
Sob o título "ENVC (Entre-tanto Nós Vamos Continuar)", o tema foi preparado por AgaH2O e Neno aka Espalha - elementos do Coletivo 258, que já conta com trabalhos editados desde 1998 - e começou hoje a ser difundido nas redes sociais.
"É um trabalho totalmente independente, de produção própria, efetuado em três dias, resultando de uma pesquisa diversificada e procurando abranger os mais variados pontos de discussão, que rondam a questão dos ENVC", explicou João Magalhães (AgaH2O), natural de Viana do Castelo. Acrescentou tratar-se de uma música que resultou de uma "inquietação" que se sente na região, face ao encerramento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
"Era um assunto que me andava a inquietar também. Informei-me, para fazer algo com cabeça, tronco e membros, sobre a importância da empresa para a cidade e para a construção naval", explicou o autor, que habitualmente realiza espetáculos de ‘hip-hop’na região norte.
Entre várias críticas e rimas, o tema alerta nomeadamente para a situação dos trabalhadores dos estaleiros, praticamente parados há cerca de dois anos. "Picar o ponto na prisão, não fazer nada todo o dia", apontam.
Ao longo de seis minutos descrevem a situação da empresa, lamentando, sempre entre rimas, a gestão dos últimos anos, por entre críticas mais acesas à subconcessão ao grupo Martifer, com o consequente encerramento e despedimento dos mais de 600 trabalhadores. "Como é possível, é inadmissível, uma empresa na corda bamba [Martifer] querer por outra a subir de nível", atiram.
João Magalhães, arquiteto de formação e AgaH2O na vida musical, explicou à Lusa que o tema vai ser enviado, em CD, para o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco. "É feita para ele. Espero que ele ouça, porque é uma verdadeira música de consciência", rematou.
O grupo Martifer anunciou que vai assumir em janeiro a subconcessão dos terrenos, infraestruturas e equipamentos dos ENVC, pagando ao Estado uma renda anual de 415 mil euros, até 2031, conforme concurso público internacional que venceu.
A nova empresa West Sea deverá recrutar 400 dos atuais 609 trabalhadores, que estão a ser convidados a aderir a um plano de rescisões amigáveis que vai custar 30,1 milhões de euros.
Esta foi a solução definida pelo Governo português para evitar a devolução de 181 milhões de euros de ajudas públicas não declaradas à Comissão Europeia, atribuídas desde 2006, no âmbito de uma investigação lançada por Bruxelas.
Ao longo de 69 anos de atividade, os ENVC já construíram mais de 220 navios, mas apresentam hoje um passivo superior a 300 milhões de euros.
@Lusa
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