
A minissérie dramática da Netflix "Adolescência", que gerou um amplo debate sobre as influências tóxicas e misóginas às quais os jovens são expostos 'online', será exibida em todas escolas secundárias do Reino Unido, disseram o gabinete do primeiro-ministro e a gigante do streaming na segunda-feira.
"Estamos incrivelmente orgulhosos do impacto que o programa causou e felizes em poder oferecê-lo a todas as escolas do Reino Unido", disse Anne Mensah, vice-presidente de conteúdo do Reino Unido na Netflix, acrescentando que a série de quatro partes "ajudou a articular as pressões que os jovens e os pais enfrentam".
O anúncio foi feito quando o primeiro-ministro Keir Starmer se encontrou com os criadores do programa, além de associações e jovens em Downing Street para discutir as questões levantadas na série.
"Parece que todo o país está a falar de 'Adolescência', e não apenas este país (...), tal é o impacto desta série, que prende o espetador desde o primeiro instante e mantém-no em suspense ao longo de quatro episódios intensos", afirmou.
"A série destaca um problema social com múltiplos fatores, perante o qual muitas pessoas não sabem como reagir", acrescentou Keir Starmer, alertando para os "perigos da radicalização online".
Starmer disse que assistiu ao drama — no qual um rapaz de 13 anos é acusado de esfaquear uma rapariga até a morte após ser radicalizado 'online' — com o seu filho e filha adolescentes e que teve "um forte impacto".
"O meu filho tem 16 anos e, como pai, não foi fácil ver este programa com os meus filhos, porque reflete os medos e preocupações que sentimos enquanto pais e adultos", reconheceu durante o encontro.
"É uma iniciativa importante para incentivar o maior número possível de alunos a assistir ao programa", disse. Menores de 11 aos 18 anos poderão assistir à série nas suas escolas de ensino secundário através do serviço de streaming Into Film+.
"Falar abertamente sobre as mudanças na forma como se comunicam, o conteúdo que estão a ver e explorar as conversas que estão a ter com os seus colegas é vital se quisermos apoiá-los adequadamente na navegação dos desafios contemporâneos e lidar com influências malignas", acrescentou Starmer.

"Adolescência", que foi lançada em 13 de março, segue as consequências do esfaqueamento fatal da estudante, revelando as influências perigosas a que os rapazes são submetidos 'online': aborda o perigo da propagação entre os jovens de ideias misóginas e discriminatórias, nas redes sociais e em grupos fechados na Internet.
Foca-se, sobretudo, na comunidade 'incel' (celibatários involuntários), maioritariamente composta por homens heterossexuais que se dizem incapazes de encontrar um parceiro romântico ou sexual.
Inspirada em casos semelhantes que aconteceram no Reino Unido, Adolescência tem gerado um intenso debate, com a publicação de diversos artigos na imprensa britânica sobre a proliferação de conteúdos misóginos nas redes sociais, a proteção das crianças no ambiente digital e o sentimento de impotência dos pais.
Segundo dados disponibilizados pela plataforma Netflix, desde a estreia, há duas semanas, a minissérie já teve 66,3 milhões de visualizações. Lidera o Top 10 das mais vistas em 80 países, incluindo em Portugal.
Maria Neophytou, da instituição de caridade infantil NSPCC do Reino Unido, disse que a reunião foi um "marco crítico".
"O mundo 'online' está a ser poluído por conteúdo nocivo e misógino, o que está a ter um impacto direto no desenvolvimento do pensamento e comportamento dos jovens. Isso não pode continuar", disse.
Jack Thorne, argumentista e co-criador de "Adolescência", juntamente com o ator Stephen Graham, que interpreta o pai do jovem na série, reconheceu que o objetivo era, precisamente, gerar discussão. “Poder exibi-lo nas escolas supera todas as nossas expectativas", afirmou.
Em 2023, o Reino Unido já tinha aprovado uma lei sobre segurança digital, que começou a ser implementada para reforçar as obrigações das plataformas, incluindo a remoção de conteúdos ilegais, como os de natureza pornográfica.
A partir do verão, as empresas de redes sociais também terão de reforçar os seus controlos no país, para evitar que os jovens sejam expostos a conteúdos misóginos, violentos ou de incitação ao ódio.
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