Enquanto o sol se deitava, a entrada do Jardim do Marquês do Pombal, em Oeiras, enchia-se numa fila que percorria cada vez mais rua. Com uma atuação esgotada, a Orquestra Buena Vista Social Club foi o destaque do EDPCoolJazz da passada quinta-feira e não desiludiu nesta despedida dos palcos.
O começo foi calmo, com apenas o piano a solo de Rolando Luna, enquanto nos ecrãs se homenageava o grande pianista Rubén Gonzalez que, como muitos outros membros da banda original, já só nos acompanha em memórias e gravações. O segundo tema continua instrumental, mas agora com os restantes membros em palco, até que por fim entra uma das vedetas para dar inicio às cantorias. Eliades Ochoa, acompanhado pelas vozes em coro dos fãs, dá seguimento às homenagens dos músicos cubanos que ficarão para sempre na história, como Orlando "Cachaito" López, Pío Leyva, Compay Segundo e Ibrahim Ferrer.
Como os especiais chegam normalmente por último, entra em palco “la mas sexy”, Omara Portuondo. Sem dúvida a desejada da noite que mesmo com 83 anos cantou sem desafinações, atingindo graves e agudos em vibratos de fazer arrepiar. Não é só a voz que se mantém em condições, a sua energia foi de admirar, interagindo constantemente com o público ao incentivar palmas ritmadas para uns pezinhos de dança cha-cha-cha. Cantou com alma músicas, tais como "20 anõs", que a acompanham desde a infância, e ainda houve direito a um duo com a convidada surpresa Ana Moura, que vai colecionado duetos com grandes nomes internacionais da música, no tema "Bésame Mucho", “como si fuera esta noche la última vez”.
Nesta última noite, em que até quem pagou para estar sentado se levantou para dançar, em que quem tinha dificuldades em ver, pela distância, se conformou para bailar, e em que a alma de quem vive tocou com o espírito de quem já partiu, deu-se o adeus, com vozes inesquecíveis e solos lendários que remetem a histórias das tradições de Cuba.
É com todos em palco, incluindo a nossa fadista, que se dá por terminada a noite do último concerto em Portugal da Orquestra Buena Vista Social Club. Pelo incentivo de Ry Cooder a gravar um disco de músicas cubanas, homenageando um clube musical de Havana, onde nos anos 1940 havia jams intermináveis, juntou-se um grupo de lendários e virtuosos músicos, alguns já esquecidos e afastados dos seus instrumentos, num disco que leva 17 anos de atividade, mas mais de meio século de vivências e que abriu as portas de Cuba ao mundo.
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