"A Tempestade", de William Shakespeare, pela Compagnia Marionettistica Carlo Colla & Figli, de Itália, foi eleita "espetáculo de honra" pelo público da 41.ª edição do Festival de Almada, que terminou esta noite.

Esta versão da derradeira peça de Shakespeare, foi traduzida pelo ator e dramaturgo italiano Eduardo De Filippo (1900-1984) para língua napolitana do século XVII. A votação do público, que teve a participação de 399 pessoas, garante-lhe assim o regresso à próxima edição do festival, a 42.ª, a realizar nas primeiras semanas de julho de 2025.

Em segundo lugar, na votação, ficou a peça “Crise de nervos”, a partir de três atos de Anton Tchekhov, trabalhados pelo encenador alemão Peter Stein, seguida de "Sans tambour" ("Sem Tambor"), uma produção do Théâtre des Bouffes du Nord, de França, com encenação de Samuel Achache e direção musical de Florent Hubert.

A versão de "A Tempestade" contou com o mestre Eugenio Monti Colla (1939-2017) na conceção e construção das marionetas - cerca de 150, algumas com mais de um metro de altura -, assim como na elaboração dos figurinos e na encenação.

O texto de apresentação da peça destaca que esta produção se tornou mítica, sobretudo por "contar com a voz de Eduardo De Filippo, ‘falando’ [quase] todas as personagens", gravadas pelo ator no seu último ano de vida.

A Carlo Colla & Figli foi criada como companhia itinerante de teatro de fantoches em 1835, mas desde 1906 mantém o seu centro de atividade em Milão, segundo as notas do programa. A companhia detém um arquivo com mais de 600 manuscritos e todos os guiões do seu repertório. Franco Citterio é o seu atual diretor.

A 41.ª edição do Festival de Almada encerrou na noite de quinta-feira com a segunda e última récita de “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht, com encenação de António Pires, e a representação de “Onde vou à noite”, pela companhia francesa Maurice et les Autres.

Dezanove peças de teatro e 17 concertos preencheram a programação deste ano do festival realizado em vários espaços da cidade de Almada, que nesta edição contou com uma extensão ao Centro Cultural de Belém, em Lisboa, onde Robert Wilson apresentou duas récitas de “Relativ calm”.

Composta por espectáculos muito diferentes, como disse Rodrigo Francisco, diretor da Companhia de Teatro de Almada, anfitriã do certame, os 15 dias do festival foram ainda preenchidos por atividades paralelas, como concertos, exposições, ateliês e um 'workshop' intitulado “O sentido dos mestres”, ministrado pelo escritor Rui Cardoso Martins.

A companhia de teatro A Barraca foi a homenageada este ano, tendo sido alvo de uma instalação do arquiteto e cenógrafo José Manuel Castanheira.

“Um sonho de Federico García Lorca nasce em Lisboa”, o nome da instalação, repõe a ligação entre a companhia fundada por Maria do Céu Guerra e Mário Alberto em 1975, na capital portuguesa, com o grupo de teatro universitário La Barraca, que Federico García Lorca ajudou a fundar e dirigiu, cerca de 40 anos antes, durante a República espanhola, e a que a Guerra Civil (1936-1939) pôs fim.

A instalação esteve patente durante o Festival de Almada no átrio da Escola D. António da Costa.