
Na voz de Franky Riley, à qual o cantor se foi juntando, I Live Alone, ainda por editar, principia o rol de canções. Segue-se-lhe Nothing's Changed, do novo disco, “False Idols” (2013), que se foi construindo numa base trip-hop, fiel ao repertório global de Tricky. Apesar de sempre atento ao desempenho dos seus colegas de palco, este pareceu muitas vezes perder-se em danças autistas, um gesto que, para além dos constantes apelos ao público (sobre a forma de braços elevados e de batimentos no peito com o microfone), parece reforçar não só uma posição de liderança, como também estreitar a relação entre os mesmos, através da criação de um ambiente relaxado e de proximidade.
E eis que essa proximidade se prontificou a atingir um patamar mais elevado, com o já habitual chamamento do público ao palco para a versão de Ace of Spades, dos Motorhead. O festim do costume aconteceu, primeiramente, um pouco mais contido, ou não tivessem, neste caso, os miúdos das filas da frente dado lugar a representantes mais adultos. Ainda assim, Tricky desapareceu no meio do palco, rodeado por uma multidão que foi exigindo os abraços e os beijinhos da praxe, assim como algumas poses para fotografias que se alastraram pelo primeiro minuto de Overcome, executado por Riley.
Num alinhamento que foi mesclando passado e presente, destacaram-se a força vigorosa com que Does It, tema contido no já referido último registo, foi apresentado; I Sing For The Joker, com Franky Riley a transmutar-se em diva soul de alta estripe; o dueto bruto e agressivo, em rap, a que deu lugar Gangster Chronicle, um original dos London Posse. Resgatado a “Knowle West Boy” (2008), foi com Past Mistake que se viu promovida mais uma consentida invasão de palco, desta vez mais populosa e bem mais azafamada.
Enquanto o microfone se perdeu nas mãos de um rapaz que não se fez rogado em lhe dar algum uso, Tricky abandonou o palco rumo à plateia, onde voltou a ser engolido, até ter voltado à tona, erguido em braços. “Obrigada por terem vindo. Foram um público espetacular!” - em nome do músico e em nome da banda, assim se despediu o rapaz, ainda apoderado do microfone. Com Riley a liderar Nothing Matters, a banda regressou para um curto encore. Tricky, provavelmente demorado pela atenção requerida pelos invasores, entrou apenas depois.
Adrian Nicholas M. Thaws, nome de baptismo do protagonista desta história, facilmente nos leva a concluir que há truques que não carecem de infalibilidade, desde que executados com mestria. A rotina associada a alguns temas não pareceu ter deixado de deslumbrar, como se verificou pelos numerosos que se deixaram permanecer em tão belo recinto à espera de mais um encore.
Texto: Ariana Ferreira
Fotografia: Rafael Lino
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