas este exemplo de juntar num mesmo espaço pessoas de todas as idades e gostos, conseguindo criar alternativas para todos” levou hoje a festivaleira a encetar contactos com a organização para “voltar à aldeia alguns dias e aprender com os responsáveis como pode iniciar um projeto destes”.

Um repto que fonte da comunicação do Festival disse à Lusa ir “ao encontro daquele que é também o objetivo dos organizadores”, para os quais “a disseminação deste tipo de projetos é bastante benéfica”.

O Festival Bons Sons abriu portas na sexta-feira, tendo a primeira noite do programa sido marcada pelas atuações da Kumpania Algazarra e Danças Ocultas e a Orquestra Filarmonia das Beiras, enquanto noutros dos oito palcos da aldeia atuaram grupos como Alentejo Cantado, Birds are Indie, João e Sombra, entre muitos outros.

Já hoje subiram ao palco “Música Portuguesa a Gostar Dela Própria”, na igreja da aldeia, as Adufeiras do Paúl e os Tunos, a marcar o arranque de uma tarde em que por Cem Soldos se ouvirão as sonoridades de LODO, Da Chick, Grutera, Lavoisier, Niagara, DJ Lilocox, Puto Márcio, Few Fingers, Tiago Pereira, culminando o programa com as atuações de Cristina Branco e Deolinda.

O festival, que comemora este ano o 10.º aniversário, prolonga-se até segunda-feira, estimando a organização que nesta 7.ª edição passem por Cem Soldos 40 mil festivaleiros.