Depois de uma ausência de quatro anos, e após um retumbante concerto na Festa do Avante!, os Ska-P regressaram a solo nacional, para um concerto na Invicta,e, desta vez, a língua espanhola reinou tanto no palco como na assistência. Vieram de todo o lado:Zamora, Salamanca, Vigo, Santiago, Cuenca, País Basco. Fiéis aos seus, uma vasta plateia do país vizinho aplaudiu entusiasticamente a banda, numa comunhão perfeita de saltos, gritos e palavras de ordem.

Depois de uma das maiores manifestações de sempre em Portugal, comquase um milhão de manifestantes na rua em mais de trinta cidades, estefoi o desenlace mais do que adequado para um dia de luta. Porque é de luta que falamos. Todas as letras de Ska-P são hinos à fraternidade, justiça e igualdade social. O ritmo que as acompanha é frenético, assegurado pela energia contagiante dos dois vocalistas, pela batida acelerada e pela secção de sopro. Eles são um grupo de ska, mas vão muito mais além do género.

A sala estava repleta e foi demasiado pequena para conter a explosão de saltos. Todos sorriam, de braços no ar. Um pai, encostado às grades, acompanhava o filho, criança ainda, num constante abraço terno e ambos dançavam cada acorde com uma alegria estampada nos rostos. Os seguranças, solícitos, ofereciam garrafas de água, sorriam também e, gesto raro, sempre que alguém empunhava uma câmara fotográfica, afastavam-se para a objetiva não os enquadrar e a fotografia ser ainda mais perfeita.

Tudo começou no já distante ano de 1994, num escape ao conformismo e letargia da sociedade espanhola. Sendo, assumidamente, uma voz anti-sistema, Pulpul, Pipi, Joxemi, Julio, Luismi e Kogote juntam-se naquela que é hoje uma das mais bem sucedidas bandas espanholas de ska-punk contestatário. O reconhecimento é mundial, com salas permanentementes esgotadas, sobretudo na América Latina.

No Hard Club, durante duas horas exatas, escutaram-se todas as canções combate que os popularizaram: "Intifada", sobre a luta palestiniana, "El Vals del Obrero", hino anarco-operário, "El Gato López", que discorre sobre a pobreza monetária e social, "Solamente por Pensar", dedicada a Carlo Giuliani, manifestante italiano baleado pela polícia numa manifestação anti-globalização, "Mestizage", tema emblemático sobre a abolição das fronteiras e igualdade social.

Os Ska-P são resistência em forma de música, até a voz doer e de punhos bastante erguidos - sempre bastante erguidos.

Ana Cancela