No seu galático historial, houve algumas trocas de membros, com excepção do trio fundador Petrucci-Myung-Portnoy, juntos há 25 anos. Por isso, após a atribulada e mediática substituição de Portnoy por Mangini (com direito a mini-série e tudo), não se tratava apenas de mais um espectáculo; para os fãs, era o teste decisivo da nova simbiose entre o grupo e o recém-chegado baterista.
As coisas não começaram bem: a banda de abertura, o quinteto de Vila Nova de Gaia Forgotten Suns, cancelou o seu espectáculo.
Contudo, não parece ter havido grandes dificuldades, e, com muito pouco atraso dadas as circunstâncias, houve Dream Theater mais cedo que o previsto.
Os conhecedores do género já o sabem: é muito difícil traduzir em texto um espectáculo destes. A complexidade, fluência e o entrosamento entre solos, as mudanças de ritmo, tudo se mistura e a perfeição com que cada tema é executado chega a parecer inconcebível.
Por entre temas instrumentais como The Ytse Jam, visitas ao passado com Peruvian Skies e favoritas do público como Through My Words / Fatal Tragedy (quando milhares de vozes em coro se sobrepuseram a LaBrie) houve um pouco de tudo, do ambient e mais pesado aos espaços para virtuosismo, pelas mãos de Petrucci, Myung e Rudess. E a grande
úvida da noite, o irritante "Será que existe sucessor para Portnoy?" foi dissipada numa performance avassaladora de Mike Mangini (com direito a cinco minutos de solo) levando a multidão a aplausos em pé, numa espécie de gesto de boas-vindas.
A banda trouxe também, claro está, o novíssimo "On The Backs of Angels", uma espécie de single quase-radio-friendly do álbum que dá nome à tour, A Dramatic Turn of Events. Ainda que num registo menos progressivo e complexo, o público correspondeu, e grande parte dos fãs das filas da frente tinha já toda a letra na ponta da língua.
Para terminar o espectáculo, já em fase de encore, houve tema épico: vinte minutos de The Count of Tuscany, num dos picos mais altos da noite. Plateia em pé, numa estrondosa ovação a toda a banda, e, percebeu-se, num "Obrigado por não desistirem".
Em suma, a receita Dream Theater está viva, recomenda-se, e continua inigualável no panorama progressivo actual. Mike Mangini demonstrou não ser um músico qualquer e, para os que duvidavam das capacidades do ex-companheiro de estrada de Steve Vai e seus pares, assistiu-se a uma demonstração mais do que suficiente do que podemos esperar no próximo álbum, agendado para Setembro deste ano.
Setlist:
Under a Glass Moon
These Walls
Forsaken
Endless Sacrifice
Drum Solo
The Ytse Jam
Peruvian Skies
The Great Debate
On the Backs of Angels
Caught In A Web
Through My Words
Fatal Tragedy
Encore:
The Count of Tuscany
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