
Aos Sepultura, na abertura do Palco Mundo, juntaram-se os Tambours Du Bronx, coletivo de percussão industrial made in france. Uma junção mais que propositada, numa incorporação coesa entre cordas distorcidas e metais pungentes, a sustentar muito bem a base sonora agressiva orientadora deste “dia do metal”.
Enquanto que metros acima eram observáveis os aventurosos do slide, foram-se formando os inevitáveis mosh pits, por entre os punhos em riste movidos ao som dos brasileiros e de escassos clássicos, como Refused/Resist e Roots Bloody Roots, que se destacaram da permanência por Kairos, último registo de originais, lançado em 2011.
À semelhança dos antecessores, também os Mastodon apostaram no trabalho mais recente, “The Hunter”, desleixando um pouco o passado, que os tornou num dos nomes mais relevantes do metal alternativo. Black Tongue inaugurou a sessão de headbanging coletivo, que prosseguiu até Blood and Thunder, último tema, numa atuação ruidosa envolta em crueza stoner.
Volvidos 8 anos, os Evanescense de Amy Lee regressaram ao palco do Rock in Rio Lisboa. Apesar de descontextualizados no alinhamento, os meninos de Amy Lee não defraudaram nem surpreenderam. O mesmo se poderá dizer da própria, na pose de boneca gótica habitual, rainha de um metal pop tão simplório como o tule da saiota que vestia, assente em vocalizações ambiciosas que nem sempre pareceram cumprir.
Já o entusiasmo do público, cada vez mais numeroso graças à marcação de presença para os senhores que seguiram, foi-se visivelmente reduzindo. Guardada para o fim, Bring Me Back to Life lá conseguiu acordar os metaleiros mais adormecidos, mais por culpa do estímulo nostálgico, presume-se, de que por outra coisa qualquer.
Vestido a preceito com cristas fúchsia e mangas de braços tatuados ofertadas pelos patrocinadores, o aglomerado de público frente ao Palco Mundo atingiu extensão máxima na receção aos Metallica. O número oficial avançado pela organização garante-nos que ontem estiveram presentes no Parque da Bela Vista 42 mil pessoas, o que nos parece muito provável, dada e enormidade de fãs fidelizados que não se acanharam em demonstrar devoção, fosse através de aplausos, gritos, muita cantoria e muitos braços no ar.
De facto, os Metallica são um caso de popularidade tão flagrante que, apesar das várias visitas ao nosso país continuam a assegurar público. Trouxeram tanta gente ao Rock in Rio que não pudemos deixar de reparar (e não podemos deixar de comentar) no fenómeno de quem se contenta em assistir ao concerto pelo ecrã, dada a falta de visibilidade à distância, e que parece viver a atuação com igual intensidade. Serão razões como esta que tornaram pertinente o galanteio James Hetfield, que apregoou que os portugueses e os Metallica são como família. E pode dizer-se que foi em família, na “família Metallica”, uma família multinacional como demonstraram as bandeiras exibidas na assistência, que a noite prosseguiu, num modo de cumplicidade devota muito celebratório, por “Black Album”, tocado na íntegra.
A performance dos Metallica, veteranos do metal rock, ultrapassou os limites das acrobacias instrumentais, das guitarras dedilhadas em velocidade, do baixo manobrado com robustez e da bateria domada em força. Com Enter Sandman, em toque conclusivo, chegaram os adereços pirotécnicos, que se mantiveram pelo encore, primeiramente com fogo-de-artifício lançado das laterais de palco. Já Fight Fire With Fire emergiu literalmente do foco, com os Metallica envoltos em chamas expelidas no palco e lateralmente. As surpresas visuais não cessaram por aqui, com pirotecnia laser a fazer o acompanhamento de One, criando uma atmosfera visual de cores e geometria, psicadélica e agressiva. “We are scanning the scene in Lisbon tonight”, foi o mote para Seek and Destroy, numa espécie de agradecimento extra nesta adaptação do primeiro verso, e na distribuição de bolas insufláveis pretas, que foram sendo jogadas entre o público.
Finda a atuação, os Metallica regressaram ao palco para mais agradecimentos, e distribuição de palhetas e outros souvenirs.
Por restrição da organização não nos foi permitida a captação de imagens do concerto dos Metallica.
Num pôr-do-sol a muitos... muitos metros de distância
Foi no Palco Sunset que o rock se estreou e em bom português, com os Mão Morta, cuja atuação fora antecipada. O público, ainda disperso, atraído pelas mais que muitas ofertas e distrações com o cunho dos patrocinadores, ou simplesmente demorado nas filas de entrada ou na árdua demanda em direção ao palco, foi-se aglomerando, aos poucos.
Depois de uma breve fuga pela Europa (Amesterdão, Barcelona e Paris), foi tempo para “a surpresa mais mal guardada de todos os tempos”: os Mundo Cão e os Governo. Na senda do regime particular de colaborações, convites e anexações (algumas mais improváveis que outras) relegado para este palco, seguida ao intercalar entre o repertório dos Mão Morta e dos Mundo Cão, surge a surpresa um pouco melhor guardada, com a entrada em cena de Valter Hugo Mãe, “mais nervoso que um feijão no cu de uma galinha”. As investidas de Adolfo Luxúria Canibal e as incitações a uns passos de dança mais tresloucados em E Se Depois não terão deixado o escritor e poeta mais à vontade, mas fecharam em beleza e com um toque de surrealidade muito apreciado a passagem dos Mão Morta pelo Rock in Rio.
Remarcado para as 18:00, o encontro com os Ramp registou boa comparência. Por entre temas mais emblemáticos e algumas novidades, os Teratron, projecto da dupla João Nobre e Pedro Quaresma, subiram ao palco, fundiram-se com os seixalenses e ainda passaram por “As Cobaias”, disco derivativo de uma história de Adolfo Luxúria Canibal, com Professor Labareda.
Neste primeiro dia na “cidade do rock”, a despedida deste palco tão afastado das áreas principais, ficou a cargo dos Kreator, que se fizeram acompanhar por um trunfo muito especial: nada mais, nada menos do que Adreas Kisser, guitarrista dos Sepultura, que mesmo antes havia tocado no Palco Mundo.
Mini em espaço, grande em atitude
Em concordância com a programação geral estiveram também as atuações do espaço Vodafone Showcases, curtas em tempo mas grandes em atitude em cima e fora do palco. As prestações dos We Are The Dammed, O Bisonte, Miss Lava e Devil in Me , fizeram-se acompanhar por boa onda, muita irreverência, e alguns desacatos com os seguranças.
Este dia de festival ficou também marcado pela confirmação no corte com a parceria com o Metropolitano de Lisboa, motivada pelas greves ocorridas durante este período. Apesar das alternativas e da rede de Carreiras Especiais da Carris, a saída do recinto revelou-se caótica e sobretudo confusa, devido à desinformação dos intervenientes.
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: Filipa Oliveira
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