A Lusa convidou os vários artistas para uma espécie de cimeira da paz musical na aldeia alentejana de Porto Covo, mas o iraniano Kayhan Kalhor e o turco Erdal Erzincan declinaram o convite.
Em nome do trio Istiklal, Noa Vax (na foto) não se furtou às perguntas sobre o seu país, as relações com os vizinhos e o futuro da região, num dos dias mais sangrentos desde o início da operação que Israel está a levar a cabo contra o Hamas, organização radical que controla a Faixa de Gaza.
“Gostamos das pessoas [palestinianas], vivemos quase a mesma cultura, ouvimos a mesma música, é mesmo triste ver as notícias e acreditar que este é o nosso país [Israel], a Palestina e a situação agora”, lamentou.
A atual situação “não é bem uma guerra, mas em cada operação como esta há dois lados e, em geral, a maioria das pessoas, senão todas as pessoas que vivem em Israel, sem ser os políticos, ninguém gosta da guerra, ninguém quer fazer parte da guerra”, garante.“Há muitos protestos contra a situação. Isto tem de acabar, com um acordo, a paz, mas os dois lados têm de lhe pôr um fim. As pessoas estão a reagir de alguma forma. Entre as pessoas não há muitos problemas, geralmente são os governos [os responsáveis]”, critica.
Confessando que tinha esperança de que o conflito “já tivesse acabado”, a artista reconhece que “não é, de todo, fácil” viver em Israel. “Por um lado, estamos mais ou menos habituados. Não é novo, tem sido assim há muitos anos, mas acontecia sobretudo no Sul de Israel e agora está em Telavive e todas as cidades”, explica.
Mas isso não lhe retira o otimismo – gerado por seis meses de conversas sobre o conflito, durante o trabalho que faz com uma organização que mistura israelitas e palestinianos. “Há uma oportunidade para um futuro bom, é uma questão de tempo, de que as pessoas percebam que a única forma de acabar com esta situação problemática é conversando uns com os outros e não lutando”, assegura.
“Israel é um país lindo”, porque “multicultural, feito de pessoas que vêm de sítios diferentes”. É essa mistura que o trio Istiklal – inspirado na avenida com o mesmo nome situada em Istambul, na Turquia – procura trazer para a sua música. “A nossa principal influência é a música turca. (...) Sou metade turca. Temos alguns vídeos no YouTube e recebemos muitas respostas de pessoas turcas surpreendidas por verem israelitas tocarem esta música. Estou sempre a dizer que a música é isso, é suposto ligar as pessoas, juntar todos. No Médio Oriente, tocamos os mesmos instrumentos, ouvimos as mesmas coisas”, frisa Noa, que toca percussões.
O trio, que conta ainda Ariel Qassis, no qânun, e Yaniv Taichman, no oud, foi recebido por um público "fantástico” em Porto Covo. “É a nossa primeira vez em Portugal, não sabíamos que tipo de pessoas encontraríamos. Fiquei muito surpreendida e feliz com toda a multidão a aplaudir e a dançar, a comunicar connosco”, descreveu Noa.
@Lusa
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