Há concertos que nos satisfazem pela componente meramente acústica da sua execução, outros que apenas têm de interessante todo o entourage visual que os condimentam, e depois há aqueles que nos conseguem encher as medidas a todos os níveis, como foi exemplo o concerto de ontem à noite, com o espetáculo de luz e vídeo a servir, não só de complemento ao concerto, mas a misturar-se com a banda e com as músicas que interpretaram. E tudo começou minutos antes da subida da banda ao palco. Ainda nos bastidores, uma câmara filmou e colocou em direto (numa gigantesca parede de leds montada na retaguarda de cena) os últimos segundos dos The National nos bastidores, com "The War On Drugs", dos Brothers, a servir de banda sonora à entrada do coletivo.

Os primeiros minutos da atuação (assim como grande parte do concerto) foram dedicados a "Trouble Will Find Me", com "Don't Swallow The Cap" e "I Should Live In The Salt" a servirem de pontapé de saída para uma noite longa, em que os principais destaques foram para as duas obras mais recentes do coletivo. Curiosamente, foram as canções mais antigas as mais aplaudidas e mais bem-recebidas, como servem de exemplo "Secret Meeting" e “Abel”, ambas retiradas do álbum “Alligator”.

Qualquer semelhança entre Matt Berninger e Tom Smith (Editors) está longe de ser mera coincidência (não só na componente vocal, mas também na presença em palco), ou não fossem eles - de uma forma ou de outra - descendentes do legado dos Joy Division e, mais precisamente, de Ian Curtis (no campo da escrita podemos dizer que Curtis foi professor de Berdinger). Até o próprio vídeo que acompanhou o tema "Graceless" trouxe à memória a capa do álbum "Unknown Pleasures".

Em concertos de duração alargada, como foi o caso (cerca de duas horas de espetáculo), há sempre o risco da exibição perder alguma força e cair num certo leito de monotonia. Os The National foram inteligentes nesse aspeto e na sequência "Abel" (a mais eléctrica até à data), "Slow Show", "Pink Rabbits", "Apartment Story", "London" e "Graceless" (com estas duas últimas a devolverem ao concerto a energia necessária para a reta final) conseguiram evitar qualquer quebra que pudesse surgir.

Antes do encore houve ainda tempo para Matt Berninger agradecer ao público português por ter apoiado o coletivo numa altura em que, segundo palavras do próprio, ainda ninguém queria saber deles enquanto banda. "About Today" e "Fake Empire" (ambos recebidos com euforia) foram os últimos temas a serem ouvidos antes da banda abandonar pela primeira vez o palco.

Depois de uma merecida ovação por parte da audiência do Meo Arena, e de uma pausa de escassos minutos para recuperar energia, Matt e os seus companheiros regressaram ao palco para a derradeira fase do concerto, iniciada ao som de "Sorrow". Seguiu-se "Mr November" (com o público a servir de bengala à voz de Matt, que, a certa altura do refrão, ficou perdida entre os riffs de guitarra e os breaks de bateria), "Terrible Love" e uma "Vanderlyle Crybaby Geeks" em versão acústica, acompanhada em uníssono pelo público (que nunca se privou de acompanhar a banda, fosse a cantar ou a aplaudir), servindo de mote para o adeus a Portugal e à digressão do álbum "Trouble Will Find Me". Uma passagem por terras lusas que não será tão facilmente esquecida.

As hostes da noite foram entregues aos This Is The Kit. O sexteto britânico veio munido de um conjunto de músicas que cruzaram a folk norte-americana e irlandesa com o rock alternativo - Animal Collective, Vashti Bunyan, Rachael Dadd e Serafina Steer são alguns dos nomes que nos vêm à cabeça -, um receita eficiente, mas inadequada para o espaço e o ambiente do Meo Arena (a péssima qualidade acústica do espaço impossibilitou ouvir as palavras de Kate Stables em condições). A distração foi muita e a ansiedade por ver os The National também, por isso foram poucos os que realmente se concentraram na atuação dos This Is The Kit.

Texto: Manuel Rodrigues

Fotografias: Marta Ribeiro