Palco Principal – Dizem que o nome Pontos Negros é uma antítese do nome White Stripes. Porquê?

Pontos Negros – O nome nasceu como antítese porque, quando nós começámos a tocar, era apenas eu e o meu irmão, e na história dos White Stripes, Jack White e Meg White são irmãos. Como nós também éramos só dois e irmãos, achámos que estava relacionado. O nome Pontos Negros soa bem e era aquilo que procurávamos em português.

PP – A vossa música é um bocado diferente da dos White Stripes...

PN – É diferente agora porque, quando nós começámos, tendia um pouco mais para o punk quase hardcore, uma coisa muito mais rápida e pesada, mas que, ao longo do tempo, se foi moldando. Os nossos interesses também foram navegando para outras paragens, mas nunca foi uma questão de música, foi mais uma questão de influência de banda, de conceito.

PP – O António Variações é uma das vossas influências. No vosso novo disco até têm uma canção que se chama Se o Variações Fosse o Meu Barbeiro. Que outras influências é que vocês têm?

PN – As nossas influências musicais passam muito pelo rock dos anos 60 e dos anos 70, neste álbum também algumas coisas dos anos 80, por causa dos teclados e dos sintetizadores do Silas. É sempre muito variado, há algumas coisas que vamos buscar a géneros diferentes. É um pouco difícil ser redutor em relação às influências, mas eu acho que pode ir desde o rock dos anos 60 e 70 até ao rock dos anos zero. Reciclamos aquilo que já vem de trás e fazemos o nosso próprio cozinhado também com influências portuguesas como o António Variações,os Heróis do Mar e também o nosso amigo e ex-produtor Tiago Guillul.

PP – Optaram por cantar em português. Acham que é mais fácil? Não teriam mais sucesso se cantassem em inglês?

PN – Isso para nós nem foi uma opção. Desde do início que sabíamos o que é que queríamos e o que fazia sentido. Falamos português, pensamos em português, tudo o que nos diz respeito é em português e não fazia sentido cantar sobre coisas que sentimos e das quais gostamos numa língua que não nos diz praticamente nada.

PP – Começaram com a FlorCaveira e depois passaram para a Universal. Não sentem falta dos tempos em que pertenciam a uma editora mais pequena? É muito diferente estar na Universal?

PN – Claro que é diferente, porque a FlorCaveira não tem uma estrutura editorial como a Universal. A FlorCaveira era, acima de tudo, um grupo de amigos que gravava uns discos, que eram editados em formatos bastante reduzidos. A Universal é uma estrutura profissional dedicada à edição de discos e à produção de música. A principal diferença que nós sentimos é em termos das possibilidades, das portas que se abrem, mas obviamente que tudo tem os seus benefícios eos seus lados menos positivos. É uma fase do nosso percurso e estamos contentes por ser associados ao espírito da FlorCaveira, mastambém estamos contentes por ter a oportunidade de trabalhar com a Universal.

PP – O disco “Magnífico Material Inútil” foi considerado por várias publicaçõeso melhor projecto discográfico de 2009. O que acham que vos diferencia das outras bandas portuguesas?

PN – Como não fomos nós que distinguimos esse prémio, é difícil responder à pergunta.

PP – Mas pelo que vocês ouvem de outras bandas, o que é que acham que têm de diferente?

PN – É difícil dizer o que nos distingue de outras bandas, porque aquilo que todas as bandas tentam fazer é conquistar o seu espaço através da sua música e através das suas singularidades, destacando-se dos outros. A única coisa que posso destacar é que nós fazemos isto com muito amor e damos sempre o máximo para que as pessoas nos concertos possam também vir a gostar. Com o "Magnífico Material Inútil" o que procurámos foi fazer algo que saísse um pouco do espectro do que vinha sendo feito em Portugal. Era um disco rock muito directo com uma produção muito linear. Para o público em geral se calhar não tinha uma produção tão hi-fi como a maioria das coisas pop em Portugal, mas se alguém o destacou como melhor produção discográfica é porque se destacou pela sua qualidade e pela qualidade de toda a gente que esteve envolvida no seu processo de produção. Se calhar as músicas são boas (risos) e apelam às pessoas de maneira a que outras não apelam.

PP –O “Pequeno-Almoço Continental” ainda tem muito do registo do disco anterior?

PN – Este disco é diferente porque também encarámos a sua gravação e a sua produção de forma diferente. Já não tem um efeito novidade para as pessoas que nos acompanham desde o início, mas, pelas reacções que temos tido, o trabalho está com um saldo bastante positivo. Continuam a ser músicas feitas para poderem apelar a quem as ouve e fazer com que as pessoas passem um bom bocado a ouvir o disco, que tenham vontade de ouvi-lo e que saibam que quem está a fazê-lo está a fazer música a sério. Ou seja, não é uma banda que está a fazer música artificial, mas um grupo de pessoas que, apesar de não serem génios da técnica ou do canto, fazem isto com muito amor. O que interessa é mais o sentimento e o amor com que se fazemos músicas e nem tanto o perfeccionismo.

PP – Tiveram este novo disco disponível no MySpace até ao dia do lançamento nas lojas As redes sociais desempenham um papel importante na vossa banda?

PN – Sim isso é óbvio. O MySpace que foi o que nos possibilitou ter a nossa música disponível para todo o público. De facto, somos uma banda que cresceu bastante devido ao boom que o MySpace teve à volta do ano 2006 e houve muita gente que chegou até nós através disso. Estamos gratos por ter começado a divulgar música numa era onde apesar de haver também muito excesso de informação para o consumidor final existe também a hipótese de chegar mais facilmente às pessoas. Mantemos muito contacto com quem nos houve através do MySpace e agora também do Facebook. Acho que é uma dimensão muito importante que as bandas devem saber aproveitar para vingar, mas sem se fecharem no mundo da Internet.

PP – Falam muito do MySpace, mas também utilizam outras redes sociais como, por exemplo, o Facebook ,onde vocês fizeram um showcase da vossa banda, no passado Domingo. Apresentaram cinco músicas, uma delas foi o vosso single, o Rei Bã. Quais foram as outras?

PN – Foram a Sub Zero; Amor é Só Febre; Duro de Ouvido; Lisboa Não Passas Deste Inverno.

PP – São essas as músicas que se destacam mais no “Pequeno-Almoço Continental”?

PN - É difícil destacar uma ou duas músicas do disco porque trabalhámos muito para que o conjunto das dez músicas fosse o mais eficaz possível e acreditamos bastante nas dez canções como sendo as melhores. Claramente, há que destacar a Rei Bã porque é o single e é agora também a música que se pode escutar nas rádios. Acho que há mais cinco músicas que também têm potencial para saírem como single. Todas as músicas, à sua maneira, vêm compor o disco, porque todas vêm acrescentar algo diferente.

PP – Pelo que têm visto da parte do público, que música é que eles têm recebido melhor? Talvez tenha sido a Rei Bã

PN – A Rei Bã e a Amor é Só Febre têm tido reacções bastante positivas. Mesmo em relação à Sub Zero, temos tido boas reacções. Claro que isto também depende de pessoa para pessoa. Já temos tido um bom feedback em relação a todas as canções.

PP – Vocês fizeram a música do novo anúncio da Fanta. Notam que o facto de terem feito este anúncio vos trouxe mais reconhecimento?

PN – Ainda é muito cedo para fazer essa análise, mas certamente que muitas pessoas nunca nos tinham ouvido antes e ouviram-nos pela primeira vez no anúncio. Importa ressalvar que a música não é um original nosso. Aquilo que a Fanta nos pediu foi que fizéssemos a adaptação de uma música escolhida por eles e que déssemos o nosso toque em relação à música como à letra, que foi feita em conjunto com a agência de publicidade. Se houver pessoas a começar a ouvir Pontos Negros por causa do anúncio, isso era muito bom.

PP – Já participaram em festivais como o Alive! e o Sudoeste TMN. Como é que é actuar junto de tantos nomes internacionais? Não se sentem um bocado intimidados?

PN – Hum…Talvez. A primeira vez é sempre a mais difícil porque nunca sabemos como reagir quando vemos um artista muito famoso e que está habituado a fazer aquilo há anos. Ao longo do tempo, fomos perdendo a vergonha e acreditando que, se estávamos ali, era porque merecíamos e porque tínhamos valor como eles. Acabámos por tentar dar-nos com os artistas que fomos encontrando, como iguais, mas obviamente há vários tipos de artistas. Alguns ficam no camarim o tempo todo e estão completamente vedados a tudo aquilo que venha do exterior; outros, mesmo sendo muito famosos e conhecidos, passeiam pelo backstage, convivem e cumprimentam todas as pessoas que lá estão.

PP – Gravaram o vosso novo álbum em dias, mas quanto tempo foi, verdadeiramente, investido neste projecto?

PN – Houve muito trabalho intensivo nos meses de Janeiro e Fevereiro, fazer os arranjos das canções e ter tudo preparado para quando fossemos para estúdio não estarmos ainda em processo de composição e sim apenas em processo de gravação e preocuparmo-nos com o som do disco. Portanto houve um trabalho intensivo de cerca de dois meses.

PP – E porquê o nome “Pequeno-Almoço Continental”?

PN – Está relacionado com o contexto das gravações do disco. Foi um álbum que foi composto e gravado durante os dois meses do Inverno mais rigoroso de que temos memória hoje. Á medida que íamos gravando o disco, estas canções soavam-nos muito a férias e àquele sentimento que temos de gostar de sair de casa, ir para longe e descobrir coisas novas. Deve-se também ao facto de estarmos a dormir num hotel e termos aqueles pequenos-almoços preparados para nós, todos os dias. Então, achamos que a expressão “Pequeno-Almoço Continental” traduzia na perfeição aquilo que este disco representa.

PP – Para este novo disco, esperam que seja considerado o melhor projecto discográfico deste ano ou têm ambições ainda maiores?

PN – Há muitos discos a serem lançados mas era uma honra muito grande se voltássemos a receber nova distinção. Não sei o que vai acontecer, mas vamos esperar para ver. O nosso objectivo é fazer com que o disco chegue a um maior número de pessoas possível. Os prémios não nos preocupam, pelo menos para já.

Melanie Antunes