"Não me quero ir embora", confessou Ezra Koenig, vocalista dos Vampire Weekend, perante milhares de espectadores atentos numa altura em que concerto do quarteto nova-iorquino já estava nos minutos finais - e já tinha, decididamente, sido eleito por muitos como o melhor da noite (ou mesmo do festival).

Goste-se ou não da banda - uma das queridinhas da crítica desde que editou o disco de estreia, há dois anos -, é difícil negar que a sua actuação foi, de longe, a que conquistou a maior multidão desta edição do SBSR. E também a que mostrou o melhor entrosamento com o público, irradiando uma energia, luminosidade e optimismo que se disseminaram muito para além do Palco Super Bock.

Em apenas uma hora, os Vampire Weekend conseguiram concentrar vários temas não só do novo disco, "Contra", mas também do registo de estreia homónimo (editado em 2008). O facto de serem curtos ajudou e todos foram devidamente agarrados por milhares de espectadores com vontade de dançar - assim como de cantar bem alto o refrão de "A-Punk", "Cape Cod Kwassa Kwassa" ou do mais recente (e de impacto comparável) "Cousins".

Os sorrisos estampados em vários elementos do público tiveram correspondência na atitude da banda, em especial nas do vocalista e do teclista, a metade do quarteto que se encarregou de encetar simpáticos contactos com a vasta audiência.
Também simpáticas (embora algo redundantes), as suas canções solarengas e quase sempre aceleradas nunca deixaram espaço para pontos mortos num concerto que passou a correr. Mas se o capital de simpatia foi elevado, o brilhantismo só chegou a espaços - como na mais lenta e electrónica "Giving Up The Gun", que dá algum fundamento à aclamação quase consensual de que o grupo é alvo.

Antes dos quatro betinhos indie - epíteto com que muitos classificam, carinhosamente, os Vampire Weekend -, o Meco recebeu a coolness de Julian Casablancas.
O vocalista dos Strokes apresentou-se em nome próprio pela primeira vez em Portugal e, infelizmente, não assinou uma estreia fulgurante.
O atraso de quase 20 minutos desculpa-se mas a actuação, que não passou dos 40, soube a pouco. Casablancas aproveitou bem a sua imagem de ícone rock dos anos 00 com uma postura mais ébria do que descontraída, mostrando-se comunicativo e espirituoso. "Vocês são um público muito musical. Nunca vi nenhum que conseguisse bater palmas ao ritmo das canções. Têm futuro", gracejou a certa altura.
Já perto do final, saiu do palco para cumprimentar várias dezenas e, em poucos segundos, instalou um cenário de histeria. Pena que musicalmente o balanço não tenha sido tão proveitoso, já que a sua voz ficou por vezes submersa nos instrumentos e os momentos altos foram pouco além das duas ou três revisitações do catálogo dos Strokes (com "Hard to Explain" à cabeça). Chegou para divertir mas não para evitar alguma desilusão.

Nada decepcionantes, os Hot Chip mostraram de como de uma discografia irregular pode nascer um grande concerto. Além do fresquinho "One Life Stand", o seu quarto álbum, os britânicos levaram ao Meco singles regados com muita pop electrónica, casos de "Boy From School" ou "Over and Over". E quase todas as canções resultaram melhor ao vivo do que nos álbuns, mostrando uma vertente ainda mais pulsante e gerando, logo aos primeiros minutos, uma autêntica febre de sábado à noite (e não faltaram momentos de oportuno contágio disco sound). Ninguém diria, mas um grupo com um ar tão recatado - "Parece o Woody Allen", disseram alguns a propósito do vocalista, com óculos e figura franzina - deixou na memória alguns dos episódios mais efervescentes deste Super Bock Super Rock.

A electrónica voltaria, horas mais tarde, com outra banda inglesa, a derradeira a actuar no segundo dia do festival. Os regressados Leftfield fecharam o Palco Super Bock já depois das três da manhã e o tempo parece não ter passado por eles. O primeiro dos seus dois álbuns, "Leftism", teve finalmente direito a apresentação em Portugal quinze anos(!) depois da sua edição (o segundo, "Rythm & Steatlh", foi quase ignorado ao longo da actuação).
Mas a banda estreou-se por cá ainda em tempo útil, como o comprovou a crescente adesão de um público que, na sua maioria, era desconhecedor do misto de dub, house ou techno de Paul Daley e Neil Barnes.
Com vários vocalistas convidados e apoiados ainda por uma forte componente visual (através das imagens dos ecrãs laterais e central), os Leftfield foram uma proposta muito eficaz para quem quis cumprimentar a madrugada numa pista de dança (ao ar livre e com mais poeira do que o habitual). Canções como "Release the Pressure", "Afro-Left" (à qual os Buraka Som Sistema talvez devam alguma coisa) ou "Afrika Shox" foram, mais do que exercícios de nostalgia 90s, fortes cartões de apresentação a um público que, depois disto, talvez (re)descubra um nome relevante dentro da electrónica mais cinética.

Neste segundo dia do Super Bock Super Rock, o Meco recebeu ainda, no Palco EDP, actuações de Patrick Watson, Rita Redshoes ou Holly Miranda. E no Palco @Meco, já a fechar a noite, Ricardo Villalobos ofereceu uma alternativa (também dançável) aos que não foram conquistados pelos Leftfield. Este domingo, Prince, Empire of the Sun, John Butler Trio ou Laurent Garnier encerram os três dias de festival.

Texto @Gonçalo Sá / Fotos @Vera Moutinho