“‘Trop d'Amour’ ('Demasiado amor', em português) é uma peça de teatro que mistura duas línguas, que são o português e o francês, e é uma peça em forma de puzzle, quebra-cabeças, que conta a história de uma velhota (representada por uma jovem) que revisita os eventos que marcaram a sua vida, ao mesmo tempo que fala com a sua neta, representada pelo público”, disse à agência Lusa Esther Moreira, autora e encenadora.
Com três sessões no Nouveau Théâtre de l'Atalante, em Paris, a começar às 19h00 e com uma duração de uma hora e um quarto, trata-se de um “dueto bilíngue entre uma atriz e um baterista”, numa mistura entre “o político e o íntimo” em que a personagem principal reconstitui a sua história de vida e o seu percurso entre França e Portugal.
“É uma maneira de a personagem relembrar o seu passado, a sua história e é também uma maneira de contar a história de Portugal e a história da emigração portuguesa em França”, disse a autora, acrescentando que “a peça é maioritariamente em francês, mas tem momentos em português que não são traduzidos”.
A mistura de línguas é uma maneira de contar a história da personagem portuguesa, já que ao emigrar para França não deixou de usar “palavras importantes para ela, que vão sair em português unicamente”.
Para Esther Moreira, o espetáculo é “uma reflexão sobre como o exílio tem consequências sobre a família e como a emigração tem impacto sobre os laços familiares”, já que os novos membros nascem a identificar-se mais como franceses do que portugueses.
A encenadora, que é filha do jornalista e repórter francês Paul Moreira (nascido em Portugal), resolveu tratar “com humor e vitalidade” um tema que lhe é subjacente, refletindo “a questão da diferença de classe social entre os avós e os filhos”.
“Acho que o importante nesta peça é que pode parecer [um tema] muito duro, com uma história um pouco sombria, que também tem uma necessidade de ter vida e ser feliz”, referiu.
Esther Moreira é diretora artística da companhia Écraser des Mouches (Espantar as moscas), criada em 2020 para trabalhar sobre os textos que escreve como o seu primeiro espetáculo, "Montrer ses dents" ("Mostrar os dentes").
A companhia de teatro contemporâneo e musical procura que as peças sejam “simples para que toda a gente possa ver e gostar”, tentando ter um teatro popular, mas também exigente, com Esther Moreira a expressar também o que acha “importante politicamente”.
Já a componente musical é “muito importante” para a autora, por ser “uma maneira também de falar ao coração das pessoas e não à mente”, ou seja, “mais direta, menos intelectual”.
“Eu acho que tenho uma atenção especial para o ritmo no teatro, na maneira de jogar com os atores, e também no ritmo de maneira geral na peça (…) é uma maneira de fazer um ato mais popular, que é uma coisa importante para mim”, acrescentou.
O espetáculo "Trop d'Amour", pensado para um público com mais de 15 anos, já tem mais uma representação marcada, para o dia 27 de março de 2025, em Vitry-le-François, a cerca de 200 quilómetros a sudeste de Paris.
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