Continuamos em crise, a seleção empatou e quarta-feira é dia de trabalho. Ah, e os Tyketto tocam na Musicbox. Opção: ficar a carpir as mágoas em casa ou ir espreitar a primeira passagem por Portugal de uma das melhores bandas de hard rock norte-americanas. Qual é a dúvida?

Eram cerca de 22h15 quando os espanhóis StOp, sToP, responsáveis pela abertura da noite, subiram ao palco da sala do Cais do Sodré para uma plateia ainda muito pouco composta e, diga-se em abono da verdade, pouco interessada. O trio de Barcelona consegue confundir os mais desprevenidos: por baixo de um visual e de uma atitude tipicamente glam rock, o som vai pesando e pesando cada vez mais, até roçar o trash/speed metal. Com um álbum na carteira – “Unlimited”, de 2011 – a banda tocou sete temas. O primeiro single, “Born to Rock”, e a cover de Deep Purple, “Hush”, foram alguns dos momentos em que o público português mais aderiu, mas a relação só se estreitou mesmo no fim, com o tema homónimo “StOp, sToP”, quando o vocalista/baixista deu tudo por tudo e concluiu a atuação no meio da sala. Competentes, frenéticos e com grande atitude, não mereciam, talvez, a receção fria que tiveram na sua estreia em Portugal. Para fãs do género, será uma banda a explorar.

O certo é que o público presente estava a poupar a energia para as cerca de duas horas seguintes. A sala não encheu, mas os portugueses souberam ser excelentes anfitriões para os Tyketto, que não se pouparam a esforços para lhes proporcionar uma noite fantástica. Quem já tinha visto Tyketto ao vivo, confirmou o que já sabia… Quem viu pela primeira vez, não pôde deixar de se surpreender com a forma impressionante (e contagiante) como a banda se apresenta. As qualidades do guitarrista Brooke St. James, do sempre bem-disposto baterista Michael Arbeeny, do baixista Jimi Kennedy e do teclista Ged Rylands (dos britânicos Ten, a acompanhar os Tyketto nesta digressão europeia) são sobejamente conhecidas e fazem toda a diferença, mas há que admitir que Danny Vaughn enche o palco. É o frontman por excelência… comunica, salta, desafia, faz das guitarras acústicas as suas melhores amigas e canta como se não houvesse amanhã. Mais de vinte anos depois do álbum de estreia, não parece ter envelhecido um dia e domina a voz como poucos, superando, até, as performances registadas em disco.

Em digressão europeia para promover o álbum “Dig in Deep”, deste ano, que marcou o regresso da banda aos discos depois de terem anunciado o fim da carreira em 2007 (falso alarme – ver entrevista), os norte-americanos não podiam deixar de lado os clássicos dos primeiros álbuns, “Don’t Come Easy” (1991) e “Strenght in Numbers” (1994), que lançaram a carreira e os tornaram conhecidos do público internacional. O alinhamento saiu equilibrado, com doses controladas de novidade que, surpreendentemente, não destoaram entre os temas antigos que os fãs aguardavam com maior ansiedade. Ficou, assim, demonstrado que o novo disco é uma aposta ganha, conseguindo atualizar o som dos Tyketto, com momentos de maior peso e seção rítmica mais poderosa, sem destoar das raízes.

O tema que dá título ao segundo álbum abriu o desfile de muita e boa música, numa noite em que a banda presenteou, até, os fãs com temas raramente apresentados ao vivo, caso da belíssima balada acústica “The Last Sunset”, que Danny Vaughn dedicou ao pai em dia de aniversário, numa homenagem, também, à sua origem portuguesa.

Em uníssono e contribuindo, indiscutivelmente, para as muitas gargantas afónicas que se queixavam no final do concerto, ficam, para a posteridade, momentos de grande emoção como “End of the Summer Days”, Sail Away”, “Seasons”, “Burning Down Inside”, “Wings” ou a incontornável “Standing Alone”.

Duas horas passaram sem que se desse por elas e a banda não se fez rogada para o encore que, sem surpresas, trouxe “Forever Young”, o primeiro grande sucesso da banda e uma das mais aguardadas.

Foi amor à primeira vista entre os Tyketto e o público português, o país e a cidade de Lisboa. Entre as visitas aos postais turísticos e muitos pastéis de Belém, parece que os Tyketto são a mais recente adição à lista de bandas de hard rock que , a pouco e pouco, estão a descobrir Portugal com duas décadas de atraso – e aqui, sublinhe-se o trabalho destemido de duas ou três promotoras e, em especial, da Clap/-box, que têm apostado em incluir Portugal nos roteiros - mas prometem fazer impossíveis para compensar o tempo perdido. O regresso ficou prometido para breve e quem lá esteve ontem promete não faltar.

Setlist:

Strenght in Numbers
Faithless
Burning Down inside
End of the Summer Days
Lay Your Body Down
Here’s Hoping it Hurts
Sound Off
Catch My Fall
Sail Away
Standing Alone
Rescue Me
Battle Lines
Meet me in the Night
The Fight Left in Me
Wings
The Last Sunset
Seasons

Encore:
Forever Young

Liliana Nascimento