O encerramento do espaço foi avançado a 7 de novembro pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, por o centro comercial, inaugurado em 1982, não ter "condições de segurança e salubridade".

Esta situação, de que os músicos “têm sabido pelas notícias”, já vem de trás, com anos de alertas sobre as condições no espaço e a falta de soluções, e agora estão “sobressaltados, preocupados”, disse à Lusa o presidente da associação, Rui Guerra.

“Encerrando o centro comercial, não temos alternativas. Queremos alternativas que nos sirvam, se não servirem, não são bem-vindas. Nós aqui temos as condições necessárias e as melhores condições para fazermos o que estamos a fazer, não só em termos de espaços, de valores de renda, como de horários. Praticamente não incomodamos ninguém aqui”, afirmou.

Admitindo que “nenhum edifício pode estar a funcionar sem licenciamento”, a sua situação única, enquanto imóvel privado “com 90 e tal proprietários”, torna difícil a legalização, além de que “nem condomínio nem proprietários têm dinheiro para avançar com obras”, disse.

“A alternativa que a Câmara do Porto nos deu, o Silo Auto [com a ocupação dos pisos superiores], não é uma solução para nós. Não estou a ver conseguirem meter 60 a 70 bandas a ensaiar e a tocar em ‘open space’. E a maior parte das pessoas usam os mesmos horários, não trocam de manhã e à noite. O grosso é ao final do dia, quando não estudam ou trabalham”, explicou.

Assim, “a não ser que façam divisões e consigam meter 400 pessoas lá dentro”, os dois pisos superiores daquela infraestrutura “não são solução”, mesmo que uma hipótese alternativa não esteja fora de questão.

Como gostavam “de continuar” no Stop, os músicos colocam essa possibilidade à frente de todas as outras, mesmo que possam “não ter outro remédio” senão mudar, se a autarquia “arranjar outro local com condições idênticas”.

“Mas nunca será a mesma coisa do que acontece e se faz aqui. Temos aqui cerca de 500 músicos, se formos transferidos de certeza que isto passa a metade, e não sei como será”, lamentou.

Rui Guerra, também ele músico, apontou que pelo menos 60 bandas não podem “dar 500 ou 700 euros para poder ensaiar e produzir” noutro local.

A associação espera ainda reunir-se com a Câmara do Porto, estando também em contacto com a administração do centro comercial.

As rendas baixas, que tornam o espaço acessível aos artistas, levam, por outro lado, à falta de retorno para os senhorios, e a possibilidade de fechar um espaço de ensaio e gravação musical, associado a muitas bandas da música alternativa na cidade, será “uma perda”.

“É pena desfazer esta comunidade, porque há uma interação entre todos. Enfim, é muito mau para a cultura, para as artes, para todo o sistema, e inclusive para a cidade do Porto”, referiu.

No terreno desde setembro, depois de ser oficializada no verão, a associação representa “cerca de 80 associados”.

"O Stop não pode funcionar como está. Não tem hoje as condições necessárias de segurança e salubridade para poder funcionar. (...) Não vamos assumir a responsabilidade civil e criminal de manter em funcionamento uma coisa que os próprios [músicos] dizem que não pode funcionar", afirmou então Rui Moreira.

Na sequência de uma proposta apresentada pela CDU na reunião do executivo, para que a autarquia ou o Ministério da Cultura tomassem posse administrativa do Stop, o autarca independente adiantou que o projeto de arquitetura foi aprovado a 31 de maio, possuindo a administração do Stop "seis meses para apresentar os projetos de especialidades", ou seja, até 30 de novembro.

De acordo com uma informação partilhada pelo município, o centro comercial Stop não cumpre os requisitos previstos no Regime Jurídico da Segurança contra Incêndios em Edifícios, e regularizar a situação implica “obras com custos significativos”, até aqui considerados incomportáveis, tendo sido proposto à associação e à administração do condomínio a solução do Silo Auto.

Situado na Rua do Heroísmo, o centro comercial Stop funciona há mais de 20 anos como espaço cultural e que diversas frações dos seus pisos são usadas como salas de ensaio ou estúdios por vários artistas, tendo sido casa de criação de alguns projetos marcantes na música nacional, com Manuel Cruz, vocalista dos Ornatos Violeta, à cabeça.