Djavan Caetano Viana, cantor, compositor, produtor musical e violonista brasileiro fez seu o palco do Coliseu do Porto, na passada quinta-feira. Na plateia, encontravam-se vários fãs seus conterrâneos, a maioria acima dos 30 anos de idade, bem como vários grupos de amigos e casais, que iam preenchendo os lugares, todos eles sentados, enquanto o ambiente ia aquecendo ao som de música brasileira – e aquecer, aqui, não é apenas metafórico, pois eram poucas as garrafas de água gelada que ainda restavam no quiosque da sala de espetáculos.

O concerto atrasou cerca de 25 minutos, mas a espera foi rapidamente esquecida quando, por entre o palco ainda escuro, surgiu a silhueta de Djavan. Momentos antes, já era possível ouvir a sua voz de fundo e ver entrar, um a um, os músicos que o acompanham, entoando Rua dos Amores, canção que dá nome ao mais recente álbum do artista. De casaco branco e tendo como pano de fundo uma espécie de “renda de pedaços de papel” onde eram refletidas imagens, Djavan iniciou o seu repertório cheio de energia e cor. A música de Djavan é conhecida por retratar a riqueza das cores do dia-a-dia – facto é que, ao longo do espetáculo, foram várias as tonalidades que preencheram o palco, desde os tons tórridos da terra, aos mais profundos azuis do oceano.

Fizeram parte do alinhamento Pecado – “Quero ficar pensando/ Quase me abandonando/ Com pouco a me ligar/ A sinais de vida em construção” - e Acelerou – “Quando te vi, aquilo era quase o amor/ Você me acelerou, acelerou, me deixou desigual/ Chegou pra mim, me deu um daqueles sinais/ Depois desacelerou e eu fiquei muito mais”. Entre as duas, o artista brasileiro afirmou sentir um prazer imenso em visitar de novo a cidade invicta, desejando ao público uma noite “feliz, agradável e sensual”, e agradecendo, desde logo, a presença de todos.

Desde as primeiras músicas que a sala de espetáculos se encheu de muito ritmo, sendo impossível para Djavan não dançar de um lado para o outro, interagindo com seus músicos e admiradores. Em Já não somos dois – “Minha doce amada/ Expôs/ Que ela e eu/ Já não somos dois!”-, o artista, rendendo-se ao calor que irrompia pela cidade do Porto, tirou o casaco e muniu-se da sua guitarra elétrica, que rapidamente despoletou o bater de palmas ritmado da plateia. Seguiu-se Asa – “Eu, Ama? Me ama/ Me queima na sua cama/ O veludo da fala/ Disse: Beijo, que é doce” –, música em que a percussão foi protagonista, enquanto Djavan passeava pelo palco, num momento de grande cumplicidade com os seus companheiros. Quando, de seguida, o público reconheceu, nas primeiras notas entoadas, Meu Bem Querer, tema de três telenovelas da Rede Globo – “Coração Alado”, “A Indomada” e “Meu Bem Querer” -, e por isso um dos maiores sucessos da carreira do cantor, o Coliseu jorrou de aplausos, vozes e, sem dúvida, grande emoção. Quando Djavan pediu ao público que o acompanhasse, todos os presentes cantaram de pulmões cheios: “Meu bem querer/ É segredo, é sagrado/ Está sacramentado/ Em meu coração/ Meu bem querer/ Tem um quê de pecado/ Acariciado pela emoção”.

Depois deste momento de grande intensidade e agitação, o artista sugeriu que os presentes se abraçassem, principalmente aqueles que estivessem sozinhos, para dar lugar a uma balada – Vive. E foi enquanto o cantor proferia palavras de amor – “Desencana meu amor/ Tudo seu é muita dor/ Vive…/ Deixa o tempo resolver/ O que tem que acontecer/ Livre!” - que as fãs mais fervorosas não hesitaram em lhe dirigir palavras carinhosas.

A cada música que interpretava, o artista aproveitava para apresentar a banda e felicitar a prestação de cada membro. Pudemos ainda contar com Curumim, Mal de Mim - em que iam passando imagens de um casal de mãos dadas, abraçado e a sorrir, e Anjo de Vitrô. Com as palavras “Agora uma salsa para vocês!” irrompeu, pouco depois, Irmã de Néon em que, mais uma vez, os músicos mostraram o seu mérito. Djavan mostrou-se extremamente descontraído, esgotando-se em prazer de estar no palco perante o público português. Foi então que pegou no “violão” e passou a apresentar Bangalô, num cenário escuro, como se o espetáculo tivesse passado para o exterior do Coliseu, ao relento.

Oceano, outro sucesso de telenovela (“Top Model”, de 1989), invadiu o Coliseu com um azul profundo – “Vem me fazer feliz/ Porque eu te amo/ Você desagua em mim/ E eu oceano/ E esqueço que amar/ É quase uma dor…”. Por momentos, a música cessou e apenas se ouvia a voz de Djavan alternada com a voz dos seus fãs, que eram o foco das luzes e gritavam, por entre a letra da canção, “te amo!”. Foi então que o público se decidiu a assumir, definitivamente, o seu lugar de pé, gerando-se um frenesim geral de risos, sorrisos e partilha.

O cantor apresentou a próxima música, Retrato da Vida, dizendo que era a única deste último álbum que não tinha sido inteiramente criada por si, uma vez que Dominguinhos a tinha composto e lhe tinha pedido que escrevesse a letra. Contou que a tarefa de compor lhe “rendeu uma felicidade imensa” e referiu-se a Dominguinhos como um instrumentista especial, com uma cultura musical impressionante e uma grande sensibilidade, pedindo ao público que o incluísse nas suas orações, uma vez que no momento se encontrava hospitalizado. Foi com a lua como pano de fundo que entoou: “O retrato da minha vida/ É amar em segredo/ Não quer saber de mim/ E eu vivendo da tua vida/ Deus no céu e você aqui”.

Seguiram-se Serrado, Flor de lis, do álbum “A voz e o Violão”, de 1976, que para muitos tornou Djavan numa figura incontornável na história da música brasileira, e Cigano. Samurai surgiu como mais um convite à dança, música durante a qual o artista não resistiu a aproximar-se do público e cumprimentar os que se encontravam mais próximos. Seduzir – “Cantar, é mover o dom/ do fundo de uma paixão/ Seduzir, as pedras, catedrais, coração” – foi a música que fechou o concerto antes do encore.

Como seria previsível, julgando pela boa disposição e envolvimento do público, este não arredou pé até que Djavan tornasse e interpretasse algumas das mais aguardadas músicas da noite: Nem um dia, Se e Sina. Podemos dizer, com certeza, que as duas horas de concerto acabaram num momento de grande euforia, em que todos deixaram o Coliseu cheios de música e saciados de tanto cantar e dançar. Djavan, por sua vez, rodopiava pelo palco, agradecia repetidas vezes e dizia ansiar por voltar – “Adorei esse show! Espero voltar em breve! A cidade é linda! Sensacional!”.

Sara Ralha