"Este evento foi criado para associar o facto de o fado ter ganho a candidatura a Património Imaterial da Humanidade ao Ano Internacional da Solidariedade. Pela primeira vez em Portugal, várias instituições de solidariedade vão estar a trabalhar em conjunto num evento único - com as mais carismáticas a puxar pelas menos conhecidas, as que movimentam mais gente a puxar pelas que movimentam menos", conta ao SAPO Música a organizadora da Grande Gala da Solidariedade, Isabel Salema.

"Resolvi convidar o Salvador Taborda para dar voz a esta ideia e ele aderiu imediatamente. Depois foi um processo curioso porque alterámos as letras do fado - relacionadas com o amor, o ciúme, a inveja... Contatámos as instituições de solidariedade, pedimos para nos enviarem os seus slogans e a partir deles, dos seus valores e conceitos, fizemos poemas que resultaram em onze fados novos: dez associados a causas e um dedicado a todos os artistas portugueses, que vai encerrar a gala", explica a mentora do evento, que criou também as letras destes onze novos fados musicados por João Mário Veiga.

"Uma Pedra no Sapato" (ao vivo no SAPO), fado dedicado à UNICEF:

Para Salvador Taborda, a proposta foi inesperada mas bem-vinda: "Fiquei muito honrado com este convite. Achei muita graça ao desafio de incluir outros tipos de temas no fado, que acho que até hoje nunca ninguém fez. Estas letras, se as lermos e pensarmos bem nelas, falam de coisas que estão sempre relacionadas connosco porque todas estas causas de solidariedade têm alguma coisa a ver com as nossas vidas".

O facto de as letras se centrarem em temas pouco habituais no fado funcionou como um incentivo, mas trouxe também algumas limitações à criação das canções, recorda Isabel Salema: "As causas são muito fiéis aos seus conceitos. Algumas pediram-nos para mudar pormenores das letras que nos mostraram o quão importante é a forma como transmitem a sua mensagem e os seus valores".

Esse esforço, no entanto, acabou por compensar tendo em conta os objetivos da iniciativa, acrescenta a organizadora: "Tivemos muito cuidado com a escrita dos poemas: queríamos alguma liberdade poética, queríamos que as letras encaixassem nas músicas, mas o que queríamos, fundamentalmente, era dar voz às causas. Tivemos de privilegiar o valor da causa em si em detrimento da liberdade de estilo - quer de canto, quer de música, quer de poema -, o que foi um desafio interessantíssimo".

"Antes que Seja Tarde" (ao vivo no SAPO), fado dedicado à Liga Portuguesa Contra o Cancro:

Além de comporem o alinhamento do espetáculo da próxima terça-feira, estes onze novos fados podem ouvir-se num disco "Nome de Causa", conta ainda Isabel Salema: "Temos uma edição em CD para venda no São Jorge. 50% reverte a favor das causas, 50% vai para as despesas de logística porque este é um projeto sem fins lucrativos, mas com despesas".

Depois da Grande Gala da Solidariedade, o destino destas canções são os palcos que as quiserem agarrar. "Para já temos alguns pedidos das próprias causas: uma intervenção no Convento nos Cardaes, outra na Acreditar... e estamos disponíveis, obviamente, para qualquer coisa que surja", sublinha a organizadora da iniciativa.

A Grande Gala da Solidariedade decorre a 27 de março no Cinema São Jorge, em Lisboa, a partir das 21h30, e dedica fados à ACAPO, ACREDITAR, Amnistia Internacional, APAV, Associação Qe - Quinta Essência, Banco Alimentar Contra a Fome, CERCIS, Convento Dos Cardaes, Liga Portuguesa Contra o Cancro e UNICEF.

Os bilhetes estão à venda nas bilheteiras do Cinema São Jorge e também na FNAC e na Ticketline. Mais informações podem ser consultadas na página de Facebook da causa.

"Há Marcas que Ninguém quer Usar" (ao vivo no SAPO), fado dedicado à APAV:

Entrevista @Gonçalo Sá/ Vídeos @Gonçalo Sá e Magda Wallmont