A mostra, intitulada “A Oficina de Saramago”, insere-se nas celebrações do centenário do nascimento do autor de “Memorial do Convento”, cujo legado ultrapassou fronteiras geográficas e culturais, “colocando-o também entre os principais nomes da literatura mundial”, assinala a Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).
A Biblioteca entende ir ao encontro do pensamento do autor que, numa carta datada de 1960, escreveu ao escritor José Rodrigues Miguéis (1901-1980): “Não só o crítico gostará de conhecer os ‘móbeis’ e os bastidores da criação: parece-me até que o público será quem mais o apreciará, tão desacostumado está de meter o nariz na oficina do escritor”, cita a BNP.
A exposição “parte da premissa de que um escritor – um grande escritor – não vem do nada”.
“O momento em que abrimos um romance, um volume de contos ou uma coletânea de poemas é verdadeiramente o ponto de chegada de um trajeto, marcado por um trabalho que inclui leituras, pesquisa, escrita e reescrita. É, sobretudo, a esse trabalho que a presente exposição busca dar destaque, facultando um acesso em muitos aspetos inédito aos bastidores da criação de José Saramago”, lê-se no comunicado hoje divulgado.
A exposição está organizada “em três grandes eixos, que dão a conhecer as várias bibliotecas relacionadas com o universo escritural de Saramago: aquela que antecede ou que alimenta a obra, a da obra em si e aquela que se lhe seguiu".
A BNP destaca ainda que a mostra inclui “testemunhos materiais muito expressivos como atestação do que foi o referido trabalho do escritor”.
“Esses testemunhos são agora mostrados, nalguns casos pela primeira vez, integrados todos num conjunto que se pretende harmonioso e condizente com a ideia de uma narrativa, devendo a visita ao que é mostrado constituir uma ‘leitura’ que obedeça à lógica subjacente àquele conceito”.
Disso decorre que o arco temporal abarcado pela exposição é bastante amplo e que esta se interessa tanto pela criação como pela receção do escritor, ainda que o foco expositivo esteja sobretudo na primeira.
José Saramago descende de uma família de camponeses de Azinhaga, no Ribatejo, onde nasceu, tendo-se fixado em Lisboa, com os pais, em 1924.
O autor fez na capital portuguesa os estudos secundários, trabalhando, depois, como serralheiro mecânico. Em 1944 casou-se com Ilda Reis e entrou, entretanto, para a função pública, num organismo de Segurança Social.
Em 1947, quando nasceu a sua única filha, Violante, Saramago publicou o seu primeiro livro, “Terra do Pecado”. Tentou ainda dois outros romances, mas decidiu abandonar o projeto literário que retomou em 1966, quando publicou “Os Poemas Possíveis”. Ficou desempregado por motivos políticos, em 1949, tendo posteriormente ido trabalhar para uma empresa metalúrgica.
No final da década de 1950, trabalhava na editorial Estúdios Cor. Fez várias traduções, tendo ainda sido, por pouco tempo, crítico literário. Voltou a editar títulos seus no início da década de 1970.
Em 1970, divorciou-se de Ilda Reis e iniciou uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega. Trabalhou posteriormente no Diário de Lisboa, onde coordenou o Suplemento Cultural e foi editorialista. Em 1975, entrou como diretor-adjunto no Diário de Notícias.
Saramago retomou o trabalho literário em 1980 e, em 1998, recebeu o Nobel da Literatura, sendo até hoje o único escritor de língua portuguesa distinguido pela Academia Sueca.
A exposição, com curadoria dos investigadores Carlos Reis e Sara Grünhagen, e com pesquisa arquivística de Fátima Lopes, da Biblioteca Nacional, é inaugurada na próxima segunda-feira, as 16h30.
A sessão poderá vir a contar com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
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