Um regresso pela porta grande ao Super Bock Super Rock. ProfJam esteve de volta ao festival do Parque das Nações com os seus versos assertivos e didáticos. Com novo álbum à porta, fez questão de apresentar um novo tema no palco EDP, "Água de Coco", e de revisitar os temas de "Mixtape", de 2016, que ainda leva ao rubro centenas de fãs. Em entrevista ao SAPO Mag, fez questão de apresentar as suas influências mas também a mensagem que pretende em cada rima que exterioriza.

SAPO Mag: Foi um início tramado de concerto. Estavam a tentar Matar o teu Game.

ProfJam: Mesmo. Mas um gajo não deixa.

E o pessoal também não deixou. Já não é a primeira vez que apareces aqui. Estiveste aqui há dois anos, com o Mike el Nite. Destes dois anos para cá, o que mudou para ti, profissionalmente? Também foste para Londres estudar...

ProfJam: Foi um processo de profissionalização. Basicamente fui estudar Produção Áudio e aprendi as partes interiores da produção áudio. Desde da qualidade técnica a mais coisas. E percebi que não basta só fazer uma coisa e mandá-la para o ar. Há um processo para levar para o outro nível. Foi isso. Nunca lancei um álbum de estúdio porque embora tivesse mixtapes conceptualizadas, que para mim são álbuns, tecnicamente e comercialmente não são. Não foram gravados nas melhores condições e não foram misturados nas melhores condições. Roll Out não é um projecto sério e agora tenho a cabeça noutro nível. Evoluí um bocado. Como sair das escolas e jogar profissionalmente. Tenho preparado de maneiras diferentes para fazer aquilo que quero para fazer acontecer. Menos é mais. Isso tipo de cenas que vais ganhando com as experiências. É isso que tento passar aos putos da minha label. Mais vale um som bem lançado do que dez à toa.

ProfJam

E vai na linha do som que lançaste há pouco, "Água de Coco". Um processo gradual, esse que estás a fazer.

ProfJam: É sim. É um projecto em colaboração com o Lhast, produzido por ele. A ideia criar um sound único. Um projeto de estúdio, no bom termo da palavra. Tudo original. Não usar métodos amadores e fazer uma cena que me orgulhe, ele se orgulhe e as pessoas gostem. De uma maneira boa. A todos os níveis: visuais, auditivos, mensagem. Tudo isso. Gosto de ser o pacote completo.

Os Flintstones eram os desenhos animados favoritos quando eras puto?

ProfJam: Não eram os meus! O meu pai é que muitas vezes, quando saia do trabalho diz “Yabba Yabba Doo!” Que é quando o Fred sai e não sei quê... Todo contente para ir para casa, para beber uns copos. Então o Yabba surgiu disso. Dos Flintstones, da cena: há tempo para trabalhar, há tempo para curtir. E eu, quando curto também aprendo e ponho no meu trabalho. Graças a Deus, tenho sorte de viver como artista, para já. O que eu aprendo, aplico sempre. O Yabba é isso. É sair do concerto e ir curtir. Essa curtição vou pegar nela e vou por na minha música para o pessoal curtir. E é um feedback loop. Joga e treina ao mesmo tempo. Mas os meus desenhos animados favoritos, sei lá... Curtia o Dexter’s Laboratory, cenas do Cartoon Network. Curtia bué o Doraemon, adorava. Ninja Hattori, Super Campeones. Era Panda e Cartoon Network. Não havia a variedade de agora. Depois mais tarde tipo Simpsons, essas cenas. Family Guy. Desenhos animados para adultos.

Já que estamos nesta viagem à infância. Tens Prof no teu nome. Qual era a tua disciplina favorita?

ProfJam: Eish, já não penso nisso há imenso tempo. Tive várias fases, foi desenho, matemática. Se tivesse de dizer uma, all time, nem sei bem. Talvez matemática ou uma cena tipo português. Aquelas clássicas. Estudo do meio. A verdade é que era bom aluno a tudo. Então gostava de tudo. Tudo tem um pouco de interesse. Acho que era mais professores favoritos e não disciplinas favoritas. Era consoante o professor que puxava para a disciplina. Se calhar não tenho uma disciplina favorita. São todas. Se agora começares a falar de pesca submarina e se conseguires puxar para a cena, vou ficar interessado e vou procurar depois. Não somos nós enquanto alunos que fazemos o programa, portanto levamos um pouco com aquilo que é importante para a sociedade, para as pessoas aprenderem. Mas fazia uma alteração. As cenas dos impostos. Tipo, aprender a receber dinheiro. Eu acho que saí da escola e da faculdade sem grandes noções da sociedade. Era a única cena que mudava. De resto, gostava de tudo.

ProfJam
créditos: Pedro B. Maia

Qual é a lição que gostas de passar na tua música?

ProfJam: A maior mensagem que tento passar é... primeiro que tudo, não sabemos se existe vida para além da morte. Não viver como se fosse uma certeza esta nova mentalidade efémera da alma. Não temos a certeza disso. Portanto, não ir all in nesse aspeto. Ter noção de que pode haver coisas que não conhecemos. E se não conhecermos, temos de ter uma atitude de humildade perante essas coisas. Então, jogar pelo seguro. Pelo menos, entender que vocês podem não sentir que há uma vida eterna, mas se existir mais vale tentar estar a contar com ela. E tentar construí-la de uma maneira positiva. Sinto que há falta de "religião". Por isso tento introduzir factores religiosos na minha música. Porque acho que essa energia é tão boa que não deve ser desperdiçada e nós sentimos em contacto com uma cena maior. Para mim não faz confusão. Para outras faz. Essa cena de procurar essas ligações. Eu gosto de sentir que sou um ser espiritual e que se eu conseguir e eu meter a minha mind eu consigo sobreviver à cheia do meu ego, e à seca. E ao abrir os mares. Gosto desse texto, dessas cenas bíblicas. Curto inspirar os putos tipo: "Ya, tu tás nessa linha, eu percebo. Tipo, a linha da sociedade um pouco fast-food da cena. Mas pensa que há cenas maiores, os deuses, a guerra existe..." Então tento dar um bocado de mística nas minhas músicas. Acima de tudo para por o pessoal a pensar que se calhar isto assim não é tão uma fábrica de virar frangos. Se calhar há um propósito. Se calhar a terra não é redonda. Se calhar a terra é plana. Se calhar Deus está-nos a ver. Não sei, sou humilde perante o conhecimento. E a arrogância do conhecimento científico acho que tem efeitos nefastos nas pessoas, porque acham que as pessoas têm químicos na cabeça. Mas há coisas concretas que têm de ser sentidas e pensadas. Sinto que me alonguei bué.

Última pergunta: qual foi o artista que te deu a maior lição?

ProfJam: Se calhar, Kendrick Lamar. Ab-soul. Gajos assim extremamente conscientes e com condução das cenas. Noutras influências, Drake, Lil Wayne... Para outro tipo de atitude perante a vida. Porque não é fixe ser só o gajo consciente que não tem atitude. É fixe também ter atitude.

Entrevista: Carlos Sousa Vieira