A noite começou com a atuação dos Cloud Control, uma agradável surpresa vinda da Austrália que, apesar de ainda ser praticamente desconhecida em Portugal, deixou muito boa impressão com os temas dos seus dois álbuns, “Dream Cave” e “Bliss Release”. Algures entre uns Wild Nothing mais festivos e uns Vampire Weekend menos rítmicos, a música dos Cloud Control é preenchida com teclados etéreos e harmonias vocais entre Alister Wright e Heidi Lenffer, guitarrista e teclista, respetivamente. “Scar” e “Dojo Rising” são boas amostras de uma banda que conseguiu agarrar o público e da qual esperamos voltar a ouvir falar brevemente.

O concerto de Local Natives começou de forma surpreendente, com um dos grandes momentos do segundo álbum, “Breakers”, servido de forma intensa e urgente. Não houve tempo para paragens e, logo a seguir, chegaram “World News” e “Wide Eyes”, resgatadas ao primeiro álbum, "Gorilla Mannor". Antes de se atirarem a uma versão de “Warning Sign”, dos Talking Heads, com um belíssimo início a cappella numa harmonia a três vozes, não houve como não reparar na diferença que a percussão faz neste ambiente mais intimista. Esta mesma percussão, aliada às harmonias vocais constantemente presentes, permite que as músicas ganhem uma dimensão e profundidade inesperadas que simplesmente pedem para nos entregarmos e nos deixarmos levar.

De volta a "Hummingbird", somos presenteados com “Ceilings” e “You and I”, dois dos temas mais belos e melancólicos do álbum, interpretados de forma imaculada e acompanhados pelo sing-along do público, que durante todo o concerto não hesitou em cantar e bater palmas, facto que, de resto, não passou ao lado da banda, que até nos chamou de “clappers” tal era a frequência do acto.

Tecendo elogios ao público português e manifestando uma vontade - que nos pareceu sincera - de passar mais tempo entre nós e voltar rapidamente, os Local Natives fizeram seguir o concerto de forma natural, sempre com uma enorme entrega de parte a parte. Mostrando a sua versatilidade, os californianos foram alternando os momentos de acalmia e beleza de “Columbia” ou “Airplanes” com as avalanches rítmicas de “Wooly Mammoth” ou com o nervoso de “Camera Talk”.

Já perto do final do concerto chegaram os melhores momentos da noite. “Who Knows Who Cares” foi a música escolhida para a primeira despedida e, numa versão mais festiva, deixou o TMN ao Vivo num estado de verdadeira euforia, a cantar cada verso como se a sua vida dependesse disso. Assim terminou a primeira parte, com a banda a sair de palco debaixo dos "Oh’s" do último refrão.

Já no encore, a derradeira música foi "Sun Hands", e não há outra maneira de descrever o momento que não seja como simplesmente apoteótico. Mudanças de ritmo, um groove abismal, guitarras a berrar de mãos dadas com uma bateria descomunal, um momento de nervo e de catarse que terminou da melhor forma um óptimo concerto de uma banda que tem um futuro promissor à sua frente e que, cada vez mais, aspira voos para palcos maiores.

Texto: David Silva

Fotografia: Rita Bernardo