![Fernando Tordo recorda Ary dos Santos em Lisboa, 30 anos depois da morte do poeta](/assets/img/blank.png)
O espetáculo, intitulado “Ary rima com Lisboa”, realiza-se às 18:00 de sábado, no Jardim de Inverno daquele teatro e, além de Fernando Tordo (voz e guitarra), participam a cantora Mitó Mendes, do grupo A Naifa, e João Tordo, escritor, na sua faceta de contrabaixista.
“A noite promete ser uma celebração da amizade, das canções e da cidade de Lisboa, tão bem escrita e musicada pela parceria Ary/Tordo, um dos duos mais produtivos de sempre da história da música portuguesa, com mais de cem poemas transformados em canções”, afirma em comunicado a Câmara de Lisboa.
Fonte da produção do espetáculo afirmou à Lusa que, “ao lado das canções como ‘Tourada’, Fernando Tordo irá interpretar temas menos conhecidos desta parceria, e muitos sobre Lisboa, grande inspiração do poeta”. “Ary dos Santos será dos poetas que mais cantou Lisboa”, rematou a mesma fonte.
Fernando Tordo, de 65 anos, é o intérprete que mais canções de Ary dos Santos cantou, tendo musicado cerca de 100 poemas seus. “Cavalo à solta”, “Laranja amarga e doce”, "Carta de longe" e “Tourada”, com a qual venceu o Festival RTP da Canção de 1973, são algumas das canções de Ary dos Santos que Tordo cantou, assim como “Lisboa, menina e moça”, “Estrela da tarde”, "Balada para os Nossos Filhos" e "O Amigo que eu canto".
O poeta, que foi militante ativo do Partido Comunista Português e criativo de uma agência de publicidade, é também recordado pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), da qual foi cooperador, na sexta-feira, às 18:30, no auditório maestro Frederico de Freitas, na sede da cooperativa, em Lisboa.
Nesta sessão participam o presidente da SPA, José Jorge Letria, que conheceu e foi amigo do poeta, o musicólogo Rúben de Carvalho, seu camarada de partido, e o poeta e cantor José Fanha, que declamará alguns poemas do autor de “Amêndoa amarga”.
José Carlos Pereira Ary dos Santos nasceu em Lisboa, em dezembro de 1937. Publicou os primeiros versos, por intermédio da família aos 14 anos, após a morte da mãe, livro que o autor rejeitou mais tarde, apontando a sua estreia literária em 1954, quando fez parte da Antologia do Prémio Almeida Garrett.
Rompeu com a família e, em 1963, deu à estampa o livro de poemas “A Liturgia do Sangue”. Seis anos mais tarde, em 1969, inscreveu-se no Partido Comunista Português, ainda na clandestinidade, e participou em várias sessões de esclarecimento político e do chamado “Canto Perseguido”, em coletividades e espaços de ocasião.
Tornou-se um nome conhecido do grande público nesse mesmo ano, quando a canção “Desfolhada Portuguesa”, interpretada por Simone de Oliveira, com música de Nuno Nazareth Fernandes e orquestração de Ferrer Trindade, venceu o Festival RTP da Canção, o primeiro transmitido em direto de um teatro, em Lisboa, pela televisão portuguesa.
Declamador de poesia, Ary dos Santos foi colaborador do teatro de revista, onde estreou alguns dos seus êxitos como “Meu corpo”, no Teatro ABC, por Beatriz da Conceição.
Das suas intervenções, ficou famosa a declamação do poema de sua autoria “Poeta castrado”, num palco da revista à portuguesa, e também na televisão.
Como declamador, entre outros, participou num projeto discográfico de cantigas medievais portuguesas com a fadista Amália Rodrigues, a escritora Natália Correia e o músico José Fontes Rocha, e gravou um duplo álbum recitando “O Sermão de Santo António aos Peixes”, do padre António Vieira, por quem tinha “viva admiração”, como afirmou numa entrevista.
Além de Simone de Oliveira e Fernando Tordo, vários foram os nomes da música portuguesa que interpretaram poemas de sua autoria, nomeadamente, Amália Rodrigues, Tonicha, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo e Luísa Basto, entre outros.
O poeta morreu na sua casa, ao castelo, na rua da Saudade, em Lisboa, no dia 18 de janeiro de 1984. Vinte anos depois, a República Portuguesa condecorou-o com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
@Lusa
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