A ideia partiu de Luís Ferreira que, em 2006, quando o clube local - o Sport Club Operário de Cem Soldos - comemorava 25 anos, sentiu a necessidade de a aldeia se posicionar de uma forma diferente em termos culturais e, simultaneamente, gerar novos palcos para a música portuguesa.

Na aldeia onde a organização do arraial já era feita de forma comunitária, a ideia de um festival de música foi transmitida nas assembleias do clube e de porta a porta aos moradores, que agarraram a ideia de transformar Cem Soldos num recinto de festival onde toda a comunidade trabalha para receber os 40 mil visitantes esperados.

Dez anos depois, em todas as edições continua a haver “uma aldeia inteira a mexer-se”, assegura Luís Ferreira, aludindo aos cerca de 400 voluntários da comunidade que trabalham para o festival, que cumpre a sua sétima edição.

São os que “estão nos serviços, os que cedem terrenos, os que abrem as suas portas e jardins para serem espaços de restauração, os que cedem terrenos para o estacionamento, ou para o campismo, que não se incomodam com o barulho ou que se incomodam mas não reclamam”, acrescenta.

Maria do Carmo Pires, de 61 anos, é uma das dez moradoras que desenvolve o projeto “Costura Criativa”, dando continuidade ao trabalho de um grupo de avós que começou por costurar a “Tixa”, a mascote do festival.

À mascote juntam-se agora sacos de pano, pregadeiras, porta-chaves e travessões que constituem o material promocional do festival e cujos lucros revertem “para melhorias na terra”, afirmou, satisfeita com o facto de o público comprar as recordações do festival.

Na cozinha da igreja, transformada por estes dias na copa onde são preparadas as refeições para os músicos, Leonor Atalaia coordena os 20 voluntários, divididos em escalas de quatro horas, que fazem chegar aos camarins os pedidos de cada banda.

Por exemplo “um litro de sumo de laranja natural” pedido pelos Keep Razors Sharp, que atuam no domingo, obrigando Leonor a agarrar-se ao “espremedor”. À cozinha chegam “outros pedidos engraçados”, todos com resposta pronta para que todos os artistas “saiam satisfeitos”, sublinha.

Satisfeitos andam também os festivaleiros que desde sexta-feira afluem à aldeia, alguns em modo repetente, como Flávio Ferreira, pela segunda vez atraído “pela música, a aldeia, as pessoas e o espírito do festival”.

Dos seis anos que separam as duas passagens por Cem Soldos destaca diferenças como a existência de “mais pessoas” e “mais jovens” num festival que “ficou maior”, mas onde o espírito permanece o mesmo”.

Isso mesmo confirma António Carvalho, natural de Cem Soldos, e que se pode gabar de “trabalhar para as festas da terra há cerca de 45 anos”.

Este ano meteu folga no que toca a ajudar, mas reconhece o esforço do resto da população que diz fartar-se “de trabalhar” para os “espetaculares” festivaleiros que por ali passaram em dez anos de festival, com “tudo a correr sempre bem”, conclui.

O Festival Bons Sons abriu portas na sexta-feira e prossegue até segunda-feira, com 50 concertos a decorrer nos oito palcos da aldeia que é todo o recinto do festival.