A menos de três meses para as eleições presidenciais, 100 milhões de seus seguidores no Instagram, TikTok e Twitter receberam nas suas timelines, a 11 de julho, o posicionamento da cantora e um aviso tácito de que é contra Jair Bolsonaro (PL).

"Não sou petista e nunca fui. Mas este ano estou com Lula e quem quiser a minha ajuda para fazer ele bombar aqui na Internet, no TikTok, Twitter, Instagram é só pedir que estando ao meu alcance e não sendo contra lei eleitoral eu faço", escreveu a artista nas redes sociais.

Esta foi a primeira vez que Anitta, de 29 anos, sinalizou apoio a um candidato, posicionamento crucial para "furar a bolha" de apoiantes, segundo investigadores ouvidos pela AFP, que consideram uma boa estratégia a articulação de políticos com influenciadores digitais.

"A esfera pública articula-se nas redes sociais, e isso significa que é preciso considerar o digital como central para a discussão, para o debate político", avaliou Issaaf Karhawi, investigadora em comunicação digital na Universidade de São Paulo (USP).

Karhawi observa que a entrada de Anitta no debate eleitoral pode atrair perfis que não costumam interagir com política. "Esses influenciadores digitais não são necessariamente influenciadores que falam de política. São influenciadores que falam de lifestyle, de viagens, de muitos outros assuntos. Mas que, em certa medida, o posicionamento deles faz com que o jovem reflita sobre política", disse.

Nesse sentido, a cantora tem dado conselhos a Lula usar melhor o TikTok, uma das redes de vídeos curtos de maior sucesso entre os jovens.

Segundo Pablo Ortellado, professor de políticas públicas na USP e coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital, a adesão de Anitta à campanha de Lula "é carregada de um simbolismo, porque ela sempre mostrou reserva em relação ao PT".

A própria cantora deixou claro, em outro comentário, que não queria ver sua imagem vinculada ao partido em si:  "Não usem o meu nome e a minha imagem para promover a candidatura e o partido de vocês por que quem usar vai tomar logo um 'forão'", avisou.

O pesquisador da USP diz que, devido ao alcance desses influenciadores, o apoio às campanhas políticas são importantes no meio digital. No entanto, não garante o respaldo da massa de apoiantes na hora de votar.

Segundo uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada em 27 de julho, Lula lidera as preferências entre eleitores de 16 a 29 anos de 12 capitais brasileiras. O petista tem 51% do apoio dos jovens, contra 20% de Bolsonaro. A sondagem aponta que o ex-presidente tem melhor desempenho entre as mulheres dessa faixa etária: 58%, contra 16% de Bolsonaro. Entre os homens, conta com 44%, enquanto Bolsonaro marca 24%.

Impacto nas redes sociais

O especialista em redes sociais Pedro Barciela analisou a interação após a cantora ter anunciado o apoio ao ex-presidente nas eleições gerais de outubro: "Ela permite que uma série de outros utilizadores que não estavam interessados no debate político, passem a se interessar".

"Quando pensamos nestes influenciadores, nestes atores centrais de outros agrupamentos que se envolvem com a eleição, eles permitem e possibilitam que os candidatos se comuniquem com atores que estão para além da polarização", avaliou.

No entanto, nem tudo são flores, e a cantora de "Envolver" passou a ser alvo nas redes sociais de desqualificações e conteúdos falsos, inclusive de cunho sexista como "deep fakes".

Segundo Barciela, esse é o "modus operandi" dos apoiantes de Bolsonaro.

"O bolsonarismo atua de forma muito organizada no sentido de ser hierarquizado e ter sempre um alvo muito específico", complementa, ao citar outros exemplos, como os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin e do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes.